Afinal é que a Terapia da Auto
Compaixão?
Vivemos num mundo de muitas cobranças,
multitarefas, stress, novas doenças, dificuldades nos relacionamentos tanto os
pessoais como os profissionais, quase que uma obrigação de sermos bem
sucedidos, de acompanharmos os modismos e estarmos prontos e saudáveis para tudo e ainda sermos calmos,
pacientes e espiritualizados.
Com tudo isso, é muito comum não
darmos uma atenção verdadeira para nós mesmos. A ciência uniu-se á psicologia
Budista, e desta união muitas áreas científicas se desenvolveram mais rapidamente
demonstrando a importância das técnicas meditativas como a MIndfulness (em Pali:
Shamata) ou Atenção Plena, onde aprendemos a experienciar o momento presente
sem julgamentos e criticas, aceitando as coisas como são. Agora as pesquisas
estão comprovando o valor da Compaixão, líderes religiosos como SS Dalai Lama e
o Papa Francisco, tem enfatizado a importância de sermos mais compassivos,
líderes empresariais também tem notado a mudança na produtividade, na qualidade,
e na rentabilidade de seus colaboradores que passam pelo treinamento da Atenção
Plena e agora da importância de sermos compassivos no ambiente de trabalho.
Na Psicologia Budista as práticas de
compaixão começam depois de algum tempo de prática de meditação da Atenção
Plena (Shamata ou Mindfulness), começando primeiro pela autocompaixão e se desenvolvendo
até chegarmos à compaixão por todos seres que possam ter uma antipatia por nós
ou, de nós por eles, abrangendo assim todos os seres. Com esta ótica não se
pode confundir a autocompaixão com arrogância ou presunção, porque isso em
geral significa falta de amor-próprio.
É mais fácil sermos compassivos com os
outros, principalmente com quem amamos e com as pessoas que não conhecemos, o
que pouca gente sabe é que a compaixão deve começar em casa, no nosso mundo
interior, o que chamamos de autocompaixão.
Mas o que é Autocompaixão?
Autocompaixão é a capacidade do ser de
transformar compreensão, aceitação integral e amor próprio, e parece que é
muito difícil nos dias de hoje de termos autocompaixão, principalmente porque corremos
o risco de sermos chamados de egoístas, autoindulgentes ou que temos autopiedade.
Mas na verdade, desenvolver a autocompaixão pode ajudar a aliviar muitos dos
nossos problemas de saúde mental, principalmente em transtornos de ansiedade,
depressão, alimentar, adicção entre outros, desequilíbrios emocionais, stress e
seus sintomas, transformar comportamentos e hábitos nocivos e muito mais.
A Compaixão é a capacidade de demonstrarmos
a nossa empatia, amor e preocupação com o sofrimento alheio, e a autocompaixão
é simplesmente a capacidade de direcionar nossa empatia e amor para nós mesmos,
aprendendo a nos aceitar em todos os aspectos e áreas da vida, promovendo o
controle e equilíbrio das nossas emoções, criando um estado de clareza e paz
mental e bem-estar nos nossos relacionamentos.
Segundo a Dr ª Kristin Neff,
pesquisadora sobre a autocompaixão e seu processo terapêutico a mais de uma
década, existe uma correlação positiva entre autocompaixão e bem estar
psicológico. Para a pesquisadora pessoas que desenvolvem a autocompaixão tem
maior conexão social, inteligência emocional, felicidade e satisfação geral com
todos os aspectos, lidando com mais facilidade nas diferentes circunstâncias da
vida. A autocompaixão tem três elementos importantes:
1. A bondade amorosa - aprender a
não fazer autocríticas e autojulgamentos severos;
2. Reconhecer a própria humanidade – aceitação de
que todos os seres humanos são imperfeitos e passam por experiências de
sofrimento;
3. Atenção Plena – desenvolver a consciência não
tendenciosa das experiências vivenciadas, mesmos as dolorosas, em vez de buscar
saídas automáticas como fuga, exagero ou ignorar o fato.
O professor assistente do Centro Médico da Universidade de
Columbia, Ravi Shah acredita que a autocompaixão é fundamental para desenvolver
a resiliência saudável: “Hoje há muita discussão sobre o narcisismo e seus
problemas, mas queremos que as pessoas tenham alguma narcisismo saudável. Isso proporciona um senso de self estável quando as
coisas não vão bem na vida, seja um dia ruim, uma perda na competição ou a perda de
um emprego. Se perdermos nosso senso de valor próprio durante esses
desafios da vida, teremos dificuldade em nos recuperar.” Ainda “se nos
ativermos a padrões impossíveis, se nunca nos dermos o benefício da dúvida,
provavelmente teremos problemas em fazê-lo para os outros. E pensar nos
sentimentos dos outros e dar aos outros intervalos são habilidades essenciais
para desenvolver relacionamentos sólidos ”.
Autocompaixão não é autoestima: a
autocompaixão pode ser considerada uma forma de aceitação integral, mesmo
diante de nosso próprio fracasso, enquanto que a autoestima busca validar uma
autoavaliação favorável, focando principalmente no nosso sucesso diante de uma
situação. Na autocompaixão desenvolvemos uma emoção que represente uma
transformação, deixarmos de ser o que esperam que sejamos para sermos o que
realmente somos. Na autocompaixão aceitamos nossos fracassos, falhas, sem nos
colocarmos em posição de defesa, nem ficarmos nos justificando, reconhecendo
antes de tudo que todo ser humano é digno de amor e aceitação. Já quem busca
elevar a autoestima tende a ignorar ou a esconder as falhas pessoais.
A autocompaixão tem se tornado
relevante mesmo na vida profissional, porque o reconhecimento e a aceitação dos
próprios defeitos tende a levar a busca pelo crescimento e desenvolvimento
pessoal de uma forma totalmente diferente do caminho da autoestima, já que esta
pode levar a uma visão enviesada do self e assim dificultar uma mudança para
melhor em áreas em que há falhas ou que desenvolvem emoções como a raiva,
agressão ou apego e que ameaçam a autoimagem. Uma pessoa com autoestima
exagerada tem maior propensão de não compreender o outro e assim colocá-lo para
baixo, mantendo um self inflado.
A autocompaixão tem como foco o
autodesenvolvimento, uma liderança servidora e consciente, que não depende de
comparações sociais, da obrigação de ser bem sucedido. Ela reconhece e aceita
os defeitos levando o indivíduo a melhorar seu senso de pertencimento, de ser
digno de amor e respeito, em qualquer área da vida e em qualquer circunstância.
Importância da Autocompaixão
Pesquisadores como Kristin Neff e
Christoffer Germer descobriram que a falta de autocompaixão tem influencia na
saúde mental, principalmente nas pessoas que passaram por experiências traumáticas,
perturbadoras, dolorosas ou perdas. Pessoas que se sentem culpadas ou com forte
sentimento de vergonha, humilhadas, sofrem de doenças graves e limitantes podem
acreditar que não merecem uma segunda chance ou cura; o que pode levar ao desenvolvimento
de quadros de depressão ou ansiedade insegurança e muito mais. A autocompaixão
permite que o indivíduo abra novos caminhos, aceitando seus fracassos e tentem novamente com mais coragem.
A autocompaixão tornou-se atualmente
uma das técnicas terapêuticas de grande importância, aumentando seu efeito
quando aliada a Mindfulness. Pesquisas científicas apontam que altos níveis de
autocompaixão tem impacto positivo na recuperação de Stress pós-traumático,
memórias dolorosas, esgotamento mental ou emocional, Síndrome de Burnout tanto com
profissionais da área da saúde, como nas áreas da Educação, profissões com
rotinas estressantes, para pais que tem cuidar de filhos com autismo, TDH,
doenças graves que exigem cuidado intensivo.
Autocompaixão no processo terapêutico
A Terapia Cognitiva baseada em
Mindfulness (MBCT) foi desenvolvida a partir do programa de redução de stress (MBSR)
criado por Jon Kabat Zinn, e tem como objetivo desenvolver a autoconsciência e,
influenciar de forma positiva nos níveis de autocompaixão. Desta forma
espera-se que durante o processo psicoterapêutico o indivíduo torne-se capaz de
observar os pensamentos ruminantes, e o desequilíbrio emocional que possam
estar experimentando, modificando para pensamentos positivos, mudança do estado
de humor, aumento do senso de amabilidade e bondade depois de perceberem suas falhas,
aceitando prontamente o erro e direcionando sua energia para a autocompaixão.
Dr Paul Gilbert desenvolveu a Terapia
Focada na Compaixão, principalmente para as emoções de culpa e vergonha, ele
enfoca o processo terapêutico e o treinamento da mente compassiva como fatores
importantes para desenvolver atributos e capacidades para aumentar a compaixão
promovendo assim segurança e maior contentamento.
REFERÊNCIAS:
1.
Germer, C.
(n.d.). Mindful self-compassion. Retrieved from
http://www.mindfulselfcompassion.org.
2.
Gilbert, P.
(2009). Introducing compassion-focused therapy. Advances in Psychiatric
Treatment, 15(15), 199-208.
3.
Neff, K. (n.d.).
Self Compassion. Retrieved from
http://self-compassion.org/the-three-elements-of-self-compassion-2.
4.
Neff, K. (2011).
Self-compassion: Stop beating yourself up and leave insecurity behind. New
York, NY: William Morrow.
5.
Neff, K., &
Faso, D. (2014). Self-Compassion and Well-Being in Parents of Children with
Autism. Mindfulness.
Sonia A F Santos – Psicoterapeuta Transpessoal,
Mindfulness & Compassion Therapist and Instructor – atende com hora marcada
no Instituto Casa do Encontro – no Bairro do Campo Belo SP/SP.
Contato para atendimentos, entrevistas
e informações:
E-mail: seratento.2016@gmail.com
Whatsapp: (11) 99463 5825
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