FADIGA DA COMPAIXÃO: QUANDO
CUIDAR MACHUCA
Mas afinal o que é fadiga da compaixão?
Para Charles Figley, 1982 a fadiga da compaixão tem
sido descrita como o “custo de cuidar” de outras pessoas em dor emocional.
Estudos comprovam que profissionais que lidam diretamente com
pessoas que passam por profundo sofrimento físico, mental ou emocional, traumas
e desafios como extrema pobreza, vítimas de abusos; acolhem um alto nível de
fadiga da compaixão. Escolher uma profissão que vai cuidar do outro em
sofrimento proporcionando mudanças positivas em suas vidas é apaixonante, mas
pode em algum momento se tornar ilusória, muitas vezes se torna impossível mudar
positivamente a vida dessas pessoas, afetando os cuidadores em tempo integral e
até mesmo aqueles que se oferecem como voluntários. A fadiga da compaixão
também é conhecida como sobrecarga da empatia, estresse secundário ou trauma
vicário.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHBuP-KJx2iwbfjh7oUljkYI7O9KlMJYS_7aRidAw-9qjQ7K6lMlg_fm1UPQKpxgYDNiLV1wl1v-MdIg5olUv_RfBYT7_2I9iiXLAB0RMaeyrU9l356VSYaaH3GuZ5Vha-sSvap-q_hnM/s200/fadiga+7.png)
Porque cuidar do outro exige que o profissional esteja com seu
coração e mente abertos e receptivos ao sofrimento alheio e, por mais compassivo
e empático que seja ele passa pela vulnerabilidade de ser afetado
profundamente, e este impacto pode afetar tanto a qualidade do trabalho como a
vida pessoal.
A fadiga da compaixão também conhecida como estresse
secundário tem tratamento se reconhecida e cuidada desde cedo. É muito
importante ter consciência do processo pelo qual se está passando. É comum o
cuidador ficar revivendo os traumas e as situações dolorosas que vivencia e que
podem se tornar obstáculos para uma profissão realizada e também para um estilo
de vida saudável e feliz.
O profissional precisa reconhecer as causas e os sintomas que
levaram à fadiga da compaixão, muitos sintomas são perturbadores e depressivos e
incluem:
·
Colocar
a culpa no outro de forma excessiva ou sentir-se culpado por não aliviar o
sofrimento alheio;
·
Guardar
as emoções e sentimentos;
·
Isolamento
ou solidão;
·
Não
saber lidar com reclamações de outras pessoas;
·
Dificuldade
de lidar com as pressões das funções administrativas;
·
Fazer
uso de substâncias para mascarar sentimentos ou esgotamento físico;
·
Desenvolver
comportamentos e hábitos nocivos como gastos excessivos ou vícios;
·
Evitar
o autocuidado (até mesmo na aparência ou higiene);
·
Insônia;
·
Mudanças
de humor;
·
Dificuldades
de se desligar do trabalho,
·
Mudanças
de sentimentos em relação aos clientes/pacientes,
·
Sono
perturbador com pesadelos e flashbacks de eventos traumáticos;
·
Desenvolver
doenças físicas crônicas que vão desde dores crônicas sem causa aparente,
problemas gastrointestinais e gripes recorrentes entre outros;
·
Apatia,
tristeza, falta de concentração, impaciência e intolerância;
·
Cansaço
mental e físico;
·
Pensamentos
suicidas, depressão/ansiedade ou outros transtornos emocionais;
·
Excesso
de preocupação e desânimo;
·
Desesperança,
cinismo, exaustão e irritabilidade
·
Negação
das dificuldades e violação dos limites.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVpH0QH1c68RP208cVNwaIb0-qVVnTNKYchOn4sNd_ZLrlqvNGtNlbNewtcGMgucJpLFnSY_7vGdKyeZcGzC9eGd5l-ZfC51bHAblDj-apadw8QlMSyOqwGeNFno1mUoxw8eJKJMLoyeU/s320/ansiedade+1.jpg)
Como consequência quando o cuidador atinge o nível máximo de
fadiga da compaixão o próprio ambiente de trabalho é afetado assim como a
organização tanto em termos financeiros como os demais trabalhadores do local
também o são. Assim não é somente o profissional que precisa de cuidados, mas
também o ambiente de trabalho e demais funcionários. O desgaste na organização
pode ser sentido das seguintes formas:
·
Alto
absenteísmo;
·
Mudanças
constantes na qualidade de relacionamento entre os membros das equipes;
·
Incapacidade
de melhora na qualidade do atendimento oferecido;
·
Desvalorização
das regras da empresa;
·
Aumento
no índice de agressividade entre os funcionários;
·
Baixo
nível de bem-estar e felicidade no trabalho;
·
Dificuldades
em concluir atividades e projetos ou, cumprir prazos;
·
Falta
de flexibilidade entre os funcionários;
·
Negativismo
em relação à gestão administrativa;
·
Baixa
interesse na busca de transformação;
·
Falta
de credibilidade dos funcionários em relação às mudanças;
·
Falta
de visão de futuro.
Por isso cabe também à empresa oferecer ambientes de trabalho
onde se leva em conta o cuidar do cuidador, promovendo condições de trabalho
que vão além dos requisitos legais. Ser uma empresa/organização saudável
significa entre outras coisas:
· Oferecer treinamentos, cursos,
palestras instrutivas e motivadoras,
· Valorizar o profissional com flexibilidade
e suporte, avaliações regulares da carga de trabalho, conhecer e reduzir a
exposição a traumas;
· Ter lideres servidores e conscientes
que incentivam a equipe e fornecem supervisão oportuna e de boa qualidade, para
que o bem-estar e a felicidade sejam levados sempre em consideração;
· Permitir que os funcionários tenham
controle sobre a sua programação de atividades para que possam ter maior
satisfação no trabalho, principalmente quando o cuidador está diretamente
ligado a sofrimentos traumáticos;
· Oferecer um forte apoio social, tendo
todo o cuidado para que o funcionário não se sinta responsabilizado pelo seu
esgotamento emocional.
· Ter especialistas em Fadiga da
compaixão que desenvolvam um plano de ação e que possa oferecer ajuda
terapêutica, treinamentos, escuta atenta e outras oportunidades para o cuidador
lidar com os sintomas.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnf_UpTBH52D4mLIswGOk6wQvdc0TiAJXlbUM71CPRdbsP52zOpBPXy_GBKz0tLwWg-dvc4HaxdTk9f1wHZ2dHM1L-DG4-RE31nbDr92HJVPW_1gjNsdbCPCkSHVZ3U2nsnGXAyyNXYuw/s320/aceita%25C3%25A7%25C3%25A3o+5.jpg)
É importante reconhecer que existe um caminho para
conciliar as atividades profissionais com o próprio bem-estar e felicidade. Começando
por não ignorar a saúde emocional e mental. A cura é possível se incluir além
do tratamento terapêutico que permite a compreensão da complexidade das emoções
que muitas vezes estão sendo suprimidas até a inclusão de pequenas praticas diárias
na vida cotidiana tais como:
·
Exercícios
físicos, Yoga, massagens e práticas de meditação
·
Participar
de treinamentos da mente como os programas de Mindfulness ou de autocompaixão;
·
Hábitos
saudáveis de alimentação além de beber muita agua;
·
Participar
de retiros, passeios ao ar livre e curas naturais como banhos de imersão;
·
Aprender
a dizer “Não”;
·
Participar
de grupos de apoio, de autoestima, de estudos ou mesmo de espiritualidade;
·
Ter
uma vida mais planejada e organizada
·
Aprender
a responder em vez de reagir;
·
Fazer
terapia e aprender a fazer suas escolhas, conhecer e expressas seus
sentimentos;
·
Sono
tranquilo e reparador,
·
Conversa
terapêutica;
·
Aprender
a delegar responsabilidades;
·
Pedir
ajuda;
·
Atividades
sociais;
·
Práticas
de meditação ou contemplação,
·
Ter
um hobby, dançar, cantar, fazer diferentes formas de expressão artística.
·
Ter
uma vida mais equilibrada.
Não é um processo magico, envolve tempo, compromisso e
perseverança para que a qualidade de vida e bem-estar possam serem sentidas sem
precisar abandonar a carreira a qual se propôs.
Quando falamos da importância do autocuidado estamos nos
referindo a:
·
Ser
auto compassivo – reconhecendo seu próprio sofrimento e sendo gentil consigo
mesmo;
·
Buscar
mais informações sobre a fadiga da compaixão;
·
Expandir
sua consciência sobre seus próprios limites e conhecimentos;
·
Compreender
que as outras pessoas estão vivendo suas próprias experiências;
·
Desenvolver
a escuta atenta compassiva e empática com as pessoas que estão sofrendo;
·
Compreender
o que funciona e o que não funciona para você;
·
Aprender
a se comunicar claramente, enfatizando suas próprias necessidades e
sentimentos;
·
Buscar
atitudes positivas para mudar o ambiente.
O autocuidado deve ser verdadeiro, perseverante no esforço
correto e na dedicação, compreendendo que não se está sozinho, e existem
especialistas que têm recursos técnicos, ferramentas de treinamento e
orientação emocional e mental.
O processo de cura começa quando o cuidador faz um profundo
trabalho interior, deixando de lado a culpa, a vergonha e a vulnerabilidade
para poder estabelecer com clareza mental e discernimento os seus limites
pessoais e profissionais, compreendendo a verdadeira natureza de seu próprio sofrimento,
os comportamentos negativos que surgiram, denominar as emoções e sentimentos e
as necessidades decorrentes. É um trabalho interno de autoconhecimento que cura
e liberta, promove transformação no mundo interior e na forma como lidamos com
as dificuldades do mundo exterior, os benefícios começam a ser colhidos com o
tempo, o bem-estar e a qualidade de vida podem ser percebidos.
Sonia A F Santos
Ser Atento Mindfulness Brasil
Palestrante, Terapeuta e Instrutora de Mindfulness e
Compaixão
Terapeuta com Foco em Compaixão
Mestranda em Mindfulness e Compaixão para cuidar do cuidador
em Oncologia
Contato:
e-mail: seratento.2016@gmail.com
whatsapp: 11 99463 5825
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