As
qualidades ilimitadas da mente que aliviam o sofrimento
Na psicologia budista são
consideradas as como qualidades ilimitadas da mente: amor, compaixão, alegria
simpática e a equanimidade.
Certa vez, um brâmane
veio ao Budha e perguntou como ele poderia entrar na Morada do Divino. Budha
disse a ele que isso era possível praticando a bondade sem limites para com
todos os seres, praticar compaixão sem limites com todos os seres, levar
alegria sem limites na salvação e bondade básica a todos os seres, e praticar a
equanimidade sem limites em relação a todos os seres e, seja amigo do inimigo.
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Reconhecendo as
qualidades da mente e praticando com elas, entramos no caminho que nos levará à
Morada do Divino, ou também conhecida como a Morada de Brahma.
Em outro sutra, há uma
história sobre o Budha manifestando essas qualidades ilimitadas da mente a um
aluno brâmane. Havia um monge muito doente, seu corpo estava coberto de feridas
supurantes e fedorentas que vazavam pus. Ninguém queria cuidar dele, ele tinha
péssima aparência devido ao seu estado e cheirava muito mal.
Budha foi até a cabeceira
de sua cama, limpou e cuidou de suas feridas, deu-lhe banhos, apoio e
inspiração, meditou e concedeu-lhe os ensinamentos do Dharma. Algum tempo
depois, o Budha disse a seus seguidores que, se realmente quisessem servi-lo,
deveriam servir aos doentes com bondade, compaixão, alegria e equanimidade sem
limites. Budha sabia que ele estava separado de qualquer forma de sofrimento.
Como se pode perceber,
estas qualidades ou moradas tem um sabor distintamente budistas, e são:
1 – Metta - a tradução de metta
é bondade. Alguns estudiosos budistas dizem que simpatia (especificamente,
"simpatia ilimitada") é uma tradução mais precisa do metta porque Metta deriva
da palavra Pali mitta que significa "amigo". O mestre Neem
Karoli Baba capturou a essência do metta quando ele disse: "Não jogue
ninguém fora do seu coração". Ninguém mesmo, nem aquele político que
você não gosta, ou seu vizinho barulhento ou o parente chato. Pense em metta como
o simples ato de desejar a bondade para alguém, inclusive você mesmo. A
essência da prática de metta é envolver todas as pessoas,
todos os seres sencientes ou seja até mesmo os animais.
2 – Karuna – Karuna significa ompaixão, é aquele tipo de tremor do
coração em resposta ao sofrimento de outro ser. Como no metta ,
nós devemos cultivar Karuna tanto para nós mesmos quanto para os
outros. Responder com compaixão ao nosso próprio sofrimento –
autocompaixão - gera compaixão pelos outros, porque, como disse a professora
budista tibetana Pema Chodron, "a tristeza tem exatamente o mesmo gosto
por todos nós". E, no entanto, muitos de nós têm dificuldade em
cultivar compaixão por nós mesmos. Nós somos nossos próprios críticos mais
severos. O mestre zen vietnamita, Thich Nhat Hanh, ensina: "Quando nossa
mão esquerda é ferida, nossa mão direita cuida disso imediatamente. Não para
dizer: “Estou cuidando de você, mas para beneficia-la com sua compaixão. ”
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4 – Upekkha – A tradução da palavra Upekkha é equanimidade. Refere-se
a uma mente calma e firme diante dos altos e baixos da vida, mesmo em tempos de
pandemia, quarentena que vivemos neste momento. Essa é uma tarefa difícil,
porque significa abrir nossos corações e mentes não apenas para experiências
agradáveis, mas também para experiências desagradáveis. Resistir a esse
último apenas acrescenta nosso próprio estresse ao que
já é difícil. Lama Yeshe expressa lindamente a essência da equanimidade:
"Se você espera que sua vida seja de alto a baixo, sua mente
ficará muito mais pacífica".
Essas qualidades da mente
e do coração são inerentes à nossa natureza básica, que o Budismo chama de
virtudes universais ou de quatro moradas celestiais sem limites. Cultivando-as
diariamente em nossa vida cotidiana, fortalecendo sua presença dentro de nós,
vamos paulatinamente tornando-as mais fortes, e elas se transformarão de
virtudes em qualidades sem limites. Essas moradas celestiais são como um
tesouro incondicional que está sempre disponível para cada um de nós, até na
hora da nossa morte.
Gerar essas quatro
qualidades é a melhor forma de autocuidado, elas nos conectam com o fluxo
contínuo de bondade básica, e este fluxo nos conecta uns aos outros
continuamente. São a base qualitativa para o nosso trabalho em estar no presente
na hora da morte. Em um sentido ainda mais profundo, o fortalecimento da
qualidade de presença de cada uma delas amplia a autocompaixão e a compaixão
pelos outros seres.
Podemos praticar cada uma
das moradas direcionando a energia dela para nós mesmos, para um benfeitor, um
amigo, um ente querido, uma pessoa difícil, para nossos pais e ancestrais, para
um desconhecido ou mesmo diretamente para todos os seres sencientes.
Você pode começar por si
mesmo e ir expandindo a prática dedicando um tempo a mais na sua prática meditativa,
de forma sequencial, a todos os seres que você escolheu, até que no final
sinta-se confortável em dedicar estas energias a todos os seres.
Prática
Meditativa:
Comece sentando-se quieto
em um lugar sereno e dê preferência silencioso o bastante para não se deixar
perturbar pelos sons externos se você for um praticante de meditação iniciante.
Respire algumas vezes de forma profunda e consciente para relaxar todo o seu
corpo. E então comece lembrando quanto sofrimento há no mundo e, quanto
gostaria que todos os seres tivessem paz e felicidade. Lembre-se que um dia,
mais cedo ou mais tarde, você assim como todos os seres morrerão. Por isso,
deseje que todos saibam usar da melhor forma possível a preciosa vida humana. Comprometa-se
a se libertar do seu sofrimento e a ajudar os outros seres a livrarem-se do
sofrimento.
Descanse sua mente neste
espaço vazio, nesta abertura. Traga sua atenção suavemente para a sua
respiração, sentindo, observando a inspiração e a expiração, calmamente. Comece
praticando consigo mesmo, depois lembre de um amigo, um ente querido que esteja
sofrendo. Isso traz abertura ao coração e aprofunda seu compromisso. Na inspiração
eu sofro e ofereço uma das moradas. Você pode lembrar e mentalmente dizer uma
frase, direcionando sua intenção ao destinatário escolhido. Frases como: “Que
você tenha saúde e suas causas”, “Que você tenha paz”, etc. sinta-se aberto e comprometido,
preste atenção aos sentimentos e sensações, às emoções que surgem no seu
coração e mente durante a prática e se sentir necessidades deixe a prática
seguir seu ritmo ou mudar se for preciso. Por exemplo: você pode sentir-se
resistindo à inalação do sofrimento. Neste momento mude o foco da sua mente
para sentir amor ou compaixão por si mesmo. Pense em frases como: “Que eu tenha
paz”, “que eu tenha alegria” etc.
Ao final de um período de
prática, descanse novamente na abertura da consciência, convide a sensação da
gratidão por estar presente neste momento. Quão raro é abrir-se ao alimento da
bondade básica! Dedique então o mérito ou as virtudes conquistadas com a
prática para todos os seres em todos os lugares. Não tenha pressa em retornar
ao cotidiano. Deixe os movimentos fluírem naturalmente.
Sonia A F Santos - Tsuldrin Dechen
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