Este é um termo muito difícil de conceituar,
ou ao menos de termos uma ideia clara sobre seu significado. O Psicólogo William
James (1890) disse que: “Todo mundo sabe
o que é atenção. É a tomada de posse da mente de forma clara e vívida... ela
implica na retirada de algumas coisas, a fim de lidar eficazmente com outras”.
Talvez o maior problema é que encontramos um
leque de conceitos, que talvez muitos psicólogos e outros profissionais da
Saúde Mental não concordem. Shiffrin (1988, p.739) tem uma definição mais
precisa: “A atenção tem sido usada para
se referir a todos os aspectos da cognição humana que o sujeito pode
controlar... e para todos os aspectos da cognição que tem a ver com recursos
limitados ou a capacidade e métodos de lidar com essas restrições”.
Entretanto a palavra – todos – que é utilizada duas vezes, sugere que existem
muitos aspectos da atenção envolvidos. Não existe então nenhum acordo que
demonstre que a atenção seja caracterizada por uma capacidade limitada para o
processamento de informações e que essa atribuição possa ser intencionalmente controlada.
Desimone e Duncan (1995, p193) capturam as propriedades da atenção visual e
dizem que: “O primeiro fenômeno básico é
a capacidade limitada de processamento de informações. Em um determinado
momento, uma pequena quantidade de informação disponível sobre a retina pode
ser processada e utilizada.” Obviamente que temos a sensação subjetiva que podemos
ser capazes de escolher o que estamos a perceber com a visão, existe uma grave
limitação da quantidade de informação que podemos ver a qualquer momento. Afinal,
só podemos olhar em uma direção de cada vez e assim só podemos captar uma cena
por vez. Estas são as características centrais
do desempenho do ser humano, com a qual todos nós estamos subjetivamente
familiarizados e também para a qual existe um grande corpo de evidências
científicas. Então podemos entender o que é atenção. Mas será que podemos
compreender todas as variedades de atenção? E se, por exemplo, você estiver
olhando em uma direção, você consegue ouvir uma conversa que ocorre atrás de
você? Você é capaz de olhar em uma direção e, ao mesmo tempo observar algo “que
acontece no canto do seu olho”?
Sabemos que existe uma variedade de formas de
atenção, e é importante levarmos isto em consideração quando nos cobramos, ou
cobramos do outro que tenha ou que procure desenvolver a – atenção plena. Existe
uma variedade de situações ocorrendo ao mesmo tempo, visuais, auditivas, sinestésicas,
emocionais; não parece plausível que deva haver um único mecanismo, ou recurso
computacional interno, como a base causal de todos os fenômenos da atenção, ou
que deva haver uma base unitária de pensamento, ou percepção ou de qualquer
outra categoria tradicional da Psicologia.
Imagine uma situação. Você está caminhando ao
lado de um amigo em um parque cheio de árvores, e ao olhar para uma árvore você
vê uma bela borboleta atrás de uma folha, em um galho específico. Então você
pede ao seu amigo que observe a borboleta, é claro que você lhe passa as instruções sobre qual árvore, e
galho ele deve focar a atenção, buscando observar a borboleta. É presumível que
ambos compartilham um entendimento comum sobre o que é atenção.
Enquanto você observa atentamente a árvore, o
galho e a folha para não perder a borboleta de vista, esperando que ela voe em
uma determinada direção, criando assim uma expectativa que é acompanhada por
todo o seu corpo e mente, que não permite que nem mesmo uma lagarta em
movimento mude a direção do foco de sua atenção, até que de repente uma maçã
cai no chão de uma outra árvore, e o barulho o distrai, removendo o foco de sua
atenção que agora passa a ser a maçã. Em
outras palavras, sua atenção foi automaticamente capturada. Passam-se alguns
segundos pelo menos até que você consiga retomar a atenção sobre a borboleta e
todo um novo processamento se faz necessário, buscando a árvore certa, o galho
e a folha para encontrar a borboleta.
Sei que é um exemplo muito simplório, apenas
uma tarefa visual. Uma tarefa simples, onde deve haver algum tipo de criação do
seu sistema cognitivo que permitiu encontrar a arvore, em seguida a folha em
vez da árvore, formando assim uma corrente de processamento. Ao encontrar a
folha selecionada entre tantas que surgem em sua localização espacial. Ao encontrar
a folha específica, espera encontrar também a borboleta específica. Neste momento desencadeia um input
perceptual, uma expectativa – encontrar a borboleta.
Muitas experiências em atenção utilizam um
paradigma seletivo, onde o assunto se prepara para responder a um determinado
conjunto de estímulos. A noção de seleção traz consigo a noção complementar de
ignorar alguns outros estímulos à custa daqueles que são selecionados para o
processamento atencional.
Este processamento está sujeito às mudanças
ambientais, que podem mover o foco da atenção, que é a situação da queda da
maçã; mudanças importantes que interrompem o processo da atenção e chamam o
foco para si. Um processo automático é um que é definido como não requerendo
atenção embora aconteça naturalmente. O importante é que se você realmente estava
atento na observação da borboleta, pode então por algum processo ou mecanismo interno
para voltar à tarefa original – a borboleta.
Se você se mantiver devidamente atento ao
cenário da borboleta pode tornar-se cada vez mais difícil impedir que a sua
atenção se torne errante. Mas se você tiver dificuldade de concentração, irá
precisar demandar de algum esforço para não perder a atenção; porque sabemos
que se desviarmos o olhar perderemos a borboleta, não há como olhar para dois
lugares ao mesmo tempo. Nosso campo visual é limitado, assim como o são nossas
outras formas de sentidos.
O estudo da atenção é extenso. Hoje somos
cobrados para atenção PLENA. Por favor, alguém pode me dizer como posso ter
atenção PLENA na borboleta, de forma calma, sem demandar um grande esforço e
sem permitir que meus outros sentidos me distraiam? Sabemos por diversos
estudos e pesquisas que a prática de meditação e principalmente a que mais está
sendo estudada desenvolve nossa capacidade de foco e atenção, mas é preciso
cuidado, não se desenvolve a atenção plena da noite para o dia. O que muitas
pessoas não sabem é que estes estudos são feitos com base nos resultados
obtidos com monges ou meditadores avançados.
Sou professora de Meditação a muitos anos,
inclusive da técnica Mindfulness atualmente tão comentada. Mas chamei à
reflexão a importância do que estamos cobrando de nós mesmos, foco e atenção
plena no momento presente (24 horas por dia), e desta forma causando um
profundo stress ao no corpo físico, mental e emocional. O stress é hoje um dos
principais fatores de várias formas de doenças, inclusive as autoimunes que
aumentam de incidência de forma preocupante. Estar relaxado, presente,
estimulado, motivado e ao mesmo tempo focado, consciente e ainda atento
plenamente parece algo impossível.
A vida cotidiana tão cheia de responsabilidades,
metas e compromissos parece não dar nem mesmo tempo para diminuir as taxas
hormonais desequilibradas pelo stress de forma natural e saudável, sem uso de
medicamentos e mudanças nos hábitos alimentares.
A meditação antes de desenvolver a chamada
atenção plena, contribui acima de tudo para nos ajudar a encontrarmos ao menos
algum tempo para estarmos conosco mesmos, e sim, desenvolvendo a atenção em
nosso corpo, nossa mente, nossas emoções, e a partir daí, podemos com tempo,
disciplina e mudanças de comportamentos desenvolvermos uma qualidade melhor de
atenção. Parar alguns minutos todos os dias, pode sim melhorar e muito a
qualidade de foco e atenção, mas é preciso avaliar bem porque um indivíduo não
consegue ter foco, porque ele se perde continuamente em distrações que
atrapalham os seus resultados. Afinal foco e atenção são muito importantes para
quem quer ter sucesso!
Referência:
·
Shiffrin, R.
M. (1988) – Attention Vol 2 Learning and cognition Willey & Sons, Inc.
·
Duncan, J.
(1984) The locus of Interference in the
perception of simultaneous stimuli.
·
James, W.
(1890) The Principles of Psychology
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