sexta-feira, 19 de junho de 2015

DEPRESSÃO

Quero convidar para uma reflexão sobre a Depressão. Sabemos que ela pode surgir de diferentes formas, desde uma tristeza rápida a um diagnostico psicológico ou físico mais grave, e que, portanto necessitam de tratamento, e não a como evitar o processo. A depressão pode surgir por causa genética, psicológica e até mesmo ambiental, e também ser decorrente de doenças físicas, e incide mais nas mulheres do que nos homens, talvez devido a problemas hormonais significativos.

A minha especialidade é a Psicologia Budista e a Integral que inclui os conceitos e ensinamentos da Psicologia Budista, por isso me sinto mais a vontade para falar sobre este ponto de vista. Para a Psicologia Budista um dos motivos básicos por trás da depressão está o egoísmo. Isto não significa obviamente que a pessoa que está com um quadro depressivo deve sentir-se culpada por isso, e uma das abordagens técnicas de tratamento está na prática da meditação Metta Bhava (Bondade Amorosa) com ênfase na Terapia Focada na Compaixão e Altruísmo. Com certeza não são técnicas de tratamento breve. E um aspecto interessante nesta reflexão é que focar na Compaixão e no Amor levando em consideração o respeito, perdão e compaixão não somente para si próprio como para com os outros também.

Uma forte insatisfação consigo mesmo pode ser considerada uma das grandes causas da depressão, muitas pessoas sentem-se como não participantes do mundo que gira à sua volta, muitas vezes são apenas um número, um número da estatística, não os como os heróis dos livros, do cinema ou da mídia, cheios de coragem, determinação ou resiliência. E não se dão conta que passado os cinco minutos da fama, muitos dos heróis tão louvados estão hoje abandonados com suas lembranças como os ídolos das músicas do passado. Antes de tudo é necessário uma profunda compreensão em si mesma um estado mental, não está disponível nas drogas que viciam, nem no sexo ou nos bens materiais conquistados.


A busca pelo desenvolvimento da consciência nos leva à percepção que a felicidade é como uma luz que irradia em qualquer ambiente, iluminando a própria fonte e a tudo à sua volta. A exigência é de uma mudança de estado mental, do nosso humor – um processo que é ao mesmo tempo (ou aparentemente) simples, mas que dificilmente ocorre com a urgência que o depressivo gostaria. Temos esta capacidade – a de mudar, transformar – a nossa mente, mas posso dizer com certeza que isto exige esforço, dedicação, comprometimento, disciplina.

Conforme Andrew Soloman em Anatomia da Melancolia – “Quando você está deprimido, o passado e o futuro são absorvidos inteiramente pelo presente, como no mundo de uma criança de três anos de idade. você não pode nem lembrar de se sentir melhor, nem imaginar que você pode se sentir melhor. Sendo chateado, mesmo profundamente perturbado, é uma experiência temporal, enquanto que a depressão é atemporal. Depressão significa que você não tem nenhum ponto de vista”.
É muito importante que o indivíduo que está em um quadro depressivo consiga perceber aquele instante em que consegue vislumbrar um caminho, uma saída, uma oportunidade de fazer a transformação mais efetiva no seu estado mental.
Este momento que poderíamos chamar de uma porta aberta é muito importante, no Livro “Um Curso em Milagres” está escrito que os milagres acontecem quando tudo está certo. Muitos são os Mestres e Sábios do Oriente que nos ensinam a parar de resistir – a não resistência – provoca mudanças contínuas. Neste momento, a prática da Meditação, torna-se efetiva, pois com ela aprendemos a controlar a mente, diminuir a influencia dos pensamentos ruminantes e fantasiosos, mudar hábitos e comportamentos nocivos, obter clareza e foco.

SS Dalai Lama ensina: “Houve um estudo empírico que descobriu que as pessoas que têm a tendência a usar mais os termos de auto referências tendem a ter mais problemas de saúde. Estas pessoas têm maior envolvimento com o Self. Ser auto absorvido tem um efeito imediato de estreitar o foco. É como ser pressionado para baixo por uma carga pesada. Se, por outro lado, a pessoa pensar mais sobre o bem-estar dos outros, ele imediatamente se sentirá mais expansivo, liberado e livre. Problemas que antes eram enormes, parecem se tornar mais manejáveis”.

Em um fórum de discussão da Psicologia Budista, onde o egocentrismo foi passada a seguinte mensagem: “Experimentei – me ao extremo, ao ponto de tentar o suicídio, e acho que posso entender o ponto de vista até certo ponto. A noção do egocentrismo tem receio de ter que concordar. Por minha própria experiência, que vem de um quadro depressivo clinico extremo, cheguei à outra extremidade – a cura, e acredito que o egocentrismo pode ser a própria causa da minha depressão. Mas não só da minha depressão, mas de cada doença no mundo como a conheço. A ironia é que só posso ver isto agora, em retrospectiva, olhando para a minha historia de depressão – era ego em todo o caminho, era eu, eu, eu, meus problemas, a minha depressão, o meu passado, o meu, meu meu...”, meu próprio ego me imobilizava, um fascínio egocêntrico, que manteve meu quadro depressivo por muito tempo. Mas foi quando considerei que – e apenas talvez – que eu era um dos seis bilhões de pessoas que vivem no planeta, e nele outras pessoas poderiam ter problemas muito piores que a minha depressão, e neste instante a minha mente começou a clarear. Foi quando percebi que estava sendo egoísta e desperdiçando a minha vida, preso ao estado de – desculpe-me, mas só estou um pouco melhor. Era uma masturbação mental. Tudo o que eu fazia era alimentar meu ego, entregando seus pequenos caprichos e desgraças, sentindo pena de mim mesmo. E pensei: O que eu estou fazendo para a humanidade? Nada. E isto é egoísmo em seu mais alto grau. Claro que havia a grande maldição do ego sempre bem nutrido – a raiz de toda a depressão – é que quando você está neste estado, você não consegue enxergar isto pelo que de fato é! É como as pessoas presas na Matrix, elas não acreditariam se você lhes dissesse que estão vivendo um sonho.  Cada um deve acordar para si mesmo, e então verá!” Joshua Bryer.

Buddha ensina: “Nós damos forma à nossa vida pelos nossos pensamentos; tornamo-nos o que nós pensamos. Quando a mente é pura, a alegria segue como uma sombra que nunca vai embora”.
Ouvimos sempre as pessoas com depressão dizerem: “Hoje estou tão deprimida”, “Me sinto tão miserável”, “A vida é uma droga”, “Tudo é tão ruim”, “Eu não consigo mudar”. E quanto mais elas repetem esta fórmula, mais ela se torna a realidade. E a pessoa fica cega para as necessidades daqueles que estão à sua volta, dos amigos e familiares, em vez de ajudar, fica sempre se lamentando e pedindo ajuda em primeiro lugar. Logico que o Feedback é negativo, muitas pessoas se afastam, o grau de satisfação diminui ainda mais, os relacionamentos pioram, e vêm a dor da solidão.

A prática da Meditação, não somente a Mindfulness, mas a Zen e tantas outras técnicas meditativas melhoram o estado de espírito, ele se torna mais positivo.  As afirmações positivas, feitas com frequência, como um Mantra também possuem forte efeito terapêutico. É uma técnica muito simples, requer atenção, foco, concentração, persistência, mas assim vai mudando aos poucos o estado de espirito negativo.

Lama Yeshe do Instituto Vajrayogini, França disse em 1983: “As pessoas cuidam só do corpo, não cuidam da mente e o resultado deste desequilíbrio é a depressão. Para a maioria das pessoas ocidentais este é o caso: só o corpo é a realidade e eles não se preocupam com a existência da alma, da mente e da consciência. Eles não acreditam que podem mudar a sua mente, podem mudar o nariz com uma cirurgia, mas não acreditam que podem mudar a mente. E enquanto pensarem assim, não haverá nenhuma forma de resolver a questão da depressão. Nossos pensamentos, nossa mente ou a consciência são uma energia mental, e não pode ser localizada no corpo ela não pode ser tocada, não tem forma, e não viaja no tempo nem no espaço. Nós não podemos tocá-la nem compreendê-la”.

Então aprendemos que é preciso entender a visão que o ser tem de si mesmo, e do seu ambiente estão baseadas em sua própria mente; que a mente projeta e é por isto que a projeção não é real.

Thich Nhat Hanh ensina: “Todas as manhãs, quando acordamos, temos vinte e quatro horas novíssimas para viver. Que presente precioso! Nós temos a capacidade de viver de uma forma que estas 24 horas vai trazer paz, alegria e felicidade para nós e para os outros. A paz está presente aqui e agora, em nós mesmos e em tudo o vemos e fazemos. A questão é se estamos ou não em contato com ele. Não precisamos viajar muito longe para ver o céu azul, nem precisamos deixar a cidade para ver o sorriso de uma criança. Até o ar que respiramos pode ser fonte de alegria”.



REFERENCIA:
·         The Mindfulness Path – Christopher K. Germe, Jon Kabat Zinn
·         When Things Fall Apart – Pema Chodron
·         Lugares que Assustam – Pema Chodron
·         Trabalhando a Raiva – Thubten Chodron
·         www.lamayeshe.com article 272
·         www.viewonbudhism.org


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