terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Psicoterapia Contemplativa - Benefícios

Imagem: Nolan Pelletier


BENEFÍCIOS DA PSICOTERAPIA CONTEMPLATIVA

A Psicoterapia Contemplativa é recente no Ocidente, mas tem origem secular budista (Budismo Tibetano Vajrayana), já reconhecida e amplamente pesquisada em centros universitários americanos com enormes benefícios para a saúde mental, depois dela já surgiram técnicas como a Terapia da Auto Compaixão de K Neff e a Terapia Focada na Compaixão de Paul Gilbert. O processo terapêutico começa com o reconhecimento da sanidade básica do paciente e não com os seus dilemas e neuroses.

Meu desejo com este texto é abordar alguns dos princípios fundamentais da psicoterapia contemplativa, de modo a poder dirimir dúvidas e esclarecer aspectos poucos conhecidos desta técnica terapêutica que surgiu assim como outras da Psicologia Budista ou Psicologia do Autoconhecimento.

Um dos aspectos importantes da Psicoterapia Contemplativa é que todos os seres, independente das circunstâncias que estão vivendo no momento são fundamentalmente saudáveis. E na Psicologia Budista esta sanidade fundamental é conhecida como natureza búdica ou bondade básica; na Universidade de Naropa é chamada de sanidade brilhante. Quando reconhecemos que nosso cliente tem dentro de si mesmo uma sanidade brilhante ou uma natureza búdica estamos basicamente trabalhando a partir de uma premissa otimista que aponta para uma visão de que todo ser humano tem a capacidade de desenvolver a clareza mental, compaixão, empatia, atenção plena e consciência.

Partimos do princípio que todo ser já tem dentro de si os componentes necessários para encontrar o caminho que irá leva-lo à cura ou aceitação de seus dilemas com a felicidade genuína – ser feliz apesar das circunstâncias, isto não significa negar ou encobrir o sofrimento, reconhecemos o sofrimento que pode ser observado em nosso mundo, os conflitos, as doenças, a violência e todas as dificuldades e obstáculos que existem em toda parte, mas podemos compreender o nosso sofrimento e o quanto o sofrimento dos outros também nos fazem sofrer, mantendo a sanidade básica e a qualidade de presença que nos mantêm conectados com a felicidade. Portanto cabe ao terapeuta ajudar seu cliente a se reconectar com a sua sabedoria e compaixão internas e usá-las para desenvolver a autoconfiança em nome de sua própria sanidade e compaixão inerentes.

Estamos sempre olhando para o sofrimento e assim perdemos o contato com a nossa própria sanidade, mas podemos perceber que ela está lá quando nos momentos de alegria, bondade, ternura, gentileza, surpresas, experiências enriquecedoras e intensas que superam o medo e as nossas vulnerabilidades, ou mesmo quando vivemos momentos de tristezas, luto ou pesar e sabemos internamente o que devemos fazer. São nestes momentos que temos a clareza mental e o coração aberto que caracterizam a sanidade brilhante. Também nestes momentos percebemos que estamos plenamente conectados com o momento presente, atentos e focados mesmo que seja por minutos.

O terapeuta contemplativo busca recordar no seu cliente a sua sanidade brilhante com perguntas como: “Como sente seu corpo neste momento presente?”, “Como se percebe por dentro ao falar sobre a experiência?”, “Ao observar o ambiente ao seu redor, como você se sente, o que vê e ouve?”. Técnicas como o Body Scan ajudam o cliente a compreender o que seu corpo esconde de informações, e a reconectar mente e corpo de forma a reconhecer e nomear sentimentos e emoções para então regulá-las. O terapeuta contemplativo ajuda o cliente a ver seus hábitos neuróticos e não ser arrastado por eles.
No set terapêutico também valorizamos as histórias, pensamentos e sentimentos vivenciados pelo cliente no passado, não de forma a virar uma conversa intelectual, buscando vítimas e culpados, mas para compreender como o que aconteceu no passado ainda influencia o presente, e não pela curiosidade pelo passado.

O “ego” na Psicologia Budista

Outro aspecto importante para compreender é porque perdemos contato com a nossa sanidade fundamental? A Psicologia Budista (dentro dos ensinamentos de Budha há uma psicologia profunda e treinamentos da mente que podem ser aplicados para qualquer pessoa independente de sua crença religiosa/espiritual e que nada tem a ver com a religião budista) ensina que acreditamos erroneamente em algum tipo de identidade fixa e independente dentro de nós.  Esta identidade tem um senso de urgência, a capacidade de usar a lógica e reconhecer a sua própria experiência, aspectos que por si só não seriam um problema, mas, o que na verdade se torna um problema é o fato de que esta identidade se apega a si mesmo, vê-se como fixa, permanente, separada, única. Para esta identidade a Psicologia Budista usa a palavra “ego”, porém os ensinamentos da Psicologia Budista revelam que esta identidade não existe de fato, e quanto mais a valorizamos e tentamos mantê-la, mais fracassamos e sofremos, porque nada é permanente, tudo muda a todo instante, nada se repete. A vida é fluxo constante para frente, não retorna e não se fixa em uma única experiência.

O cliente aprende então a interromper sua luta constante para manter esta identidade fixa, com ferramentas como a criatividade, flexibilidade, receptividade, bondade, gentileza, autocompaixão a cada experiência da vida, desenvolvendo a sabedoria, compaixão e empatia inerentes a todo ser. E isso não é matar o ego, porque não tem como matar o que de fato não temos, já que do ponto de vista da Psicoterapia Contemplativa nunca tivemos esta identidade  tão fixa e imutável, o que temos são crenças equivocadas a seu respeito.

Interação terapeuta e cliente

A interação entre terapeuta e cliente no set terapêutico é constante, o terapeuta também pode perceber sinais em si mesmo do que o cliente está falando, inclusive as emoções, por isso também cabe ao terapeuta desenvolver a sabedoria e a compaixão por si mesmo e pelo outro.  Ao compreender isso o cliente entende que a troca é comum em todo tipo de relacionamento, muitas vezes o que estamos sentindo de fato não é nosso, mas fruto do intercâmbio entre as pessoas que estão vivendo a mesma experiência. Por exemplo, se estou em um ambiente onde as pessoas são muito ansiosas, embora eu não sofra ou tenha um baixo nível de ansiedade posso sentir – me extremamente ansioso também e passar a acreditar que sofro de ansiedade em alto nível. O terapeuta contemplativo também deve valorizar a troca, deve desenvolver em si mesmo a atenção plena, a autocompaixão, a bondade amorosa, a gentileza e a empatia porque isso permitirá que o cliente também experimente essas qualidades e habilidades.

O Terapeuta Contemplativo deve então buscar desenvolver a qualidade de presença, curiosidade, compaixão e bondade amorosa sem críticas e julgamentos. A prática contínua da meditação, expansão da sua consciência, aprendendo a abandonar pensamentos conflitantes ou ruminantes e buscando o autoconhecimento; lembrando que o seu cliente estará absorvendo sua experiência de troca no set terapêutico são de extrema importância. Terapeutas que praticam persistentemente a meditação Mindfulness e as técnicas de autocompaixão têm menor probabilidade de confundir seus próprios dilemas e sofrimentos com os de seus clientes, conseguem reconhecer e lidar com o que está absorvendo de suas experiências, sabe a diferença entre ter uma experiência direta e pensar em estar vivendo uma experiência, não se apega a uma identidade fixa sobre si mesmo como sendo melhor do que de seu cliente, mantêm uma amizade sincera consigo mesmo e incentiva a criação desta amizade no seu cliente para consigo mesmo.

A Verdade do Sofrimento

O Budismo ensina muito sobre a verdade do sofrimento. Budha ensinou que sofremos simplesmente por estarmos vivos, mas ele também ensinou que adicionamos sofrimentos desnecessários quando nos apegamos ao que nem existe, nossa identidade, bens materiais ou situações que acreditamos que nos farão felizes em algum momento.

Em outros ensinamentos aprendemos que existe o sofrimento inevitável de estarmos vivos (nascer, envelhecer, ficarmos doentes, luto e morte), e também ensina que ao longo da vida acrescentamos sofrimentos desnecessários – porque desesperadamente tentamos escapar do sofrimento inevitável, negamos a verdadeira natureza da realidade, nos apegamos às ilusões criadas por nossa mente e rejeitamos arduamente o que não queremos. A Psicologia Budista não é de forma alguma negativista, ela nos faz enxergar a dor do inevitável, a respondermos em vez de reagirmos, a não nos culparmos pela dor do inevitável e não nos julgarmos veementemente.

O cliente então pode olhar para o que lhe causa o sofrimento, a origem da dor de forma responsável e quais são os caminhos da cessação deste sofrimento desnecessário, desfazendo crenças e comportamentos nocivos, aplicando os antídotos para as emoções venenosas, respondendo às situações com ética e discernimento, em suma recuperando o domínio sobre a compaixão e a sabedoria inerentes – sua sanidade básica.

Algumas técnicas utilizadas no set terapêutico incluem a atenção plena (Mindfulness), a expansão ou desenvolvimento da consciência, a bondade amorosa e a gentileza. São práticas importantes para diminuir ou curar o sofrimento desnecessário em todas as áreas da vida. Desenvolver a atenção plena significa desenvolver a qualidade de presença no momento presente, sem críticas ou julgamento, aceitando os detalhes da experiência vivida, diminuir ou conter a valorização dos pensamentos e observar e controlar as emoções destrutivas. Quando aprendemos a importância da atenção plena, desenvolvemos a nossa consciência, e com ela vem junto a clareza mental, uma visão mais ampla dos aspectos da experiência. Para isso o terapeuta usa perguntas como: “de que outra forma você pode olhar para esta situação?”. A abordagem do problema sobre perspectivas diferentes libera o desenvolvimento da inteligência emocional e da criatividade, muitas vezes até libera o humor contido dentro da angustia e tristeza.

Outra técnica importante é a bondade amorosa, a bondade incondicional que podemos ter com todos os aspectos da vida. Isto significa olhar para a raiva, o ódio, intolerância, impaciência, autoagressão, vitimização etc. que só fazem aumentar o sofrimento desnecessário. É um convite para abrir o coração, ampliar os pontos de vista, aumentar a curiosidade e melhorar a qualidade da conexão humana nos diferentes relacionamentos.

Cabe ao terapeuta contemplativo reconhecer que a sanidade básica pode estar escondida ou mascarada dentro da profusão de emoções conflitantes. Todas as emoções, sejam elas positivas ou negativas contêm uma sabedoria inerente, por isso a Psicologia Budista tem antídotos para cada emoção destrutiva ou venenosa, cabe ao terapeuta explorá-las, ajudar o cliente a nomeá-las e aplicar os antídotos, em vez de reprimi-las, ignorá-las ou tentar se livrar delas. Atualmente sabemos que as emoções reprimidas podem causar muitos danos à saúde física e mental. Assim, em vez de fugir ou negar as emoções venenosas, precisamos reconhece-las e nomeá-las, ter curiosidade sobre o que sentimos, derramar lágrimas, perceber a raiva e a agressividade chegando com atenção plena e autocompaixão, sentindo plenamente e percebendo as nossas reações automáticas.

A importância da fusão entre o conhecimento da Psicologia Ocidental com a Psicologia Budista, entre mente e ciência – tem possibilitado uma visão mais ampla e significativa do conhecimento sobre a mente humana. A Psicoterapia Contemplativa integra um treinamento profundo em psicoterapia, atenção ao terapeuta, ao cliente e também aos ensinamentos das escolas budistas e principalmente ao Budismo Tibetano. 

A Psicoterapia Contemplativa é um curso de graduação na Universidade de Naropa e também na Universidade de Emory e contextualiza seus conceitos e práticas principais com relação aos fatores terapêuticos comuns, as estruturas budistas tibetanas, teorias de patologia e intervenções que caracterizam a Psicoterapia Contemplativa, tendo como fundamentações básicas a Mindfulness e a Compaixão do clinico. Atualmente a medicina reconhece o potencial de aprimorar os fatores comuns e os resultados terapêuticos das disciplinas que trabalham em set terapêutico. Muito ainda há para ser explorado nas práticas de desenvolvimento da atenção plena, da compaixão e da autocompaixão, bondade amorosa e gentileza. A Neurociência já descobriu a influência do estado de felicidade e emoções positivas no cérebro, apontando inclusive as áreas do cérebro envolvida com a felicidade. Budha já ensinava sobre a importância de aplicarmos os antídotos emocionais no tratamento das emoções destrutivas. Porque não investigar, explorar mais e ampliar o campo de cura levando em consideração os componentes que promovem a felicidade e o bem-estar.

Sonia A F Santos (Tsuldrin Dechen) – Psicoterapeuta Contemplativa. Estuda e ensina filosofia e psicologia budista. Aluna e discípula de Geshe Ngawang Phende Phd e Professor de Psicologia Budista da Universidade de Emory em Atlanta. Palestrante, Instrutora e Terapeuta em Mindfulness e Compaixão. Mestranda em Mindfulness e Compaixão aplicado a equipe multidisciplinar em Oncologia. Atende com hora marcada em consultório próprio.


Referencias:
·        Contemplative Psychotherapy Essentials – Karem Kissel Wegela
·        Reducing Suffering – Geshe Ngawang Phende
·        Resgate Emocional – Dzogchen Ponlop
·        Muito Além do Divã Ocidental – Chogyam Trugpa
·        Mindfulness e Psicoterapia – C. Germer e Ronald Siegel
·        Pensamentos sem pensador – Mark Epstein
·        Why Buddism is True – Robert Wright

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Kindfulness



KINDFULNESS – Atenção Plena (Mindfulness) + BondadeAmorosa (Kindness)

Três coisas na vida humana são importantes. O primeiro é ser gentil. O segundo é ser gentil. O terceiro é ser gentil.
Henry James

O entendimento da importância da meditação nas nossas vidas está sendo dia a dia mais evidenciado pela ciência, que com suas pesquisas em várias áreas vem demonstrando os múltiplos benefícios independente das crenças religiosas ou espirituais, profissão, sexo e até mesmo a idade do praticante, pois sabemos que mesmo as crianças podem se beneficiar com as práticas meditativas.

Mindfulness ou atenção plena é uma das muitas práticas de meditação que existem, ela tem origem secular budista e é uma das primeiras técnicas ensinadas aos leigos e noviços para o treinamento da mente na atenção plena, foco e concentração para poderem aprender as técnicas mais complexas dentro do contexto budista posteriormente. Porém como ela não envolve diretamente a necessidade de ser budista para poder ser praticada, não requer conhecimento da filosofia e psicologia contemplativa, nem ambiente ou vestuário ou altar ou qualquer outro fator a não ser a disposição e determinação em fazê-la, se tornou uma técnica de interesse pela ciência. E desde 1970 através dos estudos de Jon Kabat Zinn a ciência vem mostrando a relevância da pratica de forma diária e persistente.

A pratica da Mindfulness é evolutiva, e a pratica seguinte e praticamente uma consequência é a meditação chamada de Metta Bhavana que em sânscrito quer – bondade amorosa ou loving kindness. Uma meditação compassiva que atualmente é fonte de muitos estudos e que deu origem ao desenvolvimento de técnicas psicoterapêuticas como a Terapia da Autocompaixão (Self Compassion Therapy de Kirsten Neff e Christopher Germer) e a Terapia Focada na Compaixão (Compassion Focus Therapy de Paul Gilbert). Ambas são técnicas utilizadas na Ser Atento Mindfulness Brasil.

A união destas duas técnicas meditativas tão importantes (Mindfulness + Loving Kindness + = Kindfulness) aumenta ainda mais os benefícios que o praticante pode obter. E em primeiro lugar está um aprendizado significativo – Ser gentil consigo mesmo. Consequentemente percebemos uma transformação nas nossas vidas através do desenvolvimento da gentileza:

·        Permite o cultivo da alegria, clareza mental e resiliência emocional;
·        Reduz o sofrimento e permite uma maior compreensão de sua origem e condições;
·        Começo da construção da felicidade genuína – uma mente mais feliz e resiliente apesar das circunstâncias;
·        Criação de relacionamentos mais significativos;
·        Superação ou mesmo a cura de fatores estressantes, esgotamento emocional, transtornos emocionais e muito mais;
·        Mudança na relação mente /corpo;
·        Desenvolvimento de ambientes sociais e profissionais mais felizes, saudáveis e produtivos;
·        O poder terapêutico de ter consciência das próprias emoções.

É comum as pessoas se acomodarem na zona de conforto, tanto quanto se acomodam em lençóis macios quando estão em momentos de relaxamento. Nos sentimos por um breve momento seguros. Mas então vem o momento da fome, das necessidades do corpo e até da alma que precisam ser supridos e somos forçados a sair deste conforto momentâneo. É o fluxo da vida e precisamos ser bondosos conosco mesmo e com todos os demais seres, pois precisamos sair da zona de conforto com consciência do convite deste fluxo vital. Precisamos sair da zona de conforto com bondade e gentileza para que os benefícios possam ser atingidos. E atenção plena (Mindfulness) à bondade promove grandes benefícios.

Conexão entre atenção plena e bondade amorosa

Desenvolver a atenção plena é expandir a consciência, é estar presente e focado ao que acontece com você no momento presente ou seja, aos seus pensamentos, sentimentos e no ambiente. Assim estar plenamente atento está diretamente ligado ao bem-estar e à felicidade pessoal. E isso tem benefícios para a saúde física mental emocional e até mesmo a espiritual. Aprendemos a responder de forma aprimorada e com clareza aos que nos acontece, aos fatores estressores sociais e profissionais, aos relacionamentos e ao nosso bem-estar mental geral.



Mas não podemos cuidar só do nosso próprio desenvolvimento, somos seres sociáveis e somos, portanto, influenciados pelo ambiente onde estamos, assim incluir as comunidades às quais estamos conectados é fundamental para nosso bem-estar. Se é importante ser consciente e gentil consigo mesmo, é importante ser consciente e gentil também com os outros. Pois assim como eu quero ser feliz e ter bem-estar, o outro também quer. A gentileza envolve a consciência de si e dos outros, ela cria um proposito, dá significado às ações e incentiva a compaixão e empatia.

Podemos com nossas atitudes intencionais de bondade e gentileza consciente manter a porta aberta para encorajar outras pessoas a fazerem o mesmo, afinal gentileza gera gentileza e isso tem um poder direto na saúde mental e emocional de todos os envolvidos.

Existem 5 pilares que oferecem suporte à gentileza:
·        Voluntariado – promove mudanças significativas na vida de quem pratica e de quem recebe o apoio;
·        Atos intencionais de bondade amorosa – desde um simples abrir a porta ou ceder um lugar na fila até atos maiores de acordo com o potencial de cada um;
·        Reflexão – a influência de nossos comportamentos e hábitos pode encorajar outros a fazerem o mesmo;
·        Conexão – o florescimento da comunicação gentil, inspirando e motivando e construindo histórias;
·        Gratidão – apreciar cada atitude, cada experiência e o retorno da bondade em um ciclo evolutivo e dar e receber, criando novas oportunidade para nós e para os outros.

O Dalai Lama diz: “O mais importante é desenvolver um bom coração. ” 

Muita se fala na importância de sermos atento, focados e centrados, mas estes fatores por si só não promovem a tão desejada qualidade de vida e bem-estar, a bondade amorosa é tão ou mais importante, através dela nos tornamos seres mais compassivos, empáticos e altruístas. A gentileza é a causa do relaxamento. Traz facilidade ao corpo, à mente e ao mundo. A gentileza permite que a cura aconteça. Não fique somente atento, seja gentil.

Neurociências Bondade e Compaixão – Será bom para nosso cérebro?


A pratica da meditação que desenvolve a gentileza pode mudar a sua vida.

Se tudo o que foi escrito não te convenceu a participar de um treinamento em Kindfulness, saiba que a pratica da Mindfulness ter o poder de transformar a estrutura do seu cérebro conforme estudos de Richard Davison (Madison – Wisconsin University) e Sara Lazar (Harvard University), mas estudos recentes como o de Olga Klimecki (Max Planck Institute) em Leipzig mostram que a compaixão e a bondade também mudam nosso cérebro.

Ver o sofrimento de outra pessoa é muito difícil. É normal sentirmos o desejo de fazermos alguma coisa para aliviar a dor do outro. Somente uma mente muito fria e um coração duro pode querer evitar uma gentileza. Por isso Olga Klimecki e seus colegas estudaram os efeitos do cultivo da bondade amorosa e da compaixão quando somos confrontados com a dor alheia. Eles descobriram que a empatia ativa o córtex cingulado anterior (ACC) e a Insula anterior.  Que são áreas que estão subjacentes à experiência empática da dor. E que são ativadas durante a experiência pessoal de sofrimento ou, de uma experiência imaginada ou da experiência empática à dor de outro.


Após um treinamento em meditação compassiva, a atividade neural mudou, e passou a incluir o córtex orbitofrontal medial, o putâmen, o paládio e a área tegmental ventral que são áreas do cérebro correlacionadas a afetos positivos, amor e afiliação. Um verdadeiro sistema que reflete os afetos positivos e que ajuda o cérebro daquele que observa o sofrimento a lidar melhor com a experiência, ser então mais útil e empático consigo mesmo e com os outros.

O que torna importante de ser observado na pesquisa é que o efeito negativo não foi realmente reduzido, mas foi perceptivamente alterado pelo aumento do efeito positivo e esta justaposição de afetos positivos em ambiente ou diante do sofrimento transforma a forma pela qual os afetos negativos estimulam outras atividades biológicas.


Compaixão, gentileza e bondade amorosa beneficiam tanto a pessoa que experimenta ou fortalece o afeto positivo tanto quanto aquele que recebe o ato compassivo (motivação pró social). Pesquisas neurocientíficas vêm fornecendo evidências que bondade e compaixão não só constroem um mundo melhor, mas também um cérebro melhor.

Venha participar de nossos treinamentos de Mindfulness ou de Kindfulness. Você também pode leva-los para sua corporação ou seu negócio. Entre em contato com a Ser Atento Mindfulness Brasil pelo e-mail: seratento.2016@gmail.com ou pelo whatsapp (11) 99463 5825

Sonia A F Santos - Analista Junguiana, Psicoterapeuta Transpessoal, Instrutora e Terapeuta em Mindfulness & Kindfulness, Palestrante e facilitadora de cursos e treinamentos. Mestranda em Mindfulness e Compaixão para equipe multidisciplinar m Oncologia. Proprietária da Ser Atento Mindfulness Brasil.


Você não pode fazer uma gentileza tão cedo, pois nunca sabe quando será tarde demais.
Ralph Waldo Emerson


REFERÊNCIA
Klimecki, OM, Lieberg, S., Lamm, C., & Singer, T. (2013) Plasticidade neural funcional e alterações associadas no efeito positivo após o treinamento da compaixão. Córtex Cerebral 23 (7): 1552-1561

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

FADIGA DA COMPAIXÃO: QUANDO CUIDAR MACHUCA





FADIGA DA COMPAIXÃO: QUANDO CUIDAR MACHUCA
Mas afinal o que é fadiga da compaixão?
Para Charles Figley, 1982 a fadiga da compaixão tem sido descrita como o “custo de cuidar” de outras pessoas em dor emocional.
Estudos comprovam que profissionais que lidam diretamente com pessoas que passam por profundo sofrimento físico, mental ou emocional, traumas e desafios como extrema pobreza, vítimas de abusos; acolhem um alto nível de fadiga da compaixão. Escolher uma profissão que vai cuidar do outro em sofrimento proporcionando mudanças positivas em suas vidas é apaixonante, mas pode em algum momento se tornar ilusória, muitas vezes se torna impossível mudar positivamente a vida dessas pessoas, afetando os cuidadores em tempo integral e até mesmo aqueles que se oferecem como voluntários. A fadiga da compaixão também é conhecida como sobrecarga da empatia, estresse secundário ou trauma vicário.
Pessoas que desde cedo decidem por uma profissão de cuidar do outro (médicos, enfermeiros, paramédicos, trabalhadores do setor de emergência, trabalhadores dos serviços de proteção à criança, intensivistas, assistentes sociais, bombeiros, policiais, cuidadores integrativos/paliativos entre outros) com compaixão e bondade amorosa muitas vezes desconhecem o que realmente significa acompanhar o intenso sofrimento diariamente e colocam as necessidades alheias na frente de suas próprias necessidades, deixando ausentes o autocuidado autêntico. 
Porque cuidar do outro exige que o profissional esteja com seu coração e mente abertos e receptivos ao sofrimento alheio e, por mais compassivo e empático que seja ele passa pela vulnerabilidade de ser afetado profundamente, e este impacto pode afetar tanto a qualidade do trabalho como a vida pessoal.
A fadiga da compaixão também conhecida como estresse secundário tem tratamento se reconhecida e cuidada desde cedo. É muito importante ter consciência do processo pelo qual se está passando. É comum o cuidador ficar revivendo os traumas e as situações dolorosas que vivencia e que podem se tornar obstáculos para uma profissão realizada e também para um estilo de vida saudável e feliz.
O profissional precisa reconhecer as causas e os sintomas que levaram à fadiga da compaixão, muitos sintomas são perturbadores e depressivos e incluem:
·          Colocar a culpa no outro de forma excessiva ou sentir-se culpado por não aliviar o sofrimento alheio;
·          Guardar as emoções e sentimentos;
·          Isolamento ou solidão;
·          Não saber lidar com reclamações de outras pessoas;
·          Dificuldade de lidar com as pressões das funções administrativas;
·          Fazer uso de substâncias para mascarar sentimentos ou esgotamento físico;
·          Desenvolver comportamentos e hábitos nocivos como gastos excessivos ou vícios;
·          Evitar o autocuidado (até mesmo na aparência ou higiene);
·          Insônia;
·          Mudanças de humor;
·          Dificuldades de se desligar do trabalho,
·          Mudanças de sentimentos em relação aos clientes/pacientes,
·          Sono perturbador com pesadelos e flashbacks de eventos traumáticos;
·          Desenvolver doenças físicas crônicas que vão desde dores crônicas sem causa aparente, problemas gastrointestinais e gripes recorrentes entre outros;
·          Apatia, tristeza, falta de concentração, impaciência e intolerância;
·          Cansaço mental e físico;
·          Pensamentos suicidas, depressão/ansiedade ou outros transtornos emocionais;
·          Excesso de preocupação e desânimo;
·          Desesperança, cinismo, exaustão e irritabilidade
·          Negação das dificuldades e violação dos limites.
Obviamente que as circunstâncias de vida, a história pessoal do cuidador, sua maneira de enfrentamento das dificuldades, tipo de personalidade podem impactar de formas diferentes a fadiga da compaixão e devem ser consideradas no processo do set terapêutico, pois o cuidador não está imune à dor de suas próprias vidas.
Como consequência quando o cuidador atinge o nível máximo de fadiga da compaixão o próprio ambiente de trabalho é afetado assim como a organização tanto em termos financeiros como os demais trabalhadores do local também o são. Assim não é somente o profissional que precisa de cuidados, mas também o ambiente de trabalho e demais funcionários. O desgaste na organização pode ser sentido das seguintes formas:
·        Alto absenteísmo;
·        Mudanças constantes na qualidade de relacionamento entre os membros das equipes;
·        Incapacidade de melhora na qualidade do atendimento oferecido;
·        Desvalorização das regras da empresa;
·        Aumento no índice de agressividade entre os funcionários;
·        Baixo nível de bem-estar e felicidade no trabalho;
·        Dificuldades em concluir atividades e projetos ou, cumprir prazos;
·        Falta de flexibilidade entre os funcionários;
·        Negativismo em relação à gestão administrativa;
·        Baixa interesse na busca de transformação;
·        Falta de credibilidade dos funcionários em relação às mudanças;
·        Falta de visão de futuro.
Por isso cabe também à empresa oferecer ambientes de trabalho onde se leva em conta o cuidar do cuidador, promovendo condições de trabalho que vão além dos requisitos legais. Ser uma empresa/organização saudável significa entre outras coisas:
·     Oferecer treinamentos, cursos, palestras instrutivas e motivadoras,
·     Valorizar o profissional com flexibilidade e suporte, avaliações regulares da carga de trabalho, conhecer e reduzir a exposição a traumas;
·     Ter lideres servidores e conscientes que incentivam a equipe e fornecem supervisão oportuna e de boa qualidade, para que o bem-estar e a felicidade sejam levados sempre em consideração;
·     Permitir que os funcionários tenham controle sobre a sua programação de atividades para que possam ter maior satisfação no trabalho, principalmente quando o cuidador está diretamente ligado a sofrimentos traumáticos;
·     Oferecer um forte apoio social, tendo todo o cuidado para que o funcionário não se sinta responsabilizado pelo seu esgotamento emocional.
·     Ter especialistas em Fadiga da compaixão que desenvolvam um plano de ação e que possa oferecer ajuda terapêutica, treinamentos, escuta atenta e outras oportunidades para o cuidador lidar com os sintomas.




É muito importante reconhecer os sintomas da fadiga da compaixão, e ao tomar consciência dos sintomas deve-se enfrentar os traumas, eventos negativos, as emoções destrutivas, os sentimentos de impotência e os comportamentos nocivos. 

É importante reconhecer que existe um caminho para conciliar as atividades profissionais com o próprio bem-estar e felicidade. Começando por não ignorar a saúde emocional e mental. A cura é possível se incluir além do tratamento terapêutico que permite a compreensão da complexidade das emoções que muitas vezes estão sendo suprimidas até a inclusão de pequenas praticas diárias na vida cotidiana tais como:
·        Exercícios físicos, Yoga, massagens e práticas de meditação
·        Participar de treinamentos da mente como os programas de Mindfulness ou de autocompaixão;
·        Hábitos saudáveis de alimentação além de beber muita agua;
·        Participar de retiros, passeios ao ar livre e curas naturais como banhos de imersão;
·        Aprender a dizer “Não”;
·        Participar de grupos de apoio, de autoestima, de estudos ou mesmo de espiritualidade;
·        Ter uma vida mais planejada e organizada
·        Aprender a responder em vez de reagir;
·        Fazer terapia e aprender a fazer suas escolhas, conhecer e expressas seus sentimentos;
·        Sono tranquilo e reparador,
·        Conversa terapêutica;
·        Aprender a delegar responsabilidades;
·        Pedir ajuda;
·        Atividades sociais;
·        Práticas de meditação ou contemplação,
·        Ter um hobby, dançar, cantar, fazer diferentes formas de expressão artística.
·        Ter uma vida mais equilibrada.
Não é um processo magico, envolve tempo, compromisso e perseverança para que a qualidade de vida e bem-estar possam serem sentidas sem precisar abandonar a carreira a qual se propôs.
Quando falamos da importância do autocuidado estamos nos referindo a:
·        Ser auto compassivo – reconhecendo seu próprio sofrimento e sendo gentil consigo mesmo;
·        Buscar mais informações sobre a fadiga da compaixão;
·        Expandir sua consciência sobre seus próprios limites e conhecimentos;
·        Compreender que as outras pessoas estão vivendo suas próprias experiências;
·        Desenvolver a escuta atenta compassiva e empática com as pessoas que estão sofrendo;
·        Compreender o que funciona e o que não funciona para você;
·        Aprender a se comunicar claramente, enfatizando suas próprias necessidades e sentimentos;
·        Buscar atitudes positivas para mudar o ambiente.
O autocuidado deve ser verdadeiro, perseverante no esforço correto e na dedicação, compreendendo que não se está sozinho, e existem especialistas que têm recursos técnicos, ferramentas de treinamento e orientação emocional e mental.
O processo de cura começa quando o cuidador faz um profundo trabalho interior, deixando de lado a culpa, a vergonha e a vulnerabilidade para poder estabelecer com clareza mental e discernimento os seus limites pessoais e profissionais, compreendendo a verdadeira natureza de seu próprio sofrimento, os comportamentos negativos que surgiram, denominar as emoções e sentimentos e as necessidades decorrentes. É um trabalho interno de autoconhecimento que cura e liberta, promove transformação no mundo interior e na forma como lidamos com as dificuldades do mundo exterior, os benefícios começam a ser colhidos com o tempo, o bem-estar e a qualidade de vida podem ser percebidos.

Sonia A F Santos
Ser Atento Mindfulness Brasil
Palestrante, Terapeuta e Instrutora de Mindfulness e Compaixão
Terapeuta com Foco em Compaixão
Mestranda em Mindfulness e Compaixão para cuidar do cuidador em Oncologia
Contato:
whatsapp: 11 99463 5825