Mas
primeiro precisamos discutir, afinal qual a diferença entre religião, religiosidade
e espiritualidade?
Definir religião e espiritualidade é
surpreendentemente difícil, em parte, porque estamos vivendo em um mundo cada
vez mais multicultural e multireligioso, e em parte porque os significados da
religião e da espiritualidade evoluem com o tempo, e o significado desses
termos mudou rapidamente nos últimos 50 anos.
Durante grande parte do século 20, a religião era
vista pelos psicólogos e outros cientistas sociais como um termo amplo que
abrangia tanto o individual quanto o institucional, tanto o bom quanto o mal, e
ambas as formas tradicionais e não tradicionais de espiritualidade. De
fato, algumas definições clássicas de religião seriam difíceis de distinguir
das concepções modernas de espiritualidade.
Na última parte do século, o termo espiritualidade foi
introduzido e começou a assumir alguns dos significados da
religiosidade. No processo, visões de base ampla da religião deram lugar a
perspectivas mais restritas, e os termos religião e espiritualidade tornaram-se
cada vez mais polarizados uns dos outros.
Espiritualidade tem a
ver com o espírito, não como fantasmas, mas como na essência do ser humano -
sua alma ou sua vida interior, seu Eu Maior ou Self.
Espiritualidade muitas
vezes tem a ver com religião. Poderíamos dizer: "Eu não sou
religioso, mas tenho um forte senso de espiritualidade", “acredito em
Jesus do meu jeito, não frequento nenhuma igreja”, o que pode significar que
você pratica Yoga ou meditação, ou reza com um grupo, ou nutre seu espírito
passando tempo na natureza, mas sem frequentar ou basear sua fé nos dogmas de
uma instituição organizada. As religiões geralmente definem crenças,
rituais, dogmas, sacramentos, normas e diretrizes; a espiritualidade é mais
individual.
A religião tem dois significados relacionados:
é a crença de que um ou mais seres divinos são responsáveis pelo destino de
toda a vida humana, e é também uma organização onde as pessoas de uma religião específica podem
expressar suas crenças, realizar seus rituais, cumprirem com os dogmas,
seguindo a orientação de um representante religioso como o Papa, Pastores,
Rabinos entre outros em um local específico como as igrejas ou templos.
Budismo, judaísmo, cristianismo, hinduísmo,
islamismo: estes são exemplos de religiões, e milhões em todo o mundo seguem os
princípios definidos por sua fé escolhida. A raiz da palavra religiosa vem
do latim e significa “ligar”, e a religião liga as pessoas não apenas por
suas práticas, mas também por suas ideias. A maioria das religiões tem sua
própria história sobre a criação do universo, e cada uma delas tem uma
explicação diferente para o significado da vida, que é uma fonte de conforto
para os seguidores de uma religião e normalmente baseiam-se em um ou mais
livros considerados sagrados como a Bíblia, o Alcorão ou a Torá.
As pesquisas sobre coping espiritual nos tratamentos clínicos de Phd Kenneth Pargament provavelmente o principal autor em psicologia e religião no mundo atualmente e, Professor de psicologia na Bowling Green State University (EUA), onde ele define a espiritualidade como “a busca pelo sagrado” , onde o termo “sagrado” refere-se não apenas a conceitos de Deus e poderes superiores, mas também a outros aspectos da vida que são percebidos como manifestações do divino ou imbuídos de qualidades divinas, como transcendência, imanência, infinitude e supremacia. Crenças, práticas, experiências, relacionamentos, motivações, arte, natureza, guerra - virtualmente qualquer parte da vida, positiva ou negativa, pode ser dotada de status sagrado; e suas pesquisas tem mostrado a relevância de considerar a visão do sagrado do paciente nos tratamentos clínicos dos mais diferentes diagnósticos.
Cada indivíduo reage de forma diferentes aos difíceis
momentos ou circunstancias da vida, uns utilizam a fé em sua crença religiosa
ou espiritual outros não. O coping então
tem suas funções segundo Panzini e são:
1. Sentido/significado
2. Controle
3. Conforto
4. Intimidade
5. Transformações na vida
O coping pode
ser:
1. Positivo – Traz significado e propósito a vida, integração psicológica,
motivação e esperança, usa a fé como auxilio positivo ao tratamento;
2. Neutro – Não usa sua crença ou fé religiosa/espiritual como auxilio ao
tratamento, nem como força e esperança nas situações negativas da vida;
3. Negativo – Promove medo, culpa e ansiedade, reavalia os poderes divinos
e/ou demoníacos, traz o sentimento de punição divina, prejudica o tratamento
clínico, tem rigidez de pensamentos e práticas excessivas entre outros
comportamentos nocivos.
As formas de coping:
1.
Auto direcionado
2.
Colaborativo (Participação ativa
ou renúncia)
3.
Delegativo (Submissão ou suplica)
Cada vez mais a ciência vem pesquisando a importância
da integralidade do ser, considerando que para a felicidade genuína, qualidade
de vida e bem-estar o ser humano deve estar integrado em sua saúde física,
mental, emocional e espiritual. Alguns clínicos de diferentes áreas já costumam
considerar em seus tratamentos, (alguns criando uma forma de anamnese
espiritual ou uma conversa franca sobre como o indivíduo usa a sua fé ou crença
para lidar com os diferentes aspectos da vida) a visão da
espiritualidade/religião (obviamente respeitando a fé ou crença, mas levando em
consideração se o coping é positivo,
negativo ou neutro).
É comum nos centros hospitalares o oferecimento de
ajuda espiritual caso o paciente sinta a necessidade de compartilhar com um
religioso a sua dor e não tenha especificamente aonde ir. Mesmo nos tratamentos
de saúde emocional e mental a visão de mundo que o paciente tem deve ser
considerada, hoje temos uma evolução nos tratamentos psicoterapêuticos e vemos
técnicas inovadoras com excelentes resultados que levam em consideração todas
as dimensões que compõem o ser humano como: a Psicologia Integral, Psicologia
Transpessoal, Terapia da Aceitação e Compromisso baseado em Mindfulness,
Terapia Baseada em Mindfulness, Terapia da Auto Compaixão, Terapia Focada em
Compaixão, e treinamentos da mente baseados na Psicologia Budista (que não usa
a religiosidade Budista, mas a filosofia e a psicologia contida nos
ensinamentos e suas técnicas de treinamento mental já descritas pelo próprio
Budha em 600 a.C. e atualmente consideradas técnicas de excelência para muitos
transtornos mentais e emocionais) entre muitas outras além da Ciência
Contemplativa e a Ciência da Compaixão, todos com benefícios cientificamente
comprovados por pesquisas em universidades americanas e europeias.
Estamos saindo daquela visão de mundo onde a
ciência percorria um caminho diferente e distante do caminho da
espiritualidade, mas caminham lado a lado de forma respeitosa para melhorar a
qualidade de vida levando em consideração todas as dimensões do ser humano.
Assim convido você leitor a observar-se e perguntar-se: como uso a minha fé
diante das dificuldades da vida? Meu terapeuta ou clínico leva em consideração
a minha visão espiritual?
Autora - Sonia A F Santos – Psicoterapeuta Transpessoal,
Analista Junguiana, Mindfulness & Compassion Instructor & Therapist do
Instituto Casa do Encontro.
Referencias:
·
Hill, PC, Pargament, KI, Hood, Jr. RW, McCullough,
ME, Swyers, JP, Larson, DB, & Zinnbauer, BJ (2000). Conceituando
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para a teoria do comportamento social, 30 , 51-77.
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Pargament,
KI, Mahoney, A., Exline, JJ, Jones, J., & Shafranske, E. (no
prelo). Prevendo um paradigma integrativo para a psicologia da religião e
da espiritualidade. Em KI Pargament (Ed. Em Chefe), J. Exline e J. Jones
(Assoc. Eds.), Manuais da APA em psicologia: Manual de Psicologia, Religião e
Espiritualidade da APA: Vol 1. (pp. Xxx-xxx ). Washington, DC: Associação
Americana de Psicologia.
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Pargament, KI (1999). A psicologia da religião
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Psicologia da Religião, 9 , 3-16.
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Pargamente, Koenig e Perez. The many Methods of
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Panzini & Bandeira, 2007 Ver Psi Clin 34:1