segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Nossa sou controladora e arruíno todas as minhas relações! E agora?



Nossa sou controladora e arruíno todas as minhas relações! E agora?

Algumas pessoas têm a necessidade incessante, inconsciente e exagerada de controlar tudo, não só as atividades do dia a dia, mas o próprio ambiente, seus relacionamentos pessoais e profissionais, e às vezes até a vida de outras pessoas com um apego excessivo e desgastante! Temem o imprevisível e ambíguo, necessitam provar-se e têm medo de perder o controle.

Você conhece alguém assim? Eu sim! E fiquei surpreendida ao ver uma jovem muito bem educada, estudada, comunicativa, linda tentando até controlar o Universo! Olhava constantemente no celular esperando por uma mensagem que não vinha! Enquanto conversávamos ela foi falando das dores no corpo sem causa aparente encontrada pelos médicos, e outros problemas sérios de saúde; percebi o quanto ela somatizava a necessidade de controlar o mundo e as pessoas, principalmente aquelas a quem tanto ama.

Fiquei então pensando - quantas pessoas são assim! Ainda mais agora com tanta tecnologia a nosso dispor, se não bastassem os celulares e a internet; temos ainda vários aplicativos onde podemos saber a onde as pessoas estão, estes aplicativos que só faltam dizer o que estão fazendo. Aja amor para aguentar alguém tão controlador na vida da gente.

Se o ato de controlar é uma reação típica do medo de perder o controle, podemos imaginar a quantidade de energia dispendida na luta árdua de manter o controle de tudo, por isto é comum que estas pessoas não aguentem ficar à mercê das outras pessoas, como psicoterapeuta sei que eventos traumáticos podem ter causado sentimentos de impotência e vulnerabilidade, devido a isto elas controlam de forma inconsciente e desproporcional. Algumas podem ter vivido momentos de perda de controle de suas vidas, talvez dominadas por crenças arraigadas, certezas ambíguas, falsos paradigmas e tudo o que mais desejam é recuperar o controle de suas próprias vidas, provar a si-mesmas que são capazes, que sabem o que querem, que podem mudar por si-mesmas e os outros, outras se sentem vitimas e tudo o que desejam é manter pulso firme das leis do Universo para não permitir que nada mais de ruim lhes aconteça seja em que área da vida for.

Existe uma verdadeira necessidade de controlar e, na cabeça delas, uma necessidade bem fundamentada, e assim elas permanecem voltadas para o mundo externo, afinal focarem no mundo interno as leva ao autoconhecimento e isto dói! Elas precisam encontrar coisas ou pessoas para controlar e, controlam até o comportamento das outras pessoas, com quem andam, namoram, o que fazem ou deixam de fazer, quem pode ou não chegar perto, mantêm regras rígidas sobre as suas próprias rotinas, são extremamente organizadas, e decidem quem pode ou não entrar em seu ambiente particular. Quando o controle chega ao nível doentio podem infligir dor aos seus entes queridos, expô-las ao ridículo, isolá-las ou restringi-las, podem se tornar agressivas, afinal elas sentem uma dor ou uma angústia interna profunda enterrada e não reconhecida.

O controle pode estar relacionado a:

·        Experiências de vida abusivas ou traumáticas;
·        Falta de confiança em si – mesma;
·        Sofrer de ansiedade ou depressão;
·        Tem medo de ser abandonado;
·        Pode ter baixa autoestima;
·        Problemas com suas crenças, valores e até mesmo com sua fé;
·        Perfeccionismo e medo do fracasso;
·        Desequilíbrio emocional ou medo de experimentar emoções dolorosas;
·        Teme desagradar os outros.

Existem muitas formas de exercer o controle sobre os outros:

·        Micro gerenciamento;
·        Na forma de comunicação, vestuário, diversão;
·        Desonestidade;
·        Superproteção;
·        Assédio físico, sexual ou emocional;
·        Ciúme e apego anormal;
·        Paranoia;
·        Narcisismo;
·        Ações Obsessivas;

O excesso de controle pode causar:

·        Transtornos Alimentares;
·        Transtornos Obsessivos Compulsivos Impulsivos (desde abuso de drogas até organização excessiva, arrumação e limpeza);
·        Automutilação;
·        Outros problemas de saúde mental como ansiedade, depressão, stress;

Será que a Psicoterapia pode ajudar?


Quando a pessoa controladora toma consciência de que suas atitudes estão prejudicando seus relacionamentos, sua vida profissional, suas amizades a Psicoterapia pode ser de profunda ajuda. Este processo irá ajudar a desvendar a origem da necessidade de controlar a tudo e a todos. Juntos cliente e terapeuta irão enfrentar os medos e suas angústias, o desequilíbrio emocional, a depressão ou a ansiedade e desenvolver as estratégias adequadas para o enfrentamento que pode incluir o coping espiritual/religioso. Durante o processo psicoterapêutico a autoconsciência e o autoconhecimento irão aumentar e isto irá contribuir para o abandono da necessidade de controlar e de jogar com as situações para se obter o que deseja.

Na terapia, o cliente irá identificar o que está por trás da necessidade de controlar, poderá encontrar as razões do desequilíbrio no ambiente familiar, na história da sua infância, na falta de opções ou de autonomia, na Síndrome do filho do meio ou do filho mais velho, na instabilidade emocional ou física entre tantas outras possibilidades. No entanto, reconhecer, olhar de frente e desvendar sua história, traumas e experiências que levaram a angústia leva ao cultivo da autocompaixão, aqui reconhecemos a importância na Terapia Focada na Compaixão que inclui no processo muitas técnicas de meditação como Mindfulness Based Stress Reduction e Metta Bhavana e outros exercícios que contribuem para desenvolver a empatia, a compaixão e o altruísmo, ensinando ao cliente a amar esta parte de si mesmo que precisa de compaixão e proteção.

Além da Terapia existe algo mais a se fazer?

Não espere que simplesmente tomar consciência que é uma pessoa controladora resolva seus problemas de relacionamentos. Este é apenas um passo de um longo caminho a ser percorrido, assim além da terapia, procure:

·           Adotar novas políticas de comportamento, revisão de suas crenças e mudanças de hábitos negativos ou permissivos;
·           Gerenciar sua ansiedade, leia livros sobre o assunto, procure um profissional para aprender exercícios e técnicas de autocontrole. Aqui reforço a importância da Mindfulness como técnica de controle do stress;
·           Buscar fazer pausas, respirações ou meditações sempre que sentir o medo ou a ansiedade chegando, por isso reforço a importância do autoconhecimento, que permite conhecer seu corpo e as suas emoções e as sutilezas das mudanças. Sem ajuda, não perceberá quando for tomada pelos pensamentos ruminantes ou obsessivos;
·           Identificar e fortalecer laços de amizades com quem possa falar sobre suas necessidades, medos ou ansiedades. Aprenda a ouvir o que elas têm a lhe dizer, compartilhe suas lutas internas e necessidades. Peça ajuda!
·           Participar de grupos de estudos que possam levar ao autoconhecimento, um grupo onde possa trocar experiências;
·           Tomar cuidado em ficar dando conselhos para as pessoas que ama. Reconheça que você não é dona de nenhuma verdade absoluta, que existem outras formas de compreensão das verdades, das experiências. Muitas vezes o “achismo” do que é melhor para o outro é forma disfarçada de controle.
·           Permitir que as pessoas vivam as suas próprias vidas. Amar alguém é dar-lhe liberdade para ser quem é isto inclui aceitação dos erros, mágoas e mesmo das perdas. Deixe que cada pessoa escreva a sua própria história assim como você deve escrever a sua.
·           Prestar muita atenção às suas próprias reações emocionais, permitir que as coisas aconteçam naturalmente, mesmo que o resultado não seja da forma que você deseja, aceitar as imperfeições; respeitar o tempo de cada um, e as leis do Universo, suas crenças, comportamentos e valores. Encontre outras coisas para se concentrar – sua respiração por exemplo.

O que fazer quando tenho uma pessoa controladora na minha vida?

Morar com uma pessoa altamente controladora é muito difícil, não é uma relação meramente tolerável. Muitas vezes e na maioria dos casos não dá para fugir! E podemos encontra-las em qualquer lugar, por isso é muito importante conhecer bem quem escolhemos para compartilhar a nossa vida mesmo que seja um simples colega de quarto num ambiente universitário. Afinal, pessoas com tendências controladoras não têm diagnóstico formal na área da saúde mental. Também é importante saber que esta pessoa necessariamente não está tentando prejudicar propositalmente, não há uma intenção maléfica por trás de suas ações. Na verdade, ela tem uma preocupação exagerada com o bem-estar dos outros, atua com base nas melhores intenções e não tem consciência do seu exagero.

Como são muitos os fatores que podem desencadear o controle, fica difícil saber exatamente qual evento desencadeou o desequilíbrio emocional que levou ao comportamento obsessivo. Vivemos tempos de muitas expectativas sociais, necessidade de mudança comportamental, definições tradicionais que podem desempenhar um papel chave na forma como as pessoas que coabitam um mesmo ambiente vêm uns aos outros. Percepções sociais negativas podem contribuir para desenvolver tensões emocionais.

Como muitas vezes não existe a opção de simplesmente mudar de ambiente, de emprego ou de companheiro, precisamos aprender algumas estratégias para poder coexistir de forma mais saudável possível. Seguem alguns exemplos que espero possam ajudar:

·      Nunca intimide, mas estabeleça limites em bases reais;
·      Não compactue com suas obsessões;
·      Não faça as coisas que você usualmente não faria;
·      Concentre-se em valorizar os aspectos da personalidade do controlador que você realmente aprecia;
·      Comunique suas ideias, pensamentos e sentimentos;
·      Permita que o controlador conheça você, suas necessidades e expectativas sempre que uma oportunidade surgir;
·      Considere indicar um profissional da Saúde Mental;
·      Aprenda estratégias de comunicação mais eficazes;

Lembre-se que ele ou ela não está tentando tornar a sua vida miserável, mas que tomam determinadas atitudes ou comportamentos porque eles mesmos não conseguem encontrar a paz e a plenitude, têm medo, ansiedade e insegurança e não sabem agir de outra forma. Muitos já tinham um comportamento obsessivo na infância que era até admirado e incentivado pela própria família como sendo um comportamento a ser seguido sem perceberem que isto seria danoso quando se tornassem adultos, ninguém planeja ter uma obsessão na vida. Com o tempo este padrão de comportamento pode se tornar arraigado e vai exigir tratamento, coragem, disciplina e persistência para promover as mudanças necessárias. A pessoa controladora preocupa-se demais com os outros, acha que sabe o que é certo e o que é errado, o que pode ou não ser feito, como cada um deve se comportar. Mudar é doloroso, mas não impossível!

Sonia A F Santos – Psicoterapeuta no Espaço Viver com Arte – Campo Belo SP/SP – mais informações pelo e-mail: saleela.devi@gmail.com – atende com hora marcada.

Referencias Bibliográficas:
·      Baker, B. – (2010) How to live with a control freak – London Sheldon Press
·      Parrot, L – (2001) -  The Control Freak – Tyndale House Publishers.








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