Autocompaixão
radical
Amar a si mesmo não é egoísmo, mas uma parte
importante no processo de cura, de desenvolver a coragem para viver a vida de
forma fiel a si mesma.
Mas será que isso é possível? Principalmente em tempos
de crise global, economia mundial abalada, pandemia, vírus, quarentena e tantas
transformações na vida de milhões de pessoas? Será que tem como nos sentirmos
alinhados com o que realmente importa ao nosso coração? Você está neste momento
vivendo fiel a si mesmo? E o que é ser fiel a si mesmo?
Conforme vamos envelhecendo, vamos vivenciando
momentos em que nos arrependemos das coisas que não fizemos, das palavras que
não dissemos, das viagens que nunca se realizaram. Muitas vezes deixamos de
agir de acordo com as nossas verdades devido às inseguranças, baixa autoestima,
falta de autoconfiança ou porque nos preocupamos mais em agradar aos outros,
salvar relacionamentos problemáticos. Então perdemos de vista as nossas
aspirações e intenções mais profundas.
Ser fiel a si mesmo pode entre outros significados ser
amoroso consigo mesmo, viver o momento presente com qualidade e autenticidade. Também
pode significar em ter prazer em liberar a criatividade, acreditar em seus
valores e princípios e fazer aquilo que ama. Então estamos falando em florescer
em cima das próprias vulnerabilidades e conciliar suas ideias com os outros e
com o mundo sem precisar abrir mão de quem realmente somos.
Para isso é preciso aprender a responder em vez de
reagir, trabalhar o autojulgamento e parar de culpar os outros, deixar de ser mesquinho
ou egoísta e também deixar de viver no piloto automático. A cada dia buscar o
que é possível fazer para viver a própria vida sem aquela sensação de fracasso
pessoal.
Esta sensação de fracasso pessoal traz junto o
sofrimento de estar desconectado do mundo ao seu redor, em um sono profundo difícil
de acordar. Acordar para a vida a ser vivida, sem o aprisionamento causado
pelas emoções destrutivas, venenosas e dolorosas. Emoções que nos impedem de
sentir as sensações prazerosas da realização, de percorrer o caminho de volta
para casa, de sentir o amor que promove a cura. Esta é uma verdadeira jornada
de autocompaixão.
Uma metáfora que adoro ensinar nas aulas de meditação,
como um exercício de visualização é a da transformação da lagarta em
borboleta. Ao final de seu processo de
transformação dentro do casulo, ela sai com esforço correto e próprio para
abrir as asas e alçar voos com beleza e plenitude. Um voo de liberdade. Ninguém
diz que esta transformação é fácil e sem dor, ninguém a ajuda. Fechada em seu
casulo, a lagarta aguarda cada fase que em fim a levará uma vida totalmente
diferente. Este mesmo estado de ser onde o convite é reconhecer quem você em
cada momento, permitir que as experiências aconteçam, investigar sem julgar ou
criticar e nutrir-se com sua determinação é uma verdadeira e profunda forma de
meditação.
São quatro passos importantes na jornada – reconhecer,
permitir, investigar e nutrir – e no final encontrar a liberdade que promove a
cura, sem precisar machucar, ferir ou causar sofrimento a ninguém.
Cada um de nós irá dar os passos no seu próprio ritmo,
principalmente em tempos de crise, onde precisamos desenvolver a resiliência
diante do estresse, medo, reatividade, escolhas. E a cada passo desenvolvemos um coração mais
sábio e bondoso. A cada passo despertamos para quem realmente somos.
Mas sempre tem aquele que diz – não tenho tempo suficiente,
para viver este processo. Não vivo sozinho, há interrupções, tarefas,
preocupações em cada esquina. Esta jornada não é feira em um caminho reto. Sim é
verdade, precisamos dar atenção ao que realmente importa, e cada um vai se
sentir pressionado pelas demandas e responsabilidades. Mas quando realmente queremos
curar a nossa vida sem nos sentirmos culpados pelas escolhas que fazemos,
deixando a tristeza profunda que abala as nossas estruturas mais arraigadas,
podemos fazer uma pausa.
E neste momento de pausa atencional voltar toda a
nossa concentração para – reconhecer, permitir, investigar e nutrir quem
realmente somos e aonde queremos chegar. A pausa nos ajuda a sair do transe que
o piloto automático nos coloca e que nos impede de nos transformarmos em seres
livres e fieis a nós mesmos em qualquer momento da vida. Tenha compaixão por si
mesmo, isto não é em absoluto sentir pena se si mesmo ou buscar a simpatia como
alivio para seu sofrimento. É amar-se com dignidade. É encontrar forças e
coragem para então poder sentir compaixão pelos outros e poder servir ao mundo
oferecendo o seu melhor.
Sonia A F Santos – Tsuldrin Dechen
Psicoterapeuta Transpessoal
Analista Junguiana
Instrutora e Terapeuta em Mindfulness & Compassion
Mestranda em Self Compassion para equipe
multidisciplinar em Oncologia
Palestrante
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