sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O Poder da Aceitação Radical e a Impermanência



O Poder da Aceitação Radical

“A consciência da impermanência e apreciação de nosso potencial humano nos dará um senso de urgência de que devemos usar cada momento precioso.”  Dalai Lama

A vida segue seu fluxo, os momentos veem e vão, o movimento do Universo nunca para. De repente já estamos no segundo semestre, e num piscar de olhos já estamos falando das festas do final de ano. Você, sua vida e o próprio planeta estão  em constante transformação. O Budismo já ensinava e a ciência já comprovou nada é permanente.

Quando tudo parece que está dando errado é muito positivo lembrar-se disso, principalmente quando temos que enfrentar situações difíceis com nossas emoções negativas nos esmagando entre a ansiedade pelo futuro e a depressão causada pela tristeza do passado. Experimentamos a dor do luto, o sofrimento pela perda de um emprego, ou o rompimento num relacionamento, o medo por um diagnóstico ou outra dor avassaladora.

Não desejo que este texto seja sombrio, mas apenas para provocar reflexões sobre o fluxo natural da vida, um fluxo pelo qual não temos controle, que se alterna entre momentos de muita felicidade e outros de muito sofrimento. Precisamos aprender em primeiro lugar que não temos controle, segundo que podemos enfrentar os desafios compreendendo que nenhuma experiência é permanente e em terceiro lugar que podemos superar com tranquilidade se nos conhecermos mais e conseguirmos equilibrar nossas emoções.
Aprender que nem os momentos de felicidade e nem os momentos de sofrimento são permanentes possibilita a construção de uma perspectiva de vida mais tranquila e alegre. O autoconhecimento também envolve a evolução da consciência, e ser consciente permite que possamos olhar a vida que estamos vivendo em sua totalidade, permite que estejamos inteiros em cada instância, seja ela maravilhosa ou sofrida. Todas as experiências da vida têm uma preciosidade, oferece um aprendizado efetivo e evolutivo.

Como a Psicologia Budista se relaciona com a Psicologia Ocidental

A Psicologia Ocidental ao longo de sua evolução se concentrou principalmente no diagnostico e no tratamento de doenças e enfermidade mentais e emocionais, propondo entre outras coisas o cultivo do bem-estar de forma positiva e não em somente eliminar os estados mentais negativos.

Alguns estudos  realizados desde 1970, quando a pratica da Mindfulness Based Stress Reduction desenvolvida por Jon Kabat Zinn começou a ser aplicada como processo terapêutico e, desde a criação do Mind And Life Institute fundado em 1991 com o objetivo de estabelecer um campo de estudos das ciências contemplativas e que tem entre seus fundadores nomes como 14th SS Dalai Lama, Francisco Varela e Adam Engle;  demonstraram que a Psicologia Budista e a Psicologia Ocidental entre outros campos científicos podem se unir com ferramentas poderosas para que o indivíduo manifeste o equilíbrio mental desejado. E este equilíbrio pode ser manifestado de quatro maneiras diferentes: Conativo, Atencioso, Cognitivo e  Afetivo (Wallace & Shapiro, 2006)

Regular as emoções para que aja um equilíbrio desejado pode ser realizado através da compreensão da impermanência. A Psicologia Budista mostra que a pratica correta de treinamento mental que permitem o desenvolvimento de estados mentais mais equilibrados, levando a eliminação dos pensamentos ruminantes e fantasiosos que produzem sofrimentos intensos. O treinamento mental é a fonte básica para uma mente calma e plena.

A compreensão da Impermanência como reforço da Psicologia

A Psicologia Positiva se junta à Psicologia Budista ao revelar que a felicidade genuína não é dependente dos fatores externos. A felicidade genuína é antes de tudo um  estado interno e que pode ser desenvolvido com praticas de meditação (principalmente a Mindfulness ou Shamata e Loving Kindness ou Metta Bhavana, junto com outros exercícios como a gratidão, perdão e atitudes focadas no bem, por exemplo.

Sabemos que os momentos de tristeza e dor estão muito ligados a como estamos vivendo em relação ao mundo externo: perdas e lutos, sentimento de ameaças de desemprego, solidão, incapacidade ou impotência que entre outros gera as chamadas emoções destrutivas na Psicologia Budista - Apego, Ignorância e Raiva que são a fonte de outras emoções negativas.
Aprender e compreender sobre a impermanência permite que aceitemos até mesmo com graça e leveza que aquilo que colocamos extrema atenção e apego  pode ser tirado da sua vida a qualquer momento.

O apego é uma das emoções destrutivas, e é a que mais dificulta o entendimento sobre a impermanência. Eu me lembro de que em uma das minhas palestras, uma médica comentava que aceitava perder bem material na vida, mas a ideia que ela podia morrer a qualquer instante era de um sofrimento tremendo, que sim ela tinha um profundo apego à vida, aos sonhos idealizados, a família, coisas que ela não admitia nem a possibilidade de perder. O pensamento  racional de aceitar que tudo e todos em nossa vida tem um tempo de duração pode sim ser um pensamento refrescante, pode mesmo ser um alívio.

Mas é muito importante salientar o que a Psicologia Positiva reforça é que a compreensão da impermanência não deve provocar nem um esforço extremo para manter na mente os pensamentos positivos ou atitudes forçadas de alegria e felicidade. A verdadeira compreensão está no fato de que momentos bons e ruins se alternam, e que tudo na vida tem data de validade. Para terminar vou citar Paul Wong – Psicólogo especializado em Psicologia Positiva e nas tradições chinesas:

O desejo pela felicidade necessariamente nos leva a temer ou rejeitar qualquer coisa que cause infelicidade ou dor. O apego à posse e à realização invariavelmente leva ao desapontamento e à desilusão, porque tudo é impermanente. Assim, a psicologia positiva de buscar experiências positivas e evitar experiências negativas é contraproducente, porque o próprio foco na felicidade contém a semente da infelicidade e do sofrimento. O fracasso em abraçar a experiência da vida em sua totalidade está na raiz do sofrimento. -Wong, 2007

Referencias:
·                    Wallace & Shapiro -https://www.sbinstitute.com/sites/default/files/mentalbalance.pdf
·                    Dr Paul Wong  - http://www.drpaulwong.com/writing/positive-psychology/







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