terça-feira, 21 de agosto de 2018

Afinal é que a Terapia da Auto Compaixão??




Afinal é que a Terapia da Auto Compaixão?

Vivemos num mundo de muitas cobranças, multitarefas, stress, novas doenças, dificuldades nos relacionamentos tanto os pessoais como os profissionais, quase que uma obrigação de sermos bem sucedidos, de acompanharmos os modismos e estarmos prontos  e saudáveis para tudo e ainda sermos calmos, pacientes e espiritualizados.

Com tudo isso, é muito comum não darmos uma atenção verdadeira para nós mesmos. A ciência uniu-se á psicologia Budista, e desta união muitas áreas científicas se desenvolveram mais rapidamente demonstrando a importância das técnicas meditativas como a MIndfulness (em Pali: Shamata) ou Atenção Plena, onde aprendemos a experienciar o momento presente sem julgamentos e criticas, aceitando as coisas como são. Agora as pesquisas estão comprovando o valor da Compaixão, líderes religiosos como SS Dalai Lama e o Papa Francisco, tem enfatizado a importância de sermos mais compassivos, líderes empresariais também tem notado a mudança na produtividade, na qualidade, e na rentabilidade de seus colaboradores que passam pelo treinamento da Atenção Plena e agora da importância de sermos compassivos no ambiente de trabalho.

Na Psicologia Budista as práticas de compaixão começam depois de algum tempo de prática de meditação da Atenção Plena (Shamata ou Mindfulness), começando primeiro pela autocompaixão e se desenvolvendo até chegarmos à compaixão por todos seres que possam ter uma antipatia por nós ou, de nós por eles, abrangendo assim todos os seres. Com esta ótica não se pode confundir a autocompaixão com arrogância ou presunção, porque isso em geral significa falta de amor-próprio.

É mais fácil sermos compassivos com os outros, principalmente com quem amamos e com as pessoas que não conhecemos, o que pouca gente sabe é que a compaixão deve começar em casa, no nosso mundo interior, o que chamamos de autocompaixão.

Mas o que é Autocompaixão?

Autocompaixão é a capacidade do ser de transformar compreensão, aceitação integral e amor próprio, e parece que é muito difícil nos dias de hoje de termos autocompaixão, principalmente porque corremos o risco de sermos chamados de egoístas, autoindulgentes ou que temos autopiedade. Mas na verdade, desenvolver a autocompaixão pode ajudar a aliviar muitos dos nossos problemas de saúde mental, principalmente em transtornos de ansiedade, depressão, alimentar, adicção entre outros, desequilíbrios emocionais, stress e seus sintomas, transformar comportamentos e hábitos nocivos e muito mais.

A Compaixão é a capacidade de demonstrarmos a nossa empatia, amor e preocupação com o sofrimento alheio, e a autocompaixão é simplesmente a capacidade de direcionar nossa empatia e amor para nós mesmos, aprendendo a nos aceitar em todos os aspectos e áreas da vida, promovendo o controle e equilíbrio das nossas emoções, criando um estado de clareza e paz mental e bem-estar nos nossos relacionamentos.

Segundo a Dr ª Kristin Neff, pesquisadora sobre a autocompaixão e seu processo terapêutico a mais de uma década, existe uma correlação positiva entre autocompaixão e bem estar psicológico. Para a pesquisadora pessoas que desenvolvem a autocompaixão tem maior conexão social, inteligência emocional, felicidade e satisfação geral com todos os aspectos, lidando com mais facilidade nas diferentes circunstâncias da vida. A autocompaixão tem três elementos importantes:

1.     A bondade amorosa  - aprender a  não fazer autocríticas e autojulgamentos severos;
2.     Reconhecer a própria humanidade – aceitação de que todos os seres humanos são imperfeitos e passam por experiências de sofrimento;
3.     Atenção Plena – desenvolver a consciência não tendenciosa das experiências vivenciadas, mesmos as dolorosas, em vez de buscar saídas automáticas como fuga, exagero ou ignorar o fato.

O professor  assistente do Centro Médico da Universidade de Columbia, Ravi Shah acredita que a autocompaixão é fundamental para desenvolver a resiliência saudável: “Hoje há muita discussão sobre o narcisismo e seus problemas, mas queremos que as pessoas tenham alguma  narcisismo saudável. Isso proporciona um senso de self estável quando as coisas não vão bem na vida, seja um dia ruim, uma perda na competição ou a perda de um emprego. Se perdermos nosso senso de valor próprio durante esses desafios da vida, teremos dificuldade em nos recuperar.” Ainda “se nos ativermos a padrões impossíveis, se nunca nos dermos o benefício da dúvida, provavelmente teremos problemas em fazê-lo para os outros. E pensar nos sentimentos dos outros e dar aos outros intervalos são habilidades essenciais para desenvolver relacionamentos sólidos ”.

Autocompaixão não é autoestima: a autocompaixão pode ser considerada uma forma de aceitação integral, mesmo diante de nosso próprio fracasso, enquanto que a autoestima busca validar uma autoavaliação favorável, focando principalmente no nosso sucesso diante de uma situação. Na autocompaixão desenvolvemos uma emoção que represente uma transformação, deixarmos de ser o que esperam que sejamos para sermos o que realmente somos. Na autocompaixão aceitamos nossos fracassos, falhas, sem nos colocarmos em posição de defesa, nem ficarmos nos justificando, reconhecendo antes de tudo que todo ser humano é digno de amor e aceitação. Já quem busca elevar a autoestima tende a ignorar ou a esconder as falhas pessoais.

A autocompaixão tem se tornado relevante mesmo na vida profissional, porque o reconhecimento e a aceitação dos próprios defeitos tende a levar a busca pelo crescimento e desenvolvimento pessoal de uma forma totalmente diferente do caminho da autoestima, já que esta pode levar a uma visão enviesada do self e assim dificultar uma mudança para melhor em áreas em que há falhas ou que desenvolvem emoções como a raiva, agressão ou apego e que ameaçam a autoimagem. Uma pessoa com autoestima exagerada tem maior propensão de não compreender o outro e assim colocá-lo para baixo, mantendo um self inflado.

A autocompaixão tem como foco o autodesenvolvimento, uma liderança servidora e consciente, que não depende de comparações sociais, da obrigação de ser bem sucedido. Ela reconhece e aceita os defeitos levando o indivíduo a melhorar seu senso de pertencimento, de ser digno de amor e respeito, em qualquer área da vida e em qualquer circunstância.

Importância da Autocompaixão

Pesquisadores como Kristin Neff e Christoffer Germer descobriram que a falta de autocompaixão tem influencia na saúde mental, principalmente nas pessoas que passaram por experiências traumáticas, perturbadoras, dolorosas ou perdas. Pessoas que se sentem culpadas ou com forte sentimento de vergonha, humilhadas, sofrem de doenças graves e limitantes podem acreditar que não merecem uma segunda chance  ou cura; o que pode levar ao desenvolvimento de quadros de depressão ou ansiedade insegurança e muito mais. A autocompaixão permite que o indivíduo abra novos caminhos, aceitando seus fracassos  e tentem novamente com mais coragem.

A autocompaixão tornou-se atualmente uma das técnicas terapêuticas de grande importância, aumentando seu efeito quando aliada a Mindfulness. Pesquisas científicas apontam que altos níveis de autocompaixão tem impacto positivo na recuperação de Stress pós-traumático, memórias dolorosas, esgotamento mental ou emocional, Síndrome de Burnout tanto com profissionais da área da saúde, como nas áreas da Educação, profissões com rotinas estressantes, para pais que tem cuidar de filhos com autismo, TDH, doenças graves que exigem cuidado intensivo.

Autocompaixão no processo terapêutico

A Terapia Cognitiva baseada em Mindfulness (MBCT) foi desenvolvida a partir do programa de redução de stress (MBSR) criado por Jon Kabat Zinn, e tem como objetivo desenvolver a autoconsciência e, influenciar de forma positiva nos níveis de autocompaixão. Desta forma espera-se que durante o processo psicoterapêutico o indivíduo torne-se capaz de observar os pensamentos ruminantes, e o desequilíbrio emocional que possam estar experimentando, modificando para pensamentos positivos, mudança do estado de humor, aumento do senso de amabilidade e bondade depois de perceberem suas falhas, aceitando prontamente o erro e direcionando sua energia para a autocompaixão.

Dr Paul Gilbert desenvolveu a Terapia Focada na Compaixão, principalmente para as emoções de culpa e vergonha, ele enfoca o processo terapêutico e o treinamento da mente compassiva como fatores importantes para desenvolver atributos e capacidades para aumentar a compaixão promovendo assim segurança e maior contentamento.


REFERÊNCIAS:
1.     Germer, C. (n.d.). Mindful self-compassion. Retrieved from http://www.mindfulselfcompassion.org.
2.     Gilbert, P. (2009). Introducing compassion-focused therapy. Advances in Psychiatric Treatment, 15(15), 199-208.
3.     Neff, K. (n.d.). Self Compassion. Retrieved from http://self-compassion.org/the-three-elements-of-self-compassion-2.
4.     Neff, K. (2011). Self-compassion: Stop beating yourself up and leave insecurity behind. New York, NY: William Morrow.
5.     Neff, K., & Faso, D. (2014). Self-Compassion and Well-Being in Parents of Children with Autism. Mindfulness.

Sonia A F Santos – Psicoterapeuta Transpessoal, Mindfulness & Compassion Therapist and Instructor – atende com hora marcada no Instituto Casa do Encontro – no Bairro do Campo Belo SP/SP.
Contato para atendimentos, entrevistas e informações:
Whatsapp: (11) 99463 5825

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