terça-feira, 26 de maio de 2020

As qualidades ilimitadas da mente que aliviam o sofrimento




As qualidades ilimitadas da mente que aliviam o sofrimento

Na psicologia budista são consideradas as como qualidades ilimitadas da mente: amor, compaixão, alegria simpática e a equanimidade.

Certa vez, um brâmane veio ao Budha e perguntou como ele poderia entrar na Morada do Divino. Budha disse a ele que isso era possível praticando a bondade sem limites para com todos os seres, praticar compaixão sem limites com todos os seres, levar alegria sem limites na salvação e bondade básica a todos os seres, e praticar a equanimidade sem limites em relação a todos os seres e, seja amigo do inimigo.

Praticando assim o Budha explicou, pode-se transformar os obstáculos da maldade que exulta sobre o infortúnio, a infelicidade e a mente egoísta dos outros.

Reconhecendo as qualidades da mente e praticando com elas, entramos no caminho que nos levará à Morada do Divino, ou também conhecida como a Morada de Brahma.

Em outro sutra, há uma história sobre o Budha manifestando essas qualidades ilimitadas da mente a um aluno brâmane. Havia um monge muito doente, seu corpo estava coberto de feridas supurantes e fedorentas que vazavam pus. Ninguém queria cuidar dele, ele tinha péssima aparência devido ao seu estado e cheirava muito mal.

Budha foi até a cabeceira de sua cama, limpou e cuidou de suas feridas, deu-lhe banhos, apoio e inspiração, meditou e concedeu-lhe os ensinamentos do Dharma. Algum tempo depois, o Budha disse a seus seguidores que, se realmente quisessem servi-lo, deveriam servir aos doentes com bondade, compaixão, alegria e equanimidade sem limites. Budha sabia que ele estava separado de qualquer forma de sofrimento.


Como se pode perceber, estas qualidades ou moradas tem um sabor distintamente budistas, e são:

1 – Metta -   a tradução de metta é bondade. Alguns estudiosos budistas dizem que simpatia (especificamente, "simpatia ilimitada") é uma tradução mais precisa do metta porque Metta deriva da palavra Pali mitta que significa "amigo". O mestre Neem Karoli Baba capturou a essência do metta quando ele disse: "Não jogue ninguém fora do seu coração". Ninguém mesmo, nem aquele político que você não gosta, ou seu vizinho barulhento ou o parente chato. Pense em metta como o simples ato de desejar a bondade para alguém, inclusive você mesmo. A essência da prática de metta é envolver todas as pessoas, todos os seres sencientes ou seja até mesmo os animais.

2 – Karuna – Karuna significa ompaixão, é aquele tipo de tremor do coração em resposta ao sofrimento de outro ser. Como no metta , nós devemos cultivar Karuna tanto para nós mesmos quanto para os outros. Responder com compaixão ao nosso próprio sofrimento – autocompaixão - gera compaixão pelos outros, porque, como disse a professora budista tibetana Pema Chodron, "a tristeza tem exatamente o mesmo gosto por todos nós". E, no entanto, muitos de nós têm dificuldade em cultivar compaixão por nós mesmos. Nós somos nossos próprios críticos mais severos. O mestre zen vietnamita, Thich Nhat Hanh, ensina: "Quando nossa mão esquerda é ferida, nossa mão direita cuida disso imediatamente. Não para dizer: “Estou cuidando de você, mas para beneficia-la com sua compaixão. ”

3 – Mudita – Não há uma tradução para esta palavra.  Diferentemente da compaixão, não somos criados para dar valor à Mudita, que tem o sentido de nos alegrarmos pela alegria dos outros, ou seja, uma alegria empática, esta é a morada celestial da alegria. Assim como o metta é um antídoto para nossas tendências de julgamento, o mudita é o antídoto perfeito para a inveja, pode ser um desafio cultivar mudita.

4 – Upekkha – A tradução da palavra Upekkha é equanimidade. Refere-se a uma mente calma e firme diante dos altos e baixos da vida, mesmo em tempos de pandemia, quarentena que vivemos neste momento. Essa é uma tarefa difícil, porque significa abrir nossos corações e mentes não apenas para experiências agradáveis, mas também para experiências desagradáveis. Resistir a esse último apenas acrescenta nosso próprio estresse ao que já é difícil. Lama Yeshe expressa lindamente a essência da equanimidade: "Se você espera que sua vida seja de alto a baixo, sua mente ficará muito mais pacífica".

Essas qualidades da mente e do coração são inerentes à nossa natureza básica, que o Budismo chama de virtudes universais ou de quatro moradas celestiais sem limites. Cultivando-as diariamente em nossa vida cotidiana, fortalecendo sua presença dentro de nós, vamos paulatinamente tornando-as mais fortes, e elas se transformarão de virtudes em qualidades sem limites. Essas moradas celestiais são como um tesouro incondicional que está sempre disponível para cada um de nós, até na hora da nossa morte.

Gerar essas quatro qualidades é a melhor forma de autocuidado, elas nos conectam com o fluxo contínuo de bondade básica, e este fluxo nos conecta uns aos outros continuamente. São a base qualitativa para o nosso trabalho em estar no presente na hora da morte. Em um sentido ainda mais profundo, o fortalecimento da qualidade de presença de cada uma delas amplia a autocompaixão e a compaixão pelos outros seres.

Podemos praticar cada uma das moradas direcionando a energia dela para nós mesmos, para um benfeitor, um amigo, um ente querido, uma pessoa difícil, para nossos pais e ancestrais, para um desconhecido ou mesmo diretamente para todos os seres sencientes.

Você pode começar por si mesmo e ir expandindo a prática dedicando um tempo a mais na sua prática meditativa, de forma sequencial, a todos os seres que você escolheu, até que no final sinta-se confortável em dedicar estas energias a todos os seres.


Prática Meditativa:

Comece sentando-se quieto em um lugar sereno e dê preferência silencioso o bastante para não se deixar perturbar pelos sons externos se você for um praticante de meditação iniciante. Respire algumas vezes de forma profunda e consciente para relaxar todo o seu corpo. E então comece lembrando quanto sofrimento há no mundo e, quanto gostaria que todos os seres tivessem paz e felicidade. Lembre-se que um dia, mais cedo ou mais tarde, você assim como todos os seres morrerão. Por isso, deseje que todos saibam usar da melhor forma possível a preciosa vida humana. Comprometa-se a se libertar do seu sofrimento e a ajudar os outros seres a livrarem-se do sofrimento.

Descanse sua mente neste espaço vazio, nesta abertura. Traga sua atenção suavemente para a sua respiração, sentindo, observando a inspiração e a expiração, calmamente. Comece praticando consigo mesmo, depois lembre de um amigo, um ente querido que esteja sofrendo. Isso traz abertura ao coração e aprofunda seu compromisso. Na inspiração eu sofro e ofereço uma das moradas. Você pode lembrar e mentalmente dizer uma frase, direcionando sua intenção ao destinatário escolhido. Frases como: “Que você tenha saúde e suas causas”, “Que você tenha paz”, etc. sinta-se aberto e comprometido, preste atenção aos sentimentos e sensações, às emoções que surgem no seu coração e mente durante a prática e se sentir necessidades deixe a prática seguir seu ritmo ou mudar se for preciso. Por exemplo: você pode sentir-se resistindo à inalação do sofrimento. Neste momento mude o foco da sua mente para sentir amor ou compaixão por si mesmo. Pense em frases como: “Que eu tenha paz”, “que eu tenha alegria” etc.

Ao final de um período de prática, descanse novamente na abertura da consciência, convide a sensação da gratidão por estar presente neste momento. Quão raro é abrir-se ao alimento da bondade básica! Dedique então o mérito ou as virtudes conquistadas com a prática para todos os seres em todos os lugares. Não tenha pressa em retornar ao cotidiano. Deixe os movimentos fluírem naturalmente.

Sonia A F Santos - Tsuldrin Dechen




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