Mindfulness
e Psicoterapia – Perspectivas e Ferramentas
Mindfulness quer dizer atenção plena e é uma
das técnicas contemporâneas mais
importantes no tratamento de depressão e ansiedade e tem sido exaustivamente
estudada em grandes centros universitários de pesquisa. Disto quase todo mundo
já sabe. Como técnica de tratamento complementar ela é moderna, mas sua base é
muito antiga, sua origem vem da técnica de meditação budista chamada Shamatha
(Sânscrito) ou Anapanasati (pali)– primeira fase das técnicas de meditação do
Budismo, ambas as palavras significam – atenção
plena.
Mindfulness como técnica de tratamento
terapêutico começou a ser utilizada nos tratamento de pacientes internados com
depressão por Jon Kabat Zinn no School Medicine of Massachusets, com excelentes
resultados. Muitos outros estudos sobre a sua aplicabilidade começaram a ser pesquiados
abrangendo não só áreas da Saúde Mental e Neurociências mas também outras áreas
da Medicina, além da Educação,
Administração e muito mais.
Sabemos que ela tornou-se uma aliada profunda
nos tratamentos psicoterapêuticos. Uma ferramenta que pode ser usada tanto na
Psicanálise, na Análise Junguiana, nas Terapias Cognitivas Comportamentais, de
Aceitação entre outras ampliando os resultados e favorecendo o processo.
Mas o que é Atenção Plena? Costumo dizer aos
meus pacientes e alunos que Mindfulness envolve entre muitas outras coisas
levar a atenção para o exato momento presente deixando de lado as histórias
emoções pensamentos e sentimentos do passado e anseios e angústias quanto ao
futuro. Mindfulness significa estar consciente do que está acontecendo
exatamente agora.
Sempre podemos, em qualquer lugar que
estejamos fazer uma pausa em nossa vida diária. Nesta pausa podemos observar o
que estamos fazendo, e como, o que estamos vendo e ouvindo, como estamos
respirando, caminhando, dirigindo. E se a mente vaguear traga-a de volta ao
momento da pausa. Foque no momento presente, faça disto um hábito! Isto é o
começo de uma prática de atenção plena ou Mindfulness. Sem criticas ou
julgamento, e com muita gentileza consigo mesmo mantenha-se consciente sobre
tudo o que está acontecendo com você no agora, o que quer que seja e não faça
dramas mentais, não caia nas armadilhas dos pensamentos ruminantes, não
desenvolva discursos mentais. Apenas observe e mantenha-se consciente de tudo o
que estiver acontecendo no ambiente ao seu redor.
De vez enquando, durante a prática de
Mindfulness, pare para observar a sua postura, o alinhamento da sua coluna
vertebral, os pontos do seu corpo que estão tocando o chão ou a cadeira, seus
pés, sua roupa, os sons mais pertos e os mais distantes, sua respiração. Esta observação
pode levar alguns minutos, segundos, cada um tem seu tempo, leve o tempo que
desejar.
Mindfulness é um poderoso antídoto contra as
angústias da depressão ou da ansiedade, ela ajuda a controlar e até mesmo a
evitar os pensamentos ruminantes ou fantasiosos, os discursos mentais que podem
ser intermináveis, inúteis e angustiantes. Evitar estas repetições ajuda a
controlar e até curar comportamentos nocivos e prejudiciais. A Psicologia
Budista ensina a construir novos padrões de reações a acontecimentos que sejam
prejudiciais à saúde física ou mental. Sabemos que as nossas reações são
constituídas por associações físicas, mentais e emocionais com a experiência. Por
isto muitas de nossas reações ocorrem no piloto automático, agimos como se estivéssemos
em transe. Precisamos atuar de forma consciente, porque caso contrário nossas
percepções futuras com o resultado se tornam distorcidas, nos habituamos a
viver de forma inconsciente, automática, distantes da realidade que nos rodeia
(Brazier, 2003). A Psicologia Budista enfatiza a necessidade de sairmos do
piloto automático e de estarmos sempre em contato com a realidade.
A prática da Mindfulness pode ser uma poderosa
aliada nos tratamentos das dores crônicas como a Fibromialgia, além dos
transtornos depressivos. Aliando a prática de Mindfulness com os exercícios de
Yoga e os Pranayamas, Jon Kabat Zinn deu um grande impulso no tratamento da dor
crônica, permitindo que os pacientes tivessem maior controle sobre a dor,
conquistando maior qualidade de vida, mesmo com a dor persistente. A Mindfulness
revelou-se importante na redução significativa dos sintomas dos níveis de
ansiedade, da frequência dos ataques de pânico e até mesmo nos casos de
psoríase.
Segundo Segal, Willians e Teasdale, 2002,
pacientes que têm reincidência nos quadros de depressão, criam um link com
estados de mau humor, fadiga constante e pensamentos ruminantes e negativos, e
neste processo acaba por acionar os demais componentes da depressão. Quando o
paciente depressivo pratica com diligência a Mindfulness, eles aprendem a
detectar o que está acontecendo e a interromper a sequencia do processo da
depressão, melhorando a qualidade do sono, afastando os pensamentos negativos e
os demais sintomas, inclusive diminuindo a produção dos hormônios que contribuem
para a depressão e o stress.
Para pacientes que sofrem de ataques de
pânico ou ansiedade, controle excessivo sobre si mesmo e os outros a
Mindfulness também tem sido muito utilizada, pois ela ajuda o paciente a
manter-se consciente de tudo o que acontece à sua volta mesmo durante o ataque
de pânico, tornando a experiência menos assustadora, a preocupação menos
excessiva e uma maior aceitação sobre a própria experiência. Desta forma, o
paciente aprende a viver sem evitar locais ou pessoas e situações que normalmente
desencadeiam os ataques.
Mindfulness ensina ao praticante que ele tem
infinitas escolhas e não um único caminho a ser percorrido, pode adotar outras
reações aos eventos do que a forma costumeira e automática de pensar e agir.
Como Psicoterapeuta e Mindfulness Instructor, sei que a técnica não é um placebo ou uma
falácia, mas ela também não é a resposta para todos os problemas físicos,
mentais ou emocionais. Ela com certeza científica trás grandes benefícios para
seus praticantes, mas já conheci pacientes em que ela não produziu nenhum
efeito. Pessoas diferentes podem necessitar de diferentes técnicas de Mindfulness
ou até mesmo de outra técnica de meditação. Aprendi no consultório que alguns
pacientes obtinham melhores benefícios com técnicas de meditação diferentes,
outras quando aliavam técnicas de meditação mais conectadas com sua crença
religiosa/espiritual tinham um Coping
positivo e desta forma apresentava os mesmos benefícios que eu esperava obter
aplicando a Mindfulness.
Uma prática meditativa quando executada
disciplinada e corretamente não só reduz o stress e seus sintomas, produz
relaxamento e revela o que precisa ser feito, acontece, no entanto, que muitas
vezes este processo pode ser muito doloroso. Por isto é muito importante, que o
terapeuta conheça muito bem e seja ele mesmo um praticante de Mindfulness e
também conheça outras técnicas meditativas e Coping, assim ele sabe o que pode esperar como resposta da prática,
pode aliar outros exercícios ou mudar de técnica de acordo com a necessidade ou
a personalidade do paciente.
Jack Kornfield (2002) também observou que
determinados pacientes psiquiátricos, já não conseguem aprender as regras
corretas para a prática de Mindfulness, mas podem desenvolver alguma atenção com
qualidade, aprendendo a meditação através do Yoga, do Tai Chi, da Jardinagem,
práticas que conectem a mente com o corpo, como as práticas de meditação
dinâmica.
A importância do terapeuta ou médico conhecer
e praticar a Mindfulness se dá, porque o paciente pode trazer ao consultório
uma euforia temporária, relato de experiências místicas ou ditas
transcendentais, que se não forem adequadamente elucidadas podem fugir à
proposta da Mindfulness, afinal sabemos que a prática tem um processo de
desenvolvimento da atenção plena, que sempre foi muito bem estudado e
esclarecido nos textos da Psicologia Budista. Nenhuma experiência causa algum
mal, e ela não dura, mas ela não é o desejo pelo qual se ensina a prática. Por isto
é muito importante acompanhar a evolução da prática, através de questionários,
acompanhamento dos relatos, sensações e emoções despertadas, além de esclarecer
ao paciente que ele não deve valorizar qualquer experiência, desejar experienciá-la
novamente, que o efeito irá desaparecer e que não ganhará nada tentando obtê-la
de volta. Gosto de incluir a prática de Mindfulness no consultório, seja em
grupo ou durante a sessão, desta forma sempre tenho a oportunidade de verificar
se a prática está sendo executada corretamente – já vi pessoas dormirem e
depois dizerem que meditaram profundamente -
e acompanhar a evolução do desenvolvimento da atenção plena, corrigir
problemas posturais ou de respiração ou incluir outros exercícios que ajudem.
Se você gosta de aprender técnicas contemporâneas
e deseja incluir Mindfulness, Coping
ou outras técnicas de meditação compreenda que é muito importante ter um
profissional para acompanhar seu próprio desenvolvimento. Você também deve ser
um praticante, desta forma fica mais fácil esclarecer as dúvidas do seu
paciente.
Referências:
· www.meditationandpsychoterapy.org;
· www.bangor.ac.uk;
· www.umassmed.edu./cfm
· www.wildmind.org;
· Kornfield J, (2002) – A Path with a Heart, Rider, London;
· Germer C, Siegal R, Fulton P (2005) – Mindfulness and Psychoterapy
– The Guildford Press, NY and London;
· Zinn, J Kabat (1990) – Full Catastrophe Living – N Y
Sonia A F
Santos – Psicoterapeuta,
Analista Junguiana, Mindfulness Based Therapist, Mindfulness Based stress
Reduction (MBSR) Instructor.
Programa de
Cursos para Janeiro:
· Workshop
Gratuito – Mindfulness – Dia 9 /01 às 14h
· Workshop
Gratuito de Meditação - Dia 11/01 às 19h
· Curso de
Formação de Professores de Meditação – Inicio 19/01 (duas turmas em formação
tarde e noite)
· Mindfulness
Based Stress Reduction (MBSR) Nível I (16 e 17/01) e Nível II (30 e 31 de
Janeiro) e ainda novas turmas para fevereiro
· O’Morain,
Padraig (2008) Mindfulness as therapeutic tool – Dublin Irish
Para atendimento psicoterapêutico ou
inscrições em cursos ou workshops escreva para o e-mail: saleela.devi@gmail.com
Local de Atendimento
e Cursos: Espaço Viver com Arte – Campo Belo SP/SP
Estes e
outros cursos e palestras podem ser oferecidos em empresas, espaços, outras
cidades e estados
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