sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

FADIGA DA COMPAIXÃO: QUANDO CUIDAR MACHUCA





FADIGA DA COMPAIXÃO: QUANDO CUIDAR MACHUCA
Mas afinal o que é fadiga da compaixão?
Para Charles Figley, 1982 a fadiga da compaixão tem sido descrita como o “custo de cuidar” de outras pessoas em dor emocional.
Estudos comprovam que profissionais que lidam diretamente com pessoas que passam por profundo sofrimento físico, mental ou emocional, traumas e desafios como extrema pobreza, vítimas de abusos; acolhem um alto nível de fadiga da compaixão. Escolher uma profissão que vai cuidar do outro em sofrimento proporcionando mudanças positivas em suas vidas é apaixonante, mas pode em algum momento se tornar ilusória, muitas vezes se torna impossível mudar positivamente a vida dessas pessoas, afetando os cuidadores em tempo integral e até mesmo aqueles que se oferecem como voluntários. A fadiga da compaixão também é conhecida como sobrecarga da empatia, estresse secundário ou trauma vicário.
Pessoas que desde cedo decidem por uma profissão de cuidar do outro (médicos, enfermeiros, paramédicos, trabalhadores do setor de emergência, trabalhadores dos serviços de proteção à criança, intensivistas, assistentes sociais, bombeiros, policiais, cuidadores integrativos/paliativos entre outros) com compaixão e bondade amorosa muitas vezes desconhecem o que realmente significa acompanhar o intenso sofrimento diariamente e colocam as necessidades alheias na frente de suas próprias necessidades, deixando ausentes o autocuidado autêntico. 
Porque cuidar do outro exige que o profissional esteja com seu coração e mente abertos e receptivos ao sofrimento alheio e, por mais compassivo e empático que seja ele passa pela vulnerabilidade de ser afetado profundamente, e este impacto pode afetar tanto a qualidade do trabalho como a vida pessoal.
A fadiga da compaixão também conhecida como estresse secundário tem tratamento se reconhecida e cuidada desde cedo. É muito importante ter consciência do processo pelo qual se está passando. É comum o cuidador ficar revivendo os traumas e as situações dolorosas que vivencia e que podem se tornar obstáculos para uma profissão realizada e também para um estilo de vida saudável e feliz.
O profissional precisa reconhecer as causas e os sintomas que levaram à fadiga da compaixão, muitos sintomas são perturbadores e depressivos e incluem:
·          Colocar a culpa no outro de forma excessiva ou sentir-se culpado por não aliviar o sofrimento alheio;
·          Guardar as emoções e sentimentos;
·          Isolamento ou solidão;
·          Não saber lidar com reclamações de outras pessoas;
·          Dificuldade de lidar com as pressões das funções administrativas;
·          Fazer uso de substâncias para mascarar sentimentos ou esgotamento físico;
·          Desenvolver comportamentos e hábitos nocivos como gastos excessivos ou vícios;
·          Evitar o autocuidado (até mesmo na aparência ou higiene);
·          Insônia;
·          Mudanças de humor;
·          Dificuldades de se desligar do trabalho,
·          Mudanças de sentimentos em relação aos clientes/pacientes,
·          Sono perturbador com pesadelos e flashbacks de eventos traumáticos;
·          Desenvolver doenças físicas crônicas que vão desde dores crônicas sem causa aparente, problemas gastrointestinais e gripes recorrentes entre outros;
·          Apatia, tristeza, falta de concentração, impaciência e intolerância;
·          Cansaço mental e físico;
·          Pensamentos suicidas, depressão/ansiedade ou outros transtornos emocionais;
·          Excesso de preocupação e desânimo;
·          Desesperança, cinismo, exaustão e irritabilidade
·          Negação das dificuldades e violação dos limites.
Obviamente que as circunstâncias de vida, a história pessoal do cuidador, sua maneira de enfrentamento das dificuldades, tipo de personalidade podem impactar de formas diferentes a fadiga da compaixão e devem ser consideradas no processo do set terapêutico, pois o cuidador não está imune à dor de suas próprias vidas.
Como consequência quando o cuidador atinge o nível máximo de fadiga da compaixão o próprio ambiente de trabalho é afetado assim como a organização tanto em termos financeiros como os demais trabalhadores do local também o são. Assim não é somente o profissional que precisa de cuidados, mas também o ambiente de trabalho e demais funcionários. O desgaste na organização pode ser sentido das seguintes formas:
·        Alto absenteísmo;
·        Mudanças constantes na qualidade de relacionamento entre os membros das equipes;
·        Incapacidade de melhora na qualidade do atendimento oferecido;
·        Desvalorização das regras da empresa;
·        Aumento no índice de agressividade entre os funcionários;
·        Baixo nível de bem-estar e felicidade no trabalho;
·        Dificuldades em concluir atividades e projetos ou, cumprir prazos;
·        Falta de flexibilidade entre os funcionários;
·        Negativismo em relação à gestão administrativa;
·        Baixa interesse na busca de transformação;
·        Falta de credibilidade dos funcionários em relação às mudanças;
·        Falta de visão de futuro.
Por isso cabe também à empresa oferecer ambientes de trabalho onde se leva em conta o cuidar do cuidador, promovendo condições de trabalho que vão além dos requisitos legais. Ser uma empresa/organização saudável significa entre outras coisas:
·     Oferecer treinamentos, cursos, palestras instrutivas e motivadoras,
·     Valorizar o profissional com flexibilidade e suporte, avaliações regulares da carga de trabalho, conhecer e reduzir a exposição a traumas;
·     Ter lideres servidores e conscientes que incentivam a equipe e fornecem supervisão oportuna e de boa qualidade, para que o bem-estar e a felicidade sejam levados sempre em consideração;
·     Permitir que os funcionários tenham controle sobre a sua programação de atividades para que possam ter maior satisfação no trabalho, principalmente quando o cuidador está diretamente ligado a sofrimentos traumáticos;
·     Oferecer um forte apoio social, tendo todo o cuidado para que o funcionário não se sinta responsabilizado pelo seu esgotamento emocional.
·     Ter especialistas em Fadiga da compaixão que desenvolvam um plano de ação e que possa oferecer ajuda terapêutica, treinamentos, escuta atenta e outras oportunidades para o cuidador lidar com os sintomas.




É muito importante reconhecer os sintomas da fadiga da compaixão, e ao tomar consciência dos sintomas deve-se enfrentar os traumas, eventos negativos, as emoções destrutivas, os sentimentos de impotência e os comportamentos nocivos. 

É importante reconhecer que existe um caminho para conciliar as atividades profissionais com o próprio bem-estar e felicidade. Começando por não ignorar a saúde emocional e mental. A cura é possível se incluir além do tratamento terapêutico que permite a compreensão da complexidade das emoções que muitas vezes estão sendo suprimidas até a inclusão de pequenas praticas diárias na vida cotidiana tais como:
·        Exercícios físicos, Yoga, massagens e práticas de meditação
·        Participar de treinamentos da mente como os programas de Mindfulness ou de autocompaixão;
·        Hábitos saudáveis de alimentação além de beber muita agua;
·        Participar de retiros, passeios ao ar livre e curas naturais como banhos de imersão;
·        Aprender a dizer “Não”;
·        Participar de grupos de apoio, de autoestima, de estudos ou mesmo de espiritualidade;
·        Ter uma vida mais planejada e organizada
·        Aprender a responder em vez de reagir;
·        Fazer terapia e aprender a fazer suas escolhas, conhecer e expressas seus sentimentos;
·        Sono tranquilo e reparador,
·        Conversa terapêutica;
·        Aprender a delegar responsabilidades;
·        Pedir ajuda;
·        Atividades sociais;
·        Práticas de meditação ou contemplação,
·        Ter um hobby, dançar, cantar, fazer diferentes formas de expressão artística.
·        Ter uma vida mais equilibrada.
Não é um processo magico, envolve tempo, compromisso e perseverança para que a qualidade de vida e bem-estar possam serem sentidas sem precisar abandonar a carreira a qual se propôs.
Quando falamos da importância do autocuidado estamos nos referindo a:
·        Ser auto compassivo – reconhecendo seu próprio sofrimento e sendo gentil consigo mesmo;
·        Buscar mais informações sobre a fadiga da compaixão;
·        Expandir sua consciência sobre seus próprios limites e conhecimentos;
·        Compreender que as outras pessoas estão vivendo suas próprias experiências;
·        Desenvolver a escuta atenta compassiva e empática com as pessoas que estão sofrendo;
·        Compreender o que funciona e o que não funciona para você;
·        Aprender a se comunicar claramente, enfatizando suas próprias necessidades e sentimentos;
·        Buscar atitudes positivas para mudar o ambiente.
O autocuidado deve ser verdadeiro, perseverante no esforço correto e na dedicação, compreendendo que não se está sozinho, e existem especialistas que têm recursos técnicos, ferramentas de treinamento e orientação emocional e mental.
O processo de cura começa quando o cuidador faz um profundo trabalho interior, deixando de lado a culpa, a vergonha e a vulnerabilidade para poder estabelecer com clareza mental e discernimento os seus limites pessoais e profissionais, compreendendo a verdadeira natureza de seu próprio sofrimento, os comportamentos negativos que surgiram, denominar as emoções e sentimentos e as necessidades decorrentes. É um trabalho interno de autoconhecimento que cura e liberta, promove transformação no mundo interior e na forma como lidamos com as dificuldades do mundo exterior, os benefícios começam a ser colhidos com o tempo, o bem-estar e a qualidade de vida podem ser percebidos.

Sonia A F Santos
Ser Atento Mindfulness Brasil
Palestrante, Terapeuta e Instrutora de Mindfulness e Compaixão
Terapeuta com Foco em Compaixão
Mestranda em Mindfulness e Compaixão para cuidar do cuidador em Oncologia
Contato:
whatsapp: 11 99463 5825

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