sábado, 28 de março de 2015

GUNAS – As Qualidades da Natureza


De acordo com o Vedanta, os Gunas – qualidades primárias da natureza – são em número de três: Sattva, Rajas e Tamas.  

Os Gunas existem em todos os seres, incluindo os seres humanos, em diversos graus de concentração e combinação. Dependendo de seus pontos fortes e combinações, eles determinam a natureza dos seres, suas ações, comportamentos e atitudes e seu apego ao mundo objetivo em que vive. O objetivo principal dos Gunas é criar a escravidão, através dos desejos pelos objetos dos sentidos que levam ao apego com eles e manter os seres sob o controle permanente de Prakriti (Energia Feminina Primordial).

Os Gunas nascem de Prakriti. Nossa energia Divina não reside neles, mas eles residem no Divino. Na Consciência Divina ou Supra Consciência, os Gunas permanecem em estado de equilíbrio perfeito. Quando este equilíbrio é perturbado, o processo de criação começa e os seres vêm à existência de posse desses Gunas em diferentes proporções. Sob a sua influencia os seres humanos perdem a capacidade de conhecer a si – mesmos corretamente e reconhecer a sua natureza divina. Eles  não conseguem ver a sua unidade com Deus e os resto da criação e da presença do Divino no meio deles. O Ser Absoluto é o verdadeiro desfrutador. É Ele quem traz à tona toda a criação para a sua alegria ou bem – aventurança (Ananda).

Como ensina o Vedanta: Purusha (Homem Primordial) sozinho sentado em Prakriti aprecia as qualidades produzidas por Prakriti. Os Gunas são os responsáveis pela diversidade existente na natureza. Por causa da associação com os Gunas ou qualidades, a divisão da realidade e da irrealidade nascem. Quando os Gunas se manifestam na criação, as almas individuais ou Jivatmas estão sob sua influencia e começam a sua jornada para frente no mundo da matéria até a morte do ser.

Sattva é a qualidade pura, livre de qualquer impureza ou marca, livre de qualquer doença, puramente iluminada. Liga-se à alma através do apego à felicidade e ao conhecimento. Uma pessoa sattívica controla as emoções, pensamentos e ações. Possui virtudes, é tolerante, serena, intelectual, estável emocionalmente, procura estar além das virtudes e defeitos, não tem medo de morrer. Busca adquirir conhecimentos, habilidades para ajudar os outros, medita, busca crescimento espiritual. Eventualmente consegue manter-se além da dualidade felicidade-infelicidade e vice versa. Vive para servir a sociedade e ajudar os demais no crescimento espiritual no sentido mais universal. Alto poder espiritual. Dorme bem por 6 ou 4 horas.

Rajas é cheio de paixão (ragatmakam) e nasce da sede ou do desejo intenso (Thrishna e de Sanga). Liga-se à alma através do apego à ação.  Uma pessoa rajásica é mais irritada, ciumenta, orgulhosa, egoísta, autoritária, busca pela atenção, gananciosa, ambiciosa, muitos desejos mundanos, sempre preocupado e sonhador. possui esforços diligentes mas sem direção em termos de crescimento espiritual. Está somente na busca pelo aumento de sua autoridade e das posses mundanas. Egocêntrico somente ajuda os outros desde que isto infle mais o seu ego. Precisa de 9 a 7 horas de sono. Seu poder espiritual é leve.

Tamas é a escuridão e a crueza do homem. É “Ajnanajam” ou aquele que nasce da ignorância e de “Mohanam” a causa da ilusão. Liga-se a alma pelo descuido, preguiça ou sono. Uma pessoa tamásica é preguiçosa, inativa, egísta, não pensa nos outros ou não se importa em prejudicar, facilmente irritável. Não possui virtudes. Vive para comer, beber, manter relações sexuais etc. não se importa em prejudicar a sociedade em geral seja em nome de uma religião ou ideologia. Baixo nível de espiritualidade. Precisa de 12  15  horas de sono.

Os três Gunas competem entre si pela supremacia enquanto existirem no ser. Sattva suprime Rajas e Tamas. Rajas existe suprimindo Sattva e Tamas. E Tamas suprime ambos Sattva e Rajas.

Como saber qual é a qualidade predominante em uma pessoa em um determinado momento? Quando Sattva está predominando, todas as “portas” do corpo humano ou Cakras irradiam a iluminação do conhecimento. Quando Rajas está predominando, a ganância e o esforço para executar atividades egoístas aparecem. Com o aumento de Tamas vem a escuridão, a inatividade, imprudência, preguiça, sono, ilusão.

Uma pessoa que Sattívica por natureza quando morre atinge mundos superiores e renasce entre pessoas piedosas. Uma pessoa que é rajásica, quando morre permanece nos mundos médios e renasce em famílias muito ativas na vida cotidiana. Quando uma pessoa que é por natureza muito tamásica morre, renasce entre os ignorantes e iludidos.

O proposito de estudar os Gunas não é incentivar-nos a sermos mais sattívicos e a eliminar as outras qualidades, pois as três qualidades são parte de Energia Feminina Primordial (Prakriti) e são as responsáveis pela nossa ilusão e todo o sofrimento na Terra. Por isso as escrituras canônicas nos auxiliam a nos tornarmos livres dessas qualidades completamente, fazendo-nos compreender claramente a natureza dessas qualidades e como elas tendem a nos manter em cativeiro e ilusão ou mundo de Maya. Até mesmo o esforço para nos tornamos mais sattívicos não é um fim em si mesmo. Ela é o único meio para superar a paixão e a ignorância e, assim alcançar a auto realização através da pureza da mente e do coração. Mas não devemos nos esquecer de que Sattva realmente nos liga ao mundo dos mortais através de sua tendência a juntar-se a felicidade e ao conhecimento. É, mas Sattva é um instrumento de Prakriti e destina-se ao seu proposito, em nos manter acorrentados à vida terrena, sob o controle soberano de seu falso mestre. Por isso deve-se ir além desses três Gunas e alcançar a imortalidade e liberdade desde o nascimento, velhice, tristeza e morte.

Como vimos os Gunas  são os responsáveis tanto pelos nossos apegos e desejos, de acordo com sua posição de destaque e velocidade os sentimos presentes na nossa vida tanto interna como externa, tudo é controlado pelos Gunas, mesmo a mente está sob sua sujeição e operação. A mente não é nada mais que os Gunas em uma forma muito sutil. Uma forma rarefeita dos Gunas forma a substancia dos órgãos psicológicos – manas, buddhi, ahamkara e citta – ou seja, a mente, o intelecto, o ego e o subconsciente. A forma bruta dos Gunas aparece como sendo os cinco elementos – terra, água, fogo, ar e éter. Portanto, existe uma fraternidade de sentimento entre a mente e o objeto externo, uma vez que ambos são constituídos dos mesmos Gunas.

Na medida em que os Gunas são quase tudo, e não há nada fora deles, os nossos esforços na direção da prática do Yoga (religação com o Divino em nós) deve levar em consideração a constituição dos Gunas em relação a nossa própria personalidade individual. Temos que estudar o nosso Eu, temos que tomar posse do verdadeiro conhecimento de quem nós somos, estarmos realmente atentos com o nosso próprio Ser. Toda personalidade é formada pelo três Gunas e as minhas atitudes e comportamentos dependem do padrão em que os três Gunas estão alinhados na fase da vida que estou vivendo.

De nossa atitude geral para com cada situação, coisas, sentimentos diários e reações, anseios, emoções, podemos ter uma ideia de como estamos em relação aos Gunas. A natureza dos nossos mais profundos sentimentos ao longo do dia e as minhas reações desde as mais genéricas com as coisas exteriores serão um símbolo externo da minha constituição interna. Muito embora não se possa conhecer o seu ser interno tão profundamente e totalmente como se gostaria, com a observância de certas insígnias ou símbolos externos, pode-se saber o que está nos acontecendo internamente.

A maneira como falamos, damos nossas opiniões, procuramos conhecer sobre as coisas e pessoas, bem como os anseios profundos do nosso coração expressam ou não, vamos conhecer melhor que somos nós. Na verdade, somos alunos, aspirantes, requerentes e devemos nos esforçar para conseguir realizar a meta suprema, portanto a cautela a cada momento se faz necessária.

Segundo os Mestres da Escola Vedanta não há nada a ser conhecido neste mundo senão o nosso próprio mundo interno. Não há necessidade de preocupação com as coisas, porque toda e qualquer dificuldade surgem de nós apenas e não dos outros, e não adianta estudar o olhar dos outros buscando a nós mesmos. A regulação dos Gunas se faz através do fechamento dos olhos buscando olhar para dentro observando a própria estrutura interna de nossa personalidade mais profunda, investigando nosso próprio EU.

O essencial é um ajuste  contínuo das nossas tendências internas e se algumas das nossas tendências persistirem significa que os ajustes externos que procedemos não tiveram muita consequência, porque o que nos liberta e o que nos une ao Divino é a tendência interna, ou seja, os Gunas. Os Gunas possuem uma força tremenda, e não podem ser controlados apenas por um esforço mental. Eles são ótimos, pois são os nossos melhores Mestres, pois como já disse eles são a nossa composição, estamos sujeitos a eles em todos os sentidos, em cada fibra do nosso Ser, e talvez por isto é tão difícil ter auto-dominio. O domínio sobre os Gunas é de domínio sobre o próprio EU.

Profunda observação de si mesmo e de suas próprias experiências, faz com que a sua individualidade se expanda e aprofunde à medida em que se avança pelo caminho do autoconhecimento, desta forma os Gunas entram em reajuste de padrão, tornando a sua influencia mais rara, etérea, de modo que a luz da Verdade se reflita com maior intensidade. É a opacidade do padrão dos Gunas que impede a reflexão da Realidade em nosso próprio Ser, assim como a luz do Sol não consegue penetrar uma parede de tijolos, que bate e retorna ao exterior, mas quando a parede é translucida ou transparente como o fino cristal a luz do Sol penetra no interior. Uma personalidade mais grosseira como a rajásica ou tamásica, o reflexo da Verdade não é tão evidente, mas em uma personalidade mais sattívica, que é mais transparente na sua estrutura a aceitação e experiências com a Verdade se tornam a cada dia mais evidente.

Quais são as qualidade da pessoa que transcendeu estes três Gunas?  Como é que a pessoa se comporta?

Quando um homem supera os três Gunas, ela já alcançou um nível de consciência em que ela nem gosta da iluminação, atividade e ilusão quando estão presentes, nem desgosta quando elas estão ausentes. O ser humano consegue permanecer inabalável, despreocupado, pois ela sabe que os Gunas estão simplesmente realizando as ações inerentes à ela. Alheio ao prazer e à dor, permanecendo o mesmo diante de uma pedra de ouro ou de um pedaço de barro, inabalável diante do objeto desejado ou indesejado, igual diante da difamação ou adulação, tanto na honra como na desonra, o mesmo comportamento diante dos amigos e dos inimigos, sem qualquer esforço egoísta na realização das ações, somente assim o ser humano estará acima dos Gunas.

A compreensão correta destas três qualidades da natureza é, portanto, muito essencial para superar a escravidão à vida terrena alcançando o Ser Supremo ou Brahman O Absoluto, a Verdadeira Realidade. Conhecer a distinção entre os três Guna, desenvolvendo a qualidade de Sattva em abundancia se pode purificar a mente e esclarecer com tranquilidade de espirito através da devoção correta, estudo, autoconhecimento, discurso correto, fé absoluta, conhecimento, comportamento e esforço ou sacrifício.  Desta forma o ser humano se tornará um perfeito Yogue. Ele alcançará o Ser Supremo através da realização de seus deveres mais profundos sem nenhum desejo ou apego, oferecendo o fruto de suas ações ao ser Divino do qual é devoto de coração, entregando-se completamente a Ele, dedicando-se a Ele e absorvendo-se Nele.



Por Saleela Devi
Psicoterapias

















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