terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Mindfulness e Psicoterapia – Perspectivas e Ferramentas



Mindfulness e Psicoterapia – Perspectivas e Ferramentas

Mindfulness quer dizer atenção plena e é uma das técnicas contemporâneas  mais importantes no tratamento de depressão e ansiedade e tem sido exaustivamente estudada em grandes centros universitários de pesquisa. Disto quase todo mundo já sabe. Como técnica de tratamento complementar ela é moderna, mas sua base é muito antiga, sua origem vem da técnica de meditação budista chamada Shamatha (Sânscrito) ou Anapanasati (pali)– primeira fase das técnicas de meditação do Budismo, ambas as palavras significam – atenção plena.

Mindfulness como técnica de tratamento terapêutico começou a ser utilizada nos tratamento de pacientes internados com depressão por Jon Kabat Zinn no School Medicine of Massachusets, com excelentes resultados. Muitos outros estudos sobre a sua aplicabilidade começaram a ser pesquiados abrangendo não só áreas da Saúde Mental e Neurociências mas também outras áreas da  Medicina, além da Educação, Administração e muito mais.

Sabemos que ela tornou-se uma aliada profunda nos tratamentos psicoterapêuticos. Uma ferramenta que pode ser usada tanto na Psicanálise, na Análise Junguiana, nas Terapias Cognitivas Comportamentais, de Aceitação entre outras ampliando os resultados e favorecendo o processo.

Mas o que é Atenção Plena? Costumo dizer aos meus pacientes e alunos que Mindfulness envolve entre muitas outras coisas levar a atenção para o exato momento presente deixando de lado as histórias emoções pensamentos e sentimentos do passado e anseios e angústias quanto ao futuro. Mindfulness significa estar consciente do que está acontecendo exatamente agora.

Sempre podemos, em qualquer lugar que estejamos fazer uma pausa em nossa vida diária. Nesta pausa podemos observar o que estamos fazendo, e como, o que estamos vendo e ouvindo, como estamos respirando, caminhando, dirigindo. E se a mente vaguear traga-a de volta ao momento da pausa. Foque no momento presente, faça disto um hábito! Isto é o começo de uma prática de atenção plena ou Mindfulness. Sem criticas ou julgamento, e com muita gentileza consigo mesmo mantenha-se consciente sobre tudo o que está acontecendo com você no agora, o que quer que seja e não faça dramas mentais, não caia nas armadilhas dos pensamentos ruminantes, não desenvolva discursos mentais. Apenas observe e mantenha-se consciente de tudo o que estiver acontecendo no ambiente ao seu redor.

De vez enquando, durante a prática de Mindfulness, pare para observar a sua postura, o alinhamento da sua coluna vertebral, os pontos do seu corpo que estão tocando o chão ou a cadeira, seus pés, sua roupa, os sons mais pertos e os mais distantes, sua respiração. Esta observação pode levar alguns minutos, segundos, cada um tem seu tempo, leve o tempo que desejar.

Mindfulness é um poderoso antídoto contra as angústias da depressão ou da ansiedade, ela ajuda a controlar e até mesmo a evitar os pensamentos ruminantes ou fantasiosos, os discursos mentais que podem ser intermináveis, inúteis e angustiantes. Evitar estas repetições ajuda a controlar e até curar comportamentos nocivos e prejudiciais. A Psicologia Budista ensina a construir novos padrões de reações a acontecimentos que sejam prejudiciais à saúde física ou mental. Sabemos que as nossas reações são constituídas por associações físicas, mentais e emocionais com a experiência. Por isto muitas de nossas reações ocorrem no piloto automático, agimos como se estivéssemos em transe. Precisamos atuar de forma consciente, porque caso contrário nossas percepções futuras com o resultado se tornam distorcidas, nos habituamos a viver de forma inconsciente, automática, distantes da realidade que nos rodeia (Brazier, 2003). A Psicologia Budista enfatiza a necessidade de sairmos do piloto automático e de estarmos sempre em contato com a realidade.

A prática da Mindfulness pode ser uma poderosa aliada nos tratamentos das dores crônicas como a Fibromialgia, além dos transtornos depressivos. Aliando a prática de Mindfulness com os exercícios de Yoga e os Pranayamas, Jon Kabat Zinn deu um grande impulso no tratamento da dor crônica, permitindo que os pacientes tivessem maior controle sobre a dor, conquistando maior qualidade de vida, mesmo com a dor persistente. A Mindfulness revelou-se importante na redução significativa dos sintomas dos níveis de ansiedade, da frequência dos ataques de pânico e até mesmo nos casos de psoríase.

Segundo Segal, Willians e Teasdale, 2002, pacientes que têm reincidência nos quadros de depressão, criam um link com estados de mau humor, fadiga constante e pensamentos ruminantes e negativos, e neste processo acaba por acionar os demais componentes da depressão. Quando o paciente depressivo pratica com diligência a Mindfulness, eles aprendem a detectar o que está acontecendo e a interromper a sequencia do processo da depressão, melhorando a qualidade do sono, afastando os pensamentos negativos e os demais sintomas, inclusive diminuindo a produção dos hormônios que contribuem para a depressão e o stress.

Para pacientes que sofrem de ataques de pânico ou ansiedade, controle excessivo sobre si mesmo e os outros a Mindfulness também tem sido muito utilizada, pois ela ajuda o paciente a manter-se consciente de tudo o que acontece à sua volta mesmo durante o ataque de pânico, tornando a experiência menos assustadora, a preocupação menos excessiva e uma maior aceitação sobre a própria experiência. Desta forma, o paciente aprende a viver sem evitar locais ou pessoas e situações que normalmente desencadeiam os ataques.

Mindfulness ensina ao praticante que ele tem infinitas escolhas e não um único caminho a ser percorrido, pode adotar outras reações aos eventos do que a forma costumeira e automática de pensar e agir.

Como Psicoterapeuta e Mindfulness Instructor, sei que a técnica não é um placebo ou uma falácia, mas ela também não é a resposta para todos os problemas físicos, mentais ou emocionais. Ela com certeza científica trás grandes benefícios para seus praticantes, mas já conheci pacientes em que ela não produziu nenhum efeito. Pessoas diferentes podem necessitar de diferentes técnicas de Mindfulness ou até mesmo de outra técnica de meditação. Aprendi no consultório que alguns pacientes obtinham melhores benefícios com técnicas de meditação diferentes, outras quando aliavam técnicas de meditação mais conectadas com sua crença religiosa/espiritual tinham um Coping positivo e desta forma apresentava os mesmos benefícios que eu esperava obter aplicando a Mindfulness.

Uma prática meditativa quando executada disciplinada e corretamente não só reduz o stress e seus sintomas, produz relaxamento e revela o que precisa ser feito, acontece, no entanto, que muitas vezes este processo pode ser muito doloroso. Por isto é muito importante, que o terapeuta conheça muito bem e seja ele mesmo um praticante de Mindfulness e também conheça outras técnicas meditativas e Coping, assim ele sabe o que pode esperar como resposta da prática, pode aliar outros exercícios ou mudar de técnica de acordo com a necessidade ou a personalidade do paciente.

Jack Kornfield (2002) também observou que determinados pacientes psiquiátricos, já não conseguem aprender as regras corretas para a prática de Mindfulness, mas podem desenvolver alguma atenção com qualidade, aprendendo a meditação através do Yoga, do Tai Chi, da Jardinagem, práticas que conectem a mente com o corpo, como as práticas de meditação dinâmica.

A importância do terapeuta ou médico conhecer e praticar a Mindfulness se dá, porque o paciente pode trazer ao consultório uma euforia temporária, relato de experiências místicas ou ditas transcendentais, que se não forem adequadamente elucidadas podem fugir à proposta da Mindfulness, afinal sabemos que a prática tem um processo de desenvolvimento da atenção plena, que sempre foi muito bem estudado e esclarecido nos textos da Psicologia Budista. Nenhuma experiência causa algum mal, e ela não dura, mas ela não é o desejo pelo qual se ensina a prática. Por isto é muito importante acompanhar a evolução da prática, através de questionários, acompanhamento dos relatos, sensações e emoções despertadas, além de esclarecer ao paciente que ele não deve valorizar qualquer experiência, desejar experienciá-la novamente, que o efeito irá desaparecer e que não ganhará nada tentando obtê-la de volta. Gosto de incluir a prática de Mindfulness no consultório, seja em grupo ou durante a sessão, desta forma sempre tenho a oportunidade de verificar se a prática está sendo executada corretamente – já vi pessoas dormirem e depois dizerem que meditaram profundamente -  e acompanhar a evolução do desenvolvimento da atenção plena, corrigir problemas posturais ou de respiração ou incluir outros exercícios que ajudem.

Se você gosta de aprender técnicas contemporâneas e deseja incluir Mindfulness, Coping ou outras técnicas de meditação compreenda que é muito importante ter um profissional para acompanhar seu próprio desenvolvimento. Você também deve ser um praticante, desta forma fica mais fácil esclarecer as dúvidas do seu paciente.

Referências:

·      www.meditationandpsychoterapy.org;
·      www.bangor.ac.uk;
·      www.umassmed.edu./cfm
·      www.wildmind.org;
·      Kornfield J, (2002) – A Path with a Heart, Rider, London;
·      Germer C, Siegal R, Fulton P (2005) – Mindfulness and Psychoterapy – The Guildford Press, NY and London;
·      Zinn, J Kabat (1990) – Full Catastrophe Living – N Y

Sonia A F Santos – Psicoterapeuta, Analista Junguiana, Mindfulness Based Therapist, Mindfulness Based stress Reduction (MBSR) Instructor.

Programa de Cursos para Janeiro:

·      Workshop Gratuito – Mindfulness – Dia 9 /01 às 14h
·      Workshop Gratuito de Meditação  - Dia 11/01 às 19h
·      Curso de Formação de Professores de Meditação – Inicio 19/01 (duas turmas em formação tarde e noite)
·      Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) Nível I (16 e 17/01) e Nível II (30 e 31 de Janeiro) e ainda novas turmas para fevereiro
·      O’Morain, Padraig (2008) Mindfulness as therapeutic tool – Dublin Irish



Para atendimento psicoterapêutico ou inscrições em cursos ou workshops escreva para o e-mail: saleela.devi@gmail.com

Local de Atendimento e Cursos: Espaço Viver com Arte – Campo Belo SP/SP
Estes e outros cursos e palestras podem ser oferecidos em empresas, espaços, outras cidades  e estados






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