Parece haver
uma guerra interminável entre ciência e religião, e o Budismo na maioria das
vezes demonstra sua tolerância e sua relevância no mundo científico. A gênese desta tolerância cultural começou
com a ideia popular ainda na década de 1970, onde o Budismo estava de alguma
forma, em harmonia com as fronteiras da Física Quântica. Enquanto, a alguns
consideram uma tolice a “espiritualidade
quantum”, é evidente o suficiente nos dias atuais a possibilidade de que as
tradições orientais possam ter algo a dizer cientificamente falando.
O local mais natural do encontro entre ciência e religião está no estudo da mente. Estimulado pelo engajamento notável do Dalai Lama, junto com a sua Fundação e com cientistas de diferentes universidades que desenvolvem a cada dia um interesse nas atitudes budistas em direção ao estudo da mente.
Mas dentro
do alegre abraço do Dalai Lama encontra-se um dilema cuja resolução poderia
abalar qualquer tradição ao seu núcleo: a verdadeira relação entre nosso
cérebro material e a nossa mente decididamente não material. Mais do que
evolução, mais do que os argumentos inesgotáveis sobre a existência ou não de
Deus, a linha de falha real entre ciência e religião trata justamente da
natureza da consciência. Desembalar cuidadosamente esta questão tão controversa
e explorar o que o Budismo oferece na sua investigação é o tema do livro de
Evan Thompson que tem o título de Waking Dreaming Being.
Professor de
Filosofia da Universidade de British Columbia, Eva Thompson assumiu um desafio.
Construiu uma carreira estudando a abordagem da ciência cognitiva à mente;
tornou-se intimo com a longa historia do Budismo, além de estudar e comentar a
tradição Védica sobre a mente. Filho do historiador Willian Irwin Thompson,
cuja Associação Lindisfarne propôs o “estudo e realização de uma nova cultura
planetária”. Eva cresceu nesse ambiente
e com muito entusiasmo pelas tradições filosóficas não ocidentais e um
ceticismo saudável com seus pressupostos espiritualistas.
“Waking
Dreaming Being” começa com a valorização do impacto revolucionário da neurociência
sobre a nossa compreensão do cérebro. Armado com ferramentas digitais de alta
resolução, os pesquisadores mapearam as etapas críticas da cognição e da visão,
além da linguagem e da memoria. O sucesso destes estudos, no entanto, levou
alguns a considerarem como “neuro-reducionistas” – a proposição de que todos
nós somos nada, além da gosma de nosso cérebro. Deste ponto de vista, a mente
nunca é mais do que apenas a função cerebral. Uma vez que o funcionamento do
cérebro pare de funcionar, a nossa consciência termina, nós terminamos e fim da
historia.
Porém para
outros, incluindo o próprio Thompson, algo essencial é deixado de fora desta
conta neuro- reducionista. A vivacidade de nossa experiência não é nem
encurralado nem esgotado por mapas ou traços de ondas cerebrais em um
eletroencefalograma. Há uma “lacuna explicativa” pendurada entre a atividade
neural e as experiências conscientes. Enquanto que esta lacuna levou alguns filósofos,
como Colin McGinn argumentar que a consciência está simplesmente além da
explicação cientifica, Thompson tomou uma outra direção. Ele começou por nos lembrar que muito antes
de Sócrates, o filosofo e meditadores do Norte da Índia já investigavam a consciência
e sua dinâmica.
Quase 3.000
anos atrás, os primeiros praticantes védicos e, em seguida, os Budistas articulavam sofisticados relatos na primeira
pessoa de função cognitiva. Thompson argumenta que essas práticas contemplativas
são implacavelmente empíricas. “Nas tradições Yogues”, escreve ele, “meditadores
tem tanto a capacidade de serem abertamente conscientes de todo o campo de experiência
sem selecionar ou suprir qualquer coisa que surja”.
Este treinamento
torna a prática contemplativa diferente de tudo na caixa de ferramentas de um
neurocientista. A dependência da Neurociência em instrumentos, descrições de
terceira pessoa nas varreduras do cérebro significam que a experiência é
filtrada. Como Thompson insiste em dizer, nossa consciência – o nosso Ser –
simplesmente não é um tipo de ciência “coisa” que usam para estudar.
O título do
livro ressalta a abordagem temática de Thompson. Seções sobre “Acordar”
exploram a função cognitiva subjacente a atividade normal do dia a dia.
Thompson em seus passeios pelo Abhidharmma do Budismo notou que o fluxo percebido
pela consciência pode ser resolvido em momentos de atenção plena ou “momentos
da mente”. Assim ele nos mostra em seus experimentos com a Neurociência moderna
pode apoiar esta natureza discreta da percepção. As seções que tratam de “Sonhando”
vão mais fundo, rejeitando a visão cientifica que muitas vezes declaram que os
sonhos são simplesmente alucinações do cérebro: “Quando sonhamos, não temos “pseudo
– percepções” que formam a base para falsas crenças; imaginamos um mundo dos
sonhos e nos identificamos com nosso ego – sonho”. “A maioria de nós já teve
algumas experiências de “Sonho lucido”” – reconhecendo que estamos despertos
para o sonho enquanto ainda estamos dormindo. Mas para os Budistas na tradição
do “Yoga do Sonho”, o sonho lucido é considerado uma habilidade treinável
essencial para o progresso do aspirante como um adepto fiel da meditação: “Yoga
do Sonho tenta nos mostrar como o mundo desperto ou mundo da Vigília não está
fora e separado de nossa mente; é trazido e promulgado através de nossa
percepção imaginativa”.
Estes são
temas, segundo Thompson que os verdadeiros diálogos Leste-Oeste podem
apresentar desafios fundamentais para a ciência. Todo o conhecimento do mundo,
mesmo o conhecimento eventualmente transformado em forma cientifica, depende da
experiência. Vivemos através e uma perspectiva que nunca pode ser totalmente
livre. De acordo com Thompson que chegou a um acordo com o limite, em vez de
varrer para debaixo do tapete, requerendo experiência em como tratar de forma
primária e irredutível, uma noção bastante nativa das tradições contemplativas.
Thompson tem,
no entanto, o prazer de espalhar os desafios ao seu redor. Com um equilíbrio mais
do que evidente em sua discussão de “Ser” e, especificamente do “Morrer”. As
tradições Budistas como a Védica estão profundamente comprometidas com a ideia
de que a consciência persiste independentemente do cérebro. Thompson olha
atentamente para a evidencia do “fora do
corpo”, a reencarnação e, em particular, as experiências do quase-morte com o
anunciado “o céu é real”. Em todos os casos, ele argumenta, as evidencias
apontam para essas experiências originárias de cérebros que são “desligados” ao
morrer ou são “acionados” numa reanimação. O equilíbrio obstinado de Thompson
nestas apresentações mostram as suas duvidas que “consciência – mesmo nas mais
profundas formas de meditação – transcende o corpo vivo e o cérebro”, onde tudo o mais é ressonante.
A Neurociência
considera a vontade de morrer nada mais do que o inicio do fim da função
cerebral, mas Thompson argumenta vigorosamente que as tradições contemplativas
ainda oferecem uma ciência com uma nova e poderosa perspectiva. Para o Budismo,
a dissolução da mente ocorre em camadas durante o processo da morte, semelhante
ao adormecer. Como as pessoas que acompanham pacientes terminais sabem que o
processo da morte pode levar horas ou mesmo dias. Assim, uma fenomenologia da
morte – o que significa que detalhados relatos em primeira pessoa por aqueles
treinados para assistir suas próprias mentes (incluindo a mentes em processo de
morte) – seria um território fértil para futuro estudos neurocientíficos. Falando
especificamente sobre relatos de experiências de quase-morte, Thompson
pressiona um ponto que é muito vezes esquecido:
“O que isto
significa em termos pragmáticos é parar de usar estas experiências para
justificar os neuroreducionistas ou espiritualistas e, em vez de levá-las a
serio para o que elas realmente são –
narrativas de experiências em primeira pessoa decorrentes de circunstancias que
estamos todos a caminho de percorrer um algum momento”.
Essa citação
resume este excelente livro de Eva Thompson.
Ante o debate que ocorre entre o ateísmo versus religião, ele nos pede
para fazermos algo realmente radical retendo o julgamento sobre as grandes
(talvez irrespondíveis) questões metafísicas de como devemos realizar nossas
explorações. Em vez disso, podemos nos concentrar com honestidade e integridade
de onde a informação experiencial empírica realmente reside. “Está lá”, diz
ele, “bem diante de nós, na vida em que vivemos”.
Referência:
- Waking,
Dreaming, being – Eva Thompson Columbia University
- Adam Frank no site www.noetic.com
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