Quero convidar para uma reflexão sobre a
Depressão. Sabemos que ela pode surgir de diferentes formas, desde uma tristeza
rápida a um diagnostico psicológico ou físico mais grave, e que, portanto
necessitam de tratamento, e não a como evitar o processo. A depressão pode
surgir por causa genética, psicológica e até mesmo ambiental, e também ser
decorrente de doenças físicas, e incide mais nas mulheres do que nos homens,
talvez devido a problemas hormonais significativos.
A minha especialidade é a Psicologia Budista e a Integral que inclui os conceitos e ensinamentos da Psicologia Budista,
por isso me sinto mais a vontade para falar sobre este ponto de vista. Para a Psicologia Budista um
dos motivos básicos por trás da depressão está o egoísmo. Isto não significa
obviamente que a pessoa que está com um quadro depressivo deve sentir-se culpada
por isso, e uma das abordagens técnicas de tratamento está na prática da
meditação Metta Bhava (Bondade Amorosa) com ênfase na Terapia Focada na
Compaixão e Altruísmo. Com certeza não são técnicas de tratamento breve. E um
aspecto interessante nesta reflexão é que focar na Compaixão e no Amor levando
em consideração o respeito, perdão e compaixão não somente para si próprio como
para com os outros também.
Uma forte insatisfação consigo mesmo pode ser
considerada uma das grandes causas da depressão, muitas pessoas sentem-se como
não participantes do mundo que gira à sua volta, muitas vezes são apenas um
número, um número da estatística, não os como os heróis dos livros, do cinema
ou da mídia, cheios de coragem, determinação ou resiliência. E não se dão conta
que passado os cinco minutos da fama, muitos dos heróis tão louvados estão hoje
abandonados com suas lembranças como os ídolos das músicas do passado. Antes de
tudo é necessário uma profunda compreensão em si mesma um estado mental, não
está disponível nas drogas que viciam, nem no sexo ou nos bens materiais
conquistados.
A busca pelo desenvolvimento da consciência
nos leva à percepção que a felicidade é como uma luz que irradia em qualquer
ambiente, iluminando a própria fonte e a tudo à sua volta. A exigência é de uma
mudança de estado mental, do nosso humor – um processo que é ao mesmo tempo (ou
aparentemente) simples, mas que dificilmente ocorre com a urgência que o
depressivo gostaria. Temos esta capacidade – a de mudar, transformar – a nossa
mente, mas posso dizer com certeza que isto exige esforço, dedicação,
comprometimento, disciplina.
Conforme Andrew
Soloman em Anatomia da Melancolia –
“Quando você está deprimido, o passado e o futuro são absorvidos inteiramente
pelo presente, como no mundo de uma criança de três anos de idade. você não
pode nem lembrar de se sentir melhor, nem imaginar que você pode se sentir
melhor. Sendo chateado, mesmo profundamente perturbado, é uma experiência
temporal, enquanto que a depressão é atemporal. Depressão significa que você
não tem nenhum ponto de vista”.
É muito importante que o indivíduo que está
em um quadro depressivo consiga perceber aquele instante em que consegue
vislumbrar um caminho, uma saída, uma oportunidade de fazer a transformação
mais efetiva no seu estado mental.
Este momento que poderíamos chamar de uma
porta aberta é muito importante, no Livro “Um
Curso em Milagres” está escrito que os milagres acontecem quando tudo está
certo. Muitos são os Mestres e Sábios do Oriente que nos ensinam a parar de resistir
– a não resistência – provoca mudanças contínuas. Neste momento, a prática da
Meditação, torna-se efetiva, pois com ela aprendemos a controlar a mente,
diminuir a influencia dos pensamentos ruminantes e fantasiosos, mudar hábitos e
comportamentos nocivos, obter clareza e foco.
SS Dalai
Lama ensina:
“Houve um estudo empírico que descobriu
que as pessoas que têm a tendência a usar mais os termos de auto referências
tendem a ter mais problemas de saúde. Estas pessoas têm maior envolvimento com
o Self. Ser auto absorvido tem um efeito imediato de estreitar o foco. É como
ser pressionado para baixo por uma carga pesada. Se, por outro lado, a pessoa
pensar mais sobre o bem-estar dos outros, ele imediatamente se sentirá mais
expansivo, liberado e livre. Problemas que antes eram enormes, parecem se
tornar mais manejáveis”.
Em um fórum de discussão da Psicologia
Budista, onde o egocentrismo foi passada a seguinte mensagem: “Experimentei – me ao extremo, ao ponto de
tentar o suicídio, e acho que posso entender o ponto de vista até certo ponto.
A noção do egocentrismo tem receio de ter que concordar. Por minha própria
experiência, que vem de um quadro depressivo clinico extremo, cheguei à outra
extremidade – a cura, e acredito que o egocentrismo pode ser a própria causa da
minha depressão. Mas não só da minha depressão, mas de cada doença no mundo
como a conheço. A ironia é que só posso ver isto agora, em retrospectiva,
olhando para a minha historia de depressão – era ego em todo o caminho, era eu,
eu, eu, meus problemas, a minha depressão, o meu passado, o meu, meu meu...”,
meu próprio ego me imobilizava, um fascínio egocêntrico, que manteve meu quadro
depressivo por muito tempo. Mas foi quando considerei que – e apenas talvez –
que eu era um dos seis bilhões de pessoas que vivem no planeta, e nele outras
pessoas poderiam ter problemas muito piores que a minha depressão, e neste
instante a minha mente começou a clarear. Foi quando percebi que estava sendo
egoísta e desperdiçando a minha vida, preso ao estado de – desculpe-me, mas só
estou um pouco melhor. Era uma masturbação mental. Tudo o que eu fazia era
alimentar meu ego, entregando seus pequenos caprichos e desgraças, sentindo
pena de mim mesmo. E pensei: O que eu estou fazendo para a humanidade? Nada. E
isto é egoísmo em seu mais alto grau. Claro que havia a grande maldição do ego
sempre bem nutrido – a raiz de toda a depressão – é que quando você está neste
estado, você não consegue enxergar isto pelo que de fato é! É como as pessoas
presas na Matrix, elas não acreditariam se você lhes dissesse que estão vivendo
um sonho. Cada um deve acordar para si
mesmo, e então verá!” Joshua Bryer.
Buddha ensina: “Nós damos forma à nossa vida pelos nossos
pensamentos; tornamo-nos o que nós pensamos. Quando a mente é pura, a alegria
segue como uma sombra que nunca vai embora”.
Ouvimos sempre as pessoas com depressão
dizerem: “Hoje estou tão deprimida”,
“Me sinto tão miserável”, “A vida é uma droga”, “Tudo é tão ruim”, “Eu não consigo mudar”. E quanto mais elas repetem esta fórmula,
mais ela se torna a realidade. E a pessoa fica cega para as necessidades
daqueles que estão à sua volta, dos amigos e familiares, em vez de ajudar, fica
sempre se lamentando e pedindo ajuda em primeiro lugar. Logico que o Feedback é
negativo, muitas pessoas se afastam, o grau de satisfação diminui ainda mais,
os relacionamentos pioram, e vêm a dor da solidão.
A prática da Meditação, não somente a
Mindfulness, mas a Zen e tantas outras técnicas meditativas melhoram o estado
de espírito, ele se torna mais positivo.
As afirmações positivas, feitas com frequência, como um Mantra também
possuem forte efeito terapêutico. É uma técnica muito simples, requer atenção,
foco, concentração, persistência, mas assim vai mudando aos poucos o estado de
espirito negativo.
Lama Yeshe do
Instituto Vajrayogini, França disse em 1983: “As pessoas cuidam só do corpo, não cuidam da mente e o resultado deste
desequilíbrio é a depressão. Para a maioria das pessoas ocidentais este é o
caso: só o corpo é a realidade e eles não se preocupam com a existência da
alma, da mente e da consciência. Eles não acreditam que podem mudar a sua
mente, podem mudar o nariz com uma cirurgia, mas não acreditam que podem mudar
a mente. E enquanto pensarem assim, não haverá nenhuma forma de resolver a
questão da depressão. Nossos pensamentos, nossa mente ou a consciência são uma
energia mental, e não pode ser localizada no corpo ela não pode ser tocada, não
tem forma, e não viaja no tempo nem no espaço. Nós não podemos tocá-la nem
compreendê-la”.
Então aprendemos que é preciso entender a
visão que o ser tem de si mesmo, e do seu ambiente estão baseadas em sua
própria mente; que a mente projeta e é por isto que a projeção não é real.
Thich Nhat
Hanh ensina: “Todas as manhãs, quando acordamos, temos
vinte e quatro horas novíssimas para viver. Que presente precioso! Nós temos a
capacidade de viver de uma forma que estas 24 horas vai trazer paz, alegria e
felicidade para nós e para os outros. A paz está presente aqui e agora, em nós
mesmos e em tudo o vemos e fazemos. A questão é se estamos ou não em contato
com ele. Não precisamos viajar muito longe para ver o céu azul, nem precisamos
deixar a cidade para ver o sorriso de uma criança. Até o ar que respiramos pode
ser fonte de alegria”.
REFERENCIA:
·
The Mindfulness Path – Christopher K. Germe, Jon Kabat Zinn
·
When Things Fall Apart – Pema Chodron
·
Lugares que Assustam – Pema Chodron
·
Trabalhando a Raiva – Thubten Chodron
·
www.lamayeshe.com article
272
·
www.viewonbudhism.org
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