Você sabia que existe a Ciência da
Compaixão? E que a Compaixão é uma ferramenta poderosa e cientificamente
comprovada?
Vivemos
tempos complicados, com uma verdadeira epidemia de solidão, transtornos mentais
como depressão e ansiedade, fobias e síndromes diversas, infelizmente parece
que virou algo comum. Mesmo quando temos condições matérias de suprirmos as
nossas necessidades primordiais, ainda assim parece que algo está faltando,
existe um vazio existencial, emocional, até mesmo social que não conseguimos
preencher e que causa enorme sofrimento. E a ciência aponta evidências de -
falta de compaixão.
SS
Dalai Lama em uma conversa com Arianna Huffington disse: “Se dissermos, oh, a prática da compaixão é algo sagrado, não ouço ninguém
se pronunciar. Se dissermos que o calor humano realmente reduz sua pressão
arterial, sua ansiedade, seu stress e melhora sua saúde, então as pessoas
prestam atenção”.
Mas
afinal o que significa compaixão? Podemos começar dizendo o que compaixão não é
- não é pena e nem piedade. Compaixão pode
ser definido como o reconhecimento do sofrimento do outro e o verdadeiro desejo
de aliviar esse sofrimento, e empatia é a ação eficaz e eficiente de promover
este alivio, não necessariamente fazendo o que aquele que sofre deseja, mas o
que precisa ser feito.
No
Ocidente a compaixão pode ser vista como um termo religioso, irrelevante para a
sociedade moderna, as pessoas em geral mal conseguem encarar o próprio sofrimento
e ser compassivo consigo mesmo (autocompaixão) entrando pela via tortuosa da
autocomiseração, julgamento, crítica, vergonha, auto sabotagem, procrastinação
e ruminações mentais, quanto mais ter um olhar compassivo para o sofrimento
alheio, muito mais difícil ainda quando quem sofre não tem laços ou afinidades.
No entanto as principais religiões apontam que a compaixão é boa, e atualmente
a ciência vem corroborando este princípio, com estudos profundos sobre a
compaixão e a empatia em todos os seus aspectos inclusive a autocompaixão.
Neurociência e Compaixão
Na
Universidade da Califórnia Steve Cole, um cientista de neuro genética mostrou
em sua pesquisa que a solidão leva a um perfil de stress imunológico menos
saudável no nível do gene – sua expressão gênica os torna mais vulneráveis a
processos inflamatórios que demonstraram ter efeitos negativos sobre a saúde.
Já
os psicólogos especialistas em bem-estar Ed Diener e Martin Seligman indicam
que a conexão social é um preditor de vida mais longa, recuperação mais rápida
de doenças, níveis mais altos de felicidade e bem-estar e maior senso de
proposito e significado. Na Universidade de Emory em Atlanta, Chuck Raison e
seus colegas mediram as respostas das meditações baseadas em Compaixão e
descobriram que elas reduzem as respostas neuroendócrinas, inflamatórias e os comportamentos
negativos ligados ao stress psicossocial. Também foi em Emory que se
desenvolveu o Treinamento da Compaixão na Abordagem Cognitiva com Lobsang
Tenzin Negi.
As
pesquisas realizadas por Stephanie Brown na Universidade de Michigan e na Stony
Brook University mostraram que o ato de experimentar compaixão e ajudar os
outros (empatia) realmente produz um grande bem-estar mental, emocional e
físico, a sobrevivência do mais amável que leva à sobrevivência a longo prazo
de uma espécie. Os seres humanos assim
como muitos animais, são instintivamente compassivos, os nossos cérebros estão
ligados à compaixão.
Na
Universidade de Stanford, o Centro de Pesquisa e Educação de Compaixão e
Altruísmo (CCARE) realiza profundas pesquisas com um grande número de
cientistas aliados a Budistas Tibetanos como Thupten Jinpa (responsável pelo
desenvolvimento do Treinamento para o Cultivo da Compaixão) e Seguyu Rinpoche
(que desenvolve pesquisas aliando as técnicas meditativas da Medicina Tibetana
aos tratamentos clínicos da medicina ocidental) entre outros para estudar, compartilhar
ideias científicas, propriedades psicológicas, fundamentos biológicos, correlatos
de saúde e treinamentos da mente em compaixão. Estes encontros científicos
entre a Filosofia e a Psicologia do Budismo Tibetano e a ciência ocidental
estão transformando e desenvolvendo muitas áreas importantes como a Neurociência,
Psicologia, Psiquiatria e outras áreas clínicas, além de criarem as bases para
um grande banco de dados de compaixão que fundamentam uma nova linguagem e
também motivam novas pesquisas.
A
humanidade evoluiu rapidamente, porém rápido demais em relação à nossa
habilidade como espécie para evoluir e responder ao avanço da sociedade
moderna. Vivemos estressados, o volume de informações diários que inundam a
nossa mente é enorme, multitarefas, responsabilidades extremas no trabalho,
família, conexão social, saúde e muito mais. Desaprendemos a relaxar, e os
níveis de stress são altos e constantes. Tudo isso somado diminui ou quando
não, anula nossa capacidade de responder com compaixão, e nos desconecta deste
estado inerente a todo ser senciente.
Na sociedade moderna, você tem a
liberação crônica, em níveis baixos, de hormônios ou proteínas que são
prejudiciais à sua saúde. - Dr. James Doty (CCARE – Stanford University)
O que a ciência descobriu é que o nosso
sistema nervoso não foi criado para ser desencadeado cronicamente. Uma grande
variedade de doenças tem como causa a liberação de proteínas inflamatórias
liberadas em resposta ao acionamento do stress (sistema luta/fuga),
consequentemente ocorre uma diminuição na função ou capacidade do sistema
imunológico para responder às ameaças. Devido a isso segundo o Dr Doty (autor
do livro: A Maior de Todas as Mágicas), vivemos uma epidemia de stress agravado
pelos quadros de transtornos depressivos/ansiolíticos. Vivemos com nosso
sistema nervoso superestimulado, mais reativo e rápido em nossos julgamentos e
críticas sobre os outros e nossa capacidade de compaixão fica praticamente
anulada.
Quando alguém age com intenção
compassiva, tem um enorme e enorme efeito positivo em sua fisiologia. Isso
os tira do modo de ameaça e os coloca no modo de descanso e digestão. O
que acontece quando isso ocorre é o modo como eles reagem aos eventos. Em
vez de uma resposta rápida, muitas vezes baseada em medo ou ansiedade, ela
permite uma resposta muito mais deliberativa ou criteriosa, que normalmente é
muito mais eficaz e mais criativa, porque permite que sua área de controle
executivo funcione da melhor maneira possível. Dr Doty
Compaixão como técnica terapêutica
Ao longo dos últimos anos, os estudos científicos
desenvolveram diversas terapias baseadas na compaixão, entre elas podemos
citar:
·
Terapia Focada na
Compaixão (CFT) por Phd Paul Gilbert
·
Treinamento da
Compaixão na Abordagem Cognitiva ( CBCT) por Lobsang Tenzin Negi
·
Treinamento para
o Cultivo da Compaixão (CCT) – Thupten Jinpa
·
Terapia de
Compaixão Baseada Nos Estilos de Apego (ABCT) – Javier Garcia Campayo e M
Demarzo
·
Autocompaixão
baseada em Mindfulness (MSC) – K Neff & C. Germer
São as mais estudadas, protocoladas e
com escalas validadas, que podem ser aplicadas como técnicas psicoterapêuticas, cada abordagem tem seus próprios exercícios, scripts de meditação, treinamentos da mente e escalas validadas, mas todas com
amplos benefícios comprovados.
Em geral estas técnicas revelam-se
importantes nos tratamentos de:
·
Ansiedade
·
Vergonha
·
Autocrítica
·
Depressão
·
Transtornos de
imagens
·
Descontroles emocionais
·
Auto ferimento
O que já foi observado é que muitos
indivíduos (terapeutas ou mesmo os próprios pacientes) podem ter medo de
trabalhar com a compaixão na abordagem terapêutica, muitos têm dificuldade em
compreender a própria compaixão. Outros apresentam dificuldade de trabalhar com
estados de consciência mais focado e atento e técnicas de meditação da bondade amorosa
com uso de imagens compassivas, e o fracasso pode levar à autocrítica, ou o uso
de eventos e pessoas podem trazer à tona
experiências passadas negativas. Para pessoas que estão profundamente
envolvidas em emoções destrutivas como a raiva o tratamento pode demorar para
ter eficácia.
No entanto, o uso terapêutico da
compaixão pode proporcionar o aprendizado de:
· Exercícios de valorização de atividades ou
coisas que o indivíduo gosta, promovendo mudanças para comportamentos
positivos;
· Mindfulness (Foco, Atenção plena) onde o
paciente aprende a prestar atenção ao momento presente sem críticas ou
julgamentos, desenvolvendo resiliência e aceitação.
· Exercícios de imagens focados em compaixão
para estimular a mente e o sistema fisiológico, além de harmonizar três sistemas
cerebrais (Sistema de Satisfação, calma e segurança; sistema ameaça e proteção
e sistema de conquista), muitos dos exercícios atual principalmente no sistema
de satisfação, ensinando o indivíduo a relaxar e a ter clareza mental.
Assim alguns dos benefícios que podem
ser citados são:
·
Melhora no
sentimento de felicidade e bem-estar
·
Maior otimismo e
aceitação
·
Afeto positivo
·
Autoconhecimento
·
Gerenciamento dos
estados emocionais
·
Melhor percepção
do mundo
·
Maior importância
ao auto cuidado
·
Conscientização da
auto crítica como pensamento
·
Escolhas baseadas
na sabedoria
·
Iniciativa pessoal
·
Curiosidade e
exploração
·
Desenvolvimento da
autoconsciência
·
Melhora nos inter-relacionamentos
·
Melhora na
conexão social
Como em muitas outras técnicas é de
extrema relevância que o profissional aplique as técnicas de Mindfulness e
Compaixão consigo mesmo, além de obter os benefícios poderá aplicar com
profundidade os exercícios pois compreenderá as dificuldades que o seu paciente
poderá enfrentar.
Referências:
1. Braehler,
C., Gumley, A., Harper, J., Wallace, S., Norrie, J. e Gilbert, P.
(2013). Explorando os processos de mudança na terapia focada na compaixão
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2. Gilbert,
Paul. (2010). Uma introdução à teoria e prática da terapia focada na
compaixão e treinamento compassivo da mente para dificuldades baseadas na
vergonha. Obtido de
http://www.compassionatemind.co.uk/downloads/training_materials/1.%20Workbook_2010.pdf
3. Gilbert,
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7. Garcia-Campayo, J. e Demarzo M. (2018) A Ciencia da Compaixão. Palas Athena
8. Neff, K. D, Germer C.. (2017) Mindfulness & Self Compassion. Lucida Letra