terça-feira, 23 de junho de 2015

O que é ATENÇÂO?

 Atualmente ouvimos falar muito sobre a importância da – atenção, e Atenção Plena claro!. Mas afinal o que é atenção?

Este é um termo muito difícil de conceituar, ou ao menos de termos uma ideia clara sobre seu significado. O Psicólogo William James (1890) disse que: “Todo mundo sabe o que é atenção. É a tomada de posse da mente de forma clara e vívida... ela implica na retirada de algumas coisas, a fim de lidar eficazmente com outras”. 

Talvez o maior problema é que encontramos um leque de conceitos, que talvez muitos psicólogos e outros profissionais da Saúde Mental não concordem. Shiffrin (1988, p.739) tem uma definição mais precisa: “A atenção tem sido usada para se referir a todos os aspectos da cognição humana que o sujeito pode controlar... e para todos os aspectos da cognição que tem a ver com recursos limitados ou a capacidade e métodos de lidar com essas restrições”. 

Entretanto a palavra – todos – que é utilizada duas vezes, sugere que existem muitos aspectos da atenção envolvidos. Não existe então nenhum acordo que demonstre que a atenção seja caracterizada por uma capacidade limitada para o processamento de informações e que essa atribuição possa ser intencionalmente controlada. Desimone e Duncan (1995, p193) capturam as propriedades da atenção visual e dizem que: “O primeiro fenômeno básico é a capacidade limitada de processamento de informações. Em um determinado momento, uma pequena quantidade de informação disponível sobre a retina pode ser processada e utilizada.” Obviamente que temos a sensação subjetiva que podemos ser capazes de escolher o que estamos a perceber com a visão, existe uma grave limitação da quantidade de informação que podemos ver a qualquer momento. Afinal, só podemos olhar em uma direção de cada vez e assim só podemos captar uma cena por vez.  Estas são as características centrais do desempenho do ser humano, com a qual todos nós estamos subjetivamente familiarizados e também para a qual existe um grande corpo de evidências científicas. Então podemos entender o que é atenção. Mas será que podemos compreender todas as variedades de atenção? E se, por exemplo, você estiver olhando em uma direção, você consegue ouvir uma conversa que ocorre atrás de você? Você é capaz de olhar em uma direção e, ao mesmo tempo observar algo “que acontece no canto do seu olho”?

Sabemos que existe uma variedade de formas de atenção, e é importante levarmos isto em consideração quando nos cobramos, ou cobramos do outro que tenha ou que procure desenvolver a – atenção plena. Existe uma variedade de situações ocorrendo ao mesmo tempo, visuais, auditivas, sinestésicas, emocionais; não parece plausível que deva haver um único mecanismo, ou recurso computacional interno, como a base causal de todos os fenômenos da atenção, ou que deva haver uma base unitária de pensamento, ou percepção ou de qualquer outra categoria tradicional da Psicologia.

Imagine uma situação. Você está caminhando ao lado de um amigo em um parque cheio de árvores, e ao olhar para uma árvore você vê uma bela borboleta atrás de uma folha, em um galho específico. Então você pede ao seu amigo que observe a borboleta, é claro que você  lhe passa as instruções sobre qual árvore, e galho ele deve focar a atenção, buscando observar a borboleta. É presumível que ambos compartilham um entendimento comum sobre o que é atenção.

Enquanto você observa atentamente a árvore, o galho e a folha para não perder a borboleta de vista, esperando que ela voe em uma determinada direção, criando assim uma expectativa que é acompanhada por todo o seu corpo e mente, que não permite que nem mesmo uma lagarta em movimento mude a direção do foco de sua atenção, até que de repente uma maçã cai no chão de uma outra árvore, e o barulho o distrai, removendo o foco de sua atenção que agora passa a ser a maçã.  Em outras palavras, sua atenção foi automaticamente capturada. Passam-se alguns segundos pelo menos até que você consiga retomar a atenção sobre a borboleta e todo um novo processamento se faz necessário, buscando a árvore certa, o galho e a folha para encontrar a borboleta.

Sei que é um exemplo muito simplório, apenas uma tarefa visual. Uma tarefa simples, onde deve haver algum tipo de criação do seu sistema cognitivo que permitiu encontrar a arvore, em seguida a folha em vez da árvore, formando assim uma corrente de processamento. Ao encontrar a folha selecionada entre tantas que surgem em sua localização espacial. Ao encontrar a folha específica, espera encontrar também a borboleta específica.  Neste momento desencadeia um input perceptual, uma expectativa – encontrar a borboleta.

Muitas experiências em atenção utilizam um paradigma seletivo, onde o assunto se prepara para responder a um determinado conjunto de estímulos. A noção de seleção traz consigo a noção complementar de ignorar alguns outros estímulos à custa daqueles que são selecionados para o processamento atencional.

Este processamento está sujeito às mudanças ambientais, que podem mover o foco da atenção, que é a situação da queda da maçã; mudanças importantes que interrompem o processo da atenção e chamam o foco para si. Um processo automático é um que é definido como não requerendo atenção embora aconteça naturalmente. O importante é que se você realmente estava atento na observação da borboleta, pode então por algum processo ou mecanismo interno para voltar à tarefa original – a borboleta.

Se você se mantiver devidamente atento ao cenário da borboleta pode tornar-se cada vez mais difícil impedir que a sua atenção se torne errante. Mas se você tiver dificuldade de concentração, irá precisar demandar de algum esforço para não perder a atenção; porque sabemos que se desviarmos o olhar perderemos a borboleta, não há como olhar para dois lugares ao mesmo tempo. Nosso campo visual é limitado, assim como o são nossas outras formas de sentidos.

O estudo da atenção é extenso. Hoje somos cobrados para atenção PLENA. Por favor, alguém pode me dizer como posso ter atenção PLENA na borboleta, de forma calma, sem demandar um grande esforço e sem permitir que meus outros sentidos me distraiam? Sabemos por diversos estudos e pesquisas que a prática de meditação e principalmente a que mais está sendo estudada desenvolve nossa capacidade de foco e atenção, mas é preciso cuidado, não se desenvolve a atenção plena da noite para o dia. O que muitas pessoas não sabem é que estes estudos são feitos com base nos resultados obtidos com monges ou meditadores avançados.

Sou professora de Meditação a muitos anos, inclusive da técnica Mindfulness atualmente tão comentada. Mas chamei à reflexão a importância do que estamos cobrando de nós mesmos, foco e atenção plena no momento presente (24 horas por dia), e desta forma causando um profundo stress ao no corpo físico, mental e emocional. O stress é hoje um dos principais fatores de várias formas de doenças, inclusive as autoimunes que aumentam de incidência de forma preocupante. Estar relaxado, presente, estimulado, motivado e ao mesmo tempo focado, consciente e ainda atento plenamente parece algo impossível.

A vida cotidiana tão cheia de responsabilidades, metas e compromissos parece não dar nem mesmo tempo para diminuir as taxas hormonais desequilibradas pelo stress de forma natural e saudável, sem uso de medicamentos e mudanças nos hábitos alimentares.


A meditação antes de desenvolver a chamada atenção plena, contribui acima de tudo para nos ajudar a encontrarmos ao menos algum tempo para estarmos conosco mesmos, e sim, desenvolvendo a atenção em nosso corpo, nossa mente, nossas emoções, e a partir daí, podemos com tempo, disciplina e mudanças de comportamentos desenvolvermos uma qualidade melhor de atenção. Parar alguns minutos todos os dias, pode sim melhorar e muito a qualidade de foco e atenção, mas é preciso avaliar bem porque um indivíduo não consegue ter foco, porque ele se perde continuamente em distrações que atrapalham os seus resultados. Afinal foco e atenção são muito importantes para quem quer ter sucesso!

Referência:
·         Shiffrin, R. M. (1988) – Attention Vol 2 Learning and cognition Willey & Sons, Inc.
·         Duncan, J. (1984)  The locus of Interference in the perception of simultaneous stimuli.
·         James, W. (1890) The Principles of Psychology

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