sábado, 24 de novembro de 2018

Coping Espiritual – Você sabe o que é?





Podemos definir Coping (Enfrentamento) Espiritual como a forma que um indivíduo usa sua crença ou fé em uma religião (ou religiosidade) ou espiritualidade e as suas estratégias para lidar com os fatores estressantes e as consequências negativas dos diferentes problemas da vida.
Mas primeiro precisamos discutir, afinal qual a diferença entre religião, religiosidade e espiritualidade?
Definir religião e espiritualidade é surpreendentemente difícil, em parte, porque estamos vivendo em um mundo cada vez mais multicultural e multireligioso, e em parte porque os significados da religião e da espiritualidade evoluem com o tempo, e o significado desses termos mudou rapidamente nos últimos 50 anos. 
Durante grande parte do século 20, a religião era vista pelos psicólogos e outros cientistas sociais como um termo amplo que abrangia tanto o individual quanto o institucional, tanto o bom quanto o mal, e ambas as formas tradicionais e não tradicionais de espiritualidade. De fato, algumas definições clássicas de religião seriam difíceis de distinguir das concepções modernas de espiritualidade. 
Na última parte do século, o termo espiritualidade foi introduzido e começou a assumir alguns dos significados da religiosidade. No processo, visões de base ampla da religião deram lugar a perspectivas mais restritas, e os termos religião espiritualidade tornaram-se cada vez mais polarizados uns dos outros. 
Espiritualidade tem a ver com o espírito, não como fantasmas, mas como na essência do ser humano - sua alma ou sua vida interior, seu Eu Maior ou Self.


Espiritualidade muitas vezes tem a ver com religião. Poderíamos dizer: "Eu não sou religioso, mas tenho um forte senso de espiritualidade", “acredito em Jesus do meu jeito, não frequento nenhuma igreja”, o que pode significar que você pratica Yoga ou meditação, ou reza com um grupo, ou nutre seu espírito passando tempo na natureza, mas sem frequentar ou basear sua fé nos dogmas de uma instituição organizada. As religiões geralmente definem crenças, rituais, dogmas, sacramentos, normas e diretrizes; a espiritualidade é mais individual.

A religião tem dois significados relacionados: é a crença de que um ou mais seres divinos são responsáveis ​​pelo destino de toda a vida humana, e é também uma organização onde as pessoas de uma religião específica podem expressar suas crenças, realizar seus rituais, cumprirem com os dogmas, seguindo a orientação de um representante religioso como o Papa, Pastores, Rabinos entre outros em um local específico como as igrejas ou templos.
Budismo, judaísmo, cristianismo, hinduísmo, islamismo: estes são exemplos de religiões, e milhões em todo o mundo seguem os princípios definidos por sua fé escolhida. A raiz da palavra religiosa vem do latim e significa “ligar”, e a religião liga as pessoas não apenas por suas práticas, mas também por suas ideias. A maioria das religiões tem sua própria história sobre a criação do universo, e cada uma delas tem uma explicação diferente para o significado da vida, que é uma fonte de conforto para os seguidores de uma religião e normalmente baseiam-se em um ou mais livros considerados sagrados como a Bíblia, o Alcorão ou a Torá.

As pesquisas sobre coping espiritual nos tratamentos clínicos de Phd Kenneth Pargament
provavelmente o principal autor em psicologia e religião no mundo atualmente e, Professor de psicologia na Bowling Green State University (EUA), onde ele define a espiritualidade como “a busca pelo sagrado” , onde o termo “sagrado” refere-se não apenas a conceitos de Deus e poderes superiores, mas também a outros aspectos da vida que são percebidos como manifestações do divino ou imbuídos de qualidades divinas, como transcendência, imanência, infinitude e supremacia. Crenças, práticas, experiências, relacionamentos, motivações, arte, natureza, guerra - virtualmente qualquer parte da vida, positiva ou negativa, pode ser dotada de status sagrado; e suas pesquisas tem mostrado a relevância de considerar a visão do sagrado do paciente nos tratamentos clínicos dos mais diferentes diagnósticos.


Cada indivíduo reage de forma diferentes aos difíceis momentos ou circunstancias da vida, uns utilizam a fé em sua crença religiosa ou espiritual outros não. O coping então tem suas funções segundo Panzini e são:
1.     Sentido/significado
2.     Controle
3.     Conforto
4.     Intimidade
5.     Transformações na vida
O coping pode ser:
1.     Positivo – Traz significado e propósito a vida, integração psicológica, motivação e esperança, usa a fé como auxilio positivo ao tratamento;
2.     Neutro – Não usa sua crença ou fé religiosa/espiritual como auxilio ao tratamento, nem como força e esperança nas situações negativas da vida;
3.     Negativo – Promove medo, culpa e ansiedade, reavalia os poderes divinos e/ou demoníacos, traz o sentimento de punição divina, prejudica o tratamento clínico, tem rigidez de pensamentos e práticas excessivas entre outros comportamentos nocivos.
As formas de coping:
1.     Auto direcionado
2.     Colaborativo (Participação ativa ou renúncia)
3.     Delegativo (Submissão ou suplica)

Cada vez mais a ciência vem pesquisando a importância da integralidade do ser, considerando que para a felicidade genuína, qualidade de vida e bem-estar o ser humano deve estar integrado em sua saúde física, mental, emocional e espiritual. Alguns clínicos de diferentes áreas já costumam considerar em seus tratamentos, (alguns criando uma forma de anamnese espiritual ou uma conversa franca sobre como o indivíduo usa a sua fé ou crença para lidar com os diferentes aspectos da vida) a visão da espiritualidade/religião (obviamente respeitando a fé ou crença, mas levando em consideração se o coping é positivo, negativo ou neutro).
É comum nos centros hospitalares o oferecimento de ajuda espiritual caso o paciente sinta a necessidade de compartilhar com um religioso a sua dor e não tenha especificamente aonde ir. Mesmo nos tratamentos de saúde emocional e mental a visão de mundo que o paciente tem deve ser considerada, hoje temos uma evolução nos tratamentos psicoterapêuticos e vemos técnicas inovadoras com excelentes resultados que levam em consideração todas as dimensões que compõem o ser humano como: a Psicologia Integral, Psicologia Transpessoal, Terapia da Aceitação e Compromisso baseado em Mindfulness, Terapia Baseada em Mindfulness, Terapia da Auto Compaixão, Terapia Focada em Compaixão, e treinamentos da mente baseados na Psicologia Budista (que não usa a religiosidade Budista, mas a filosofia e a psicologia contida nos ensinamentos e suas técnicas de treinamento mental já descritas pelo próprio Budha em 600 a.C. e atualmente consideradas técnicas de excelência para muitos transtornos mentais e emocionais) entre muitas outras além da Ciência Contemplativa e a Ciência da Compaixão, todos com benefícios cientificamente comprovados por pesquisas em universidades americanas e europeias.

Estamos saindo daquela visão de mundo onde a ciência percorria um caminho diferente e distante do caminho da espiritualidade, mas caminham lado a lado de forma respeitosa para melhorar a qualidade de vida levando em consideração todas as dimensões do ser humano. Assim convido você leitor a observar-se e perguntar-se: como uso a minha fé diante das dificuldades da vida? Meu terapeuta ou clínico leva em consideração a minha visão espiritual?

Autora - Sonia A F Santos – Psicoterapeuta Transpessoal, Analista Junguiana, Mindfulness & Compassion Instructor & Therapist do Instituto Casa do Encontro.

 Referencias:
·                     Hill, PC, Pargament, KI, Hood, Jr. RW, McCullough, ME, Swyers, JP, Larson, DB, & Zinnbauer, BJ (2000). Conceituando religião e espiritualidade: Pontos de comunalidade, pontos de partida. Jornal para a teoria do comportamento social, 30 , 51-77. 
·                      Pargament, KI, Mahoney, A., Exline, JJ, Jones, J., & Shafranske, E. (no prelo). Prevendo um paradigma integrativo para a psicologia da religião e da espiritualidade. Em KI Pargament (Ed. Em Chefe), J. Exline e J. Jones (Assoc. Eds.), Manuais da APA em psicologia: Manual de Psicologia, Religião e Espiritualidade da APA: Vol 1. (pp. Xxx-xxx ). Washington, DC: Associação Americana de Psicologia.
·                     Pargament, KI (1999). A psicologia da religião e espiritualidade? Sim e não. Revista Internacional para a Psicologia da Religião, 9 , 3-16. 
·                     Pargamente, Koenig e Perez. The many Methods of Religious Coping. J Clin Psychology Vol 56:4 2000
·                     Panzini & Bandeira, 2007 Ver Psi Clin 34:1

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