terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Mindfulness e Psicoterapia – Perspectivas e Ferramentas



Mindfulness e Psicoterapia – Perspectivas e Ferramentas

Mindfulness quer dizer atenção plena e é uma das técnicas contemporâneas  mais importantes no tratamento de depressão e ansiedade e tem sido exaustivamente estudada em grandes centros universitários de pesquisa. Disto quase todo mundo já sabe. Como técnica de tratamento complementar ela é moderna, mas sua base é muito antiga, sua origem vem da técnica de meditação budista chamada Shamatha (Sânscrito) ou Anapanasati (pali)– primeira fase das técnicas de meditação do Budismo, ambas as palavras significam – atenção plena.

Mindfulness como técnica de tratamento terapêutico começou a ser utilizada nos tratamento de pacientes internados com depressão por Jon Kabat Zinn no School Medicine of Massachusets, com excelentes resultados. Muitos outros estudos sobre a sua aplicabilidade começaram a ser pesquiados abrangendo não só áreas da Saúde Mental e Neurociências mas também outras áreas da  Medicina, além da Educação, Administração e muito mais.

Sabemos que ela tornou-se uma aliada profunda nos tratamentos psicoterapêuticos. Uma ferramenta que pode ser usada tanto na Psicanálise, na Análise Junguiana, nas Terapias Cognitivas Comportamentais, de Aceitação entre outras ampliando os resultados e favorecendo o processo.

Mas o que é Atenção Plena? Costumo dizer aos meus pacientes e alunos que Mindfulness envolve entre muitas outras coisas levar a atenção para o exato momento presente deixando de lado as histórias emoções pensamentos e sentimentos do passado e anseios e angústias quanto ao futuro. Mindfulness significa estar consciente do que está acontecendo exatamente agora.

Sempre podemos, em qualquer lugar que estejamos fazer uma pausa em nossa vida diária. Nesta pausa podemos observar o que estamos fazendo, e como, o que estamos vendo e ouvindo, como estamos respirando, caminhando, dirigindo. E se a mente vaguear traga-a de volta ao momento da pausa. Foque no momento presente, faça disto um hábito! Isto é o começo de uma prática de atenção plena ou Mindfulness. Sem criticas ou julgamento, e com muita gentileza consigo mesmo mantenha-se consciente sobre tudo o que está acontecendo com você no agora, o que quer que seja e não faça dramas mentais, não caia nas armadilhas dos pensamentos ruminantes, não desenvolva discursos mentais. Apenas observe e mantenha-se consciente de tudo o que estiver acontecendo no ambiente ao seu redor.

De vez enquando, durante a prática de Mindfulness, pare para observar a sua postura, o alinhamento da sua coluna vertebral, os pontos do seu corpo que estão tocando o chão ou a cadeira, seus pés, sua roupa, os sons mais pertos e os mais distantes, sua respiração. Esta observação pode levar alguns minutos, segundos, cada um tem seu tempo, leve o tempo que desejar.

Mindfulness é um poderoso antídoto contra as angústias da depressão ou da ansiedade, ela ajuda a controlar e até mesmo a evitar os pensamentos ruminantes ou fantasiosos, os discursos mentais que podem ser intermináveis, inúteis e angustiantes. Evitar estas repetições ajuda a controlar e até curar comportamentos nocivos e prejudiciais. A Psicologia Budista ensina a construir novos padrões de reações a acontecimentos que sejam prejudiciais à saúde física ou mental. Sabemos que as nossas reações são constituídas por associações físicas, mentais e emocionais com a experiência. Por isto muitas de nossas reações ocorrem no piloto automático, agimos como se estivéssemos em transe. Precisamos atuar de forma consciente, porque caso contrário nossas percepções futuras com o resultado se tornam distorcidas, nos habituamos a viver de forma inconsciente, automática, distantes da realidade que nos rodeia (Brazier, 2003). A Psicologia Budista enfatiza a necessidade de sairmos do piloto automático e de estarmos sempre em contato com a realidade.

A prática da Mindfulness pode ser uma poderosa aliada nos tratamentos das dores crônicas como a Fibromialgia, além dos transtornos depressivos. Aliando a prática de Mindfulness com os exercícios de Yoga e os Pranayamas, Jon Kabat Zinn deu um grande impulso no tratamento da dor crônica, permitindo que os pacientes tivessem maior controle sobre a dor, conquistando maior qualidade de vida, mesmo com a dor persistente. A Mindfulness revelou-se importante na redução significativa dos sintomas dos níveis de ansiedade, da frequência dos ataques de pânico e até mesmo nos casos de psoríase.

Segundo Segal, Willians e Teasdale, 2002, pacientes que têm reincidência nos quadros de depressão, criam um link com estados de mau humor, fadiga constante e pensamentos ruminantes e negativos, e neste processo acaba por acionar os demais componentes da depressão. Quando o paciente depressivo pratica com diligência a Mindfulness, eles aprendem a detectar o que está acontecendo e a interromper a sequencia do processo da depressão, melhorando a qualidade do sono, afastando os pensamentos negativos e os demais sintomas, inclusive diminuindo a produção dos hormônios que contribuem para a depressão e o stress.

Para pacientes que sofrem de ataques de pânico ou ansiedade, controle excessivo sobre si mesmo e os outros a Mindfulness também tem sido muito utilizada, pois ela ajuda o paciente a manter-se consciente de tudo o que acontece à sua volta mesmo durante o ataque de pânico, tornando a experiência menos assustadora, a preocupação menos excessiva e uma maior aceitação sobre a própria experiência. Desta forma, o paciente aprende a viver sem evitar locais ou pessoas e situações que normalmente desencadeiam os ataques.

Mindfulness ensina ao praticante que ele tem infinitas escolhas e não um único caminho a ser percorrido, pode adotar outras reações aos eventos do que a forma costumeira e automática de pensar e agir.

Como Psicoterapeuta e Mindfulness Instructor, sei que a técnica não é um placebo ou uma falácia, mas ela também não é a resposta para todos os problemas físicos, mentais ou emocionais. Ela com certeza científica trás grandes benefícios para seus praticantes, mas já conheci pacientes em que ela não produziu nenhum efeito. Pessoas diferentes podem necessitar de diferentes técnicas de Mindfulness ou até mesmo de outra técnica de meditação. Aprendi no consultório que alguns pacientes obtinham melhores benefícios com técnicas de meditação diferentes, outras quando aliavam técnicas de meditação mais conectadas com sua crença religiosa/espiritual tinham um Coping positivo e desta forma apresentava os mesmos benefícios que eu esperava obter aplicando a Mindfulness.

Uma prática meditativa quando executada disciplinada e corretamente não só reduz o stress e seus sintomas, produz relaxamento e revela o que precisa ser feito, acontece, no entanto, que muitas vezes este processo pode ser muito doloroso. Por isto é muito importante, que o terapeuta conheça muito bem e seja ele mesmo um praticante de Mindfulness e também conheça outras técnicas meditativas e Coping, assim ele sabe o que pode esperar como resposta da prática, pode aliar outros exercícios ou mudar de técnica de acordo com a necessidade ou a personalidade do paciente.

Jack Kornfield (2002) também observou que determinados pacientes psiquiátricos, já não conseguem aprender as regras corretas para a prática de Mindfulness, mas podem desenvolver alguma atenção com qualidade, aprendendo a meditação através do Yoga, do Tai Chi, da Jardinagem, práticas que conectem a mente com o corpo, como as práticas de meditação dinâmica.

A importância do terapeuta ou médico conhecer e praticar a Mindfulness se dá, porque o paciente pode trazer ao consultório uma euforia temporária, relato de experiências místicas ou ditas transcendentais, que se não forem adequadamente elucidadas podem fugir à proposta da Mindfulness, afinal sabemos que a prática tem um processo de desenvolvimento da atenção plena, que sempre foi muito bem estudado e esclarecido nos textos da Psicologia Budista. Nenhuma experiência causa algum mal, e ela não dura, mas ela não é o desejo pelo qual se ensina a prática. Por isto é muito importante acompanhar a evolução da prática, através de questionários, acompanhamento dos relatos, sensações e emoções despertadas, além de esclarecer ao paciente que ele não deve valorizar qualquer experiência, desejar experienciá-la novamente, que o efeito irá desaparecer e que não ganhará nada tentando obtê-la de volta. Gosto de incluir a prática de Mindfulness no consultório, seja em grupo ou durante a sessão, desta forma sempre tenho a oportunidade de verificar se a prática está sendo executada corretamente – já vi pessoas dormirem e depois dizerem que meditaram profundamente -  e acompanhar a evolução do desenvolvimento da atenção plena, corrigir problemas posturais ou de respiração ou incluir outros exercícios que ajudem.

Se você gosta de aprender técnicas contemporâneas e deseja incluir Mindfulness, Coping ou outras técnicas de meditação compreenda que é muito importante ter um profissional para acompanhar seu próprio desenvolvimento. Você também deve ser um praticante, desta forma fica mais fácil esclarecer as dúvidas do seu paciente.

Referências:

·      www.meditationandpsychoterapy.org;
·      www.bangor.ac.uk;
·      www.umassmed.edu./cfm
·      www.wildmind.org;
·      Kornfield J, (2002) – A Path with a Heart, Rider, London;
·      Germer C, Siegal R, Fulton P (2005) – Mindfulness and Psychoterapy – The Guildford Press, NY and London;
·      Zinn, J Kabat (1990) – Full Catastrophe Living – N Y

Sonia A F Santos – Psicoterapeuta, Analista Junguiana, Mindfulness Based Therapist, Mindfulness Based stress Reduction (MBSR) Instructor.

Programa de Cursos para Janeiro:

·      Workshop Gratuito – Mindfulness – Dia 9 /01 às 14h
·      Workshop Gratuito de Meditação  - Dia 11/01 às 19h
·      Curso de Formação de Professores de Meditação – Inicio 19/01 (duas turmas em formação tarde e noite)
·      Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR) Nível I (16 e 17/01) e Nível II (30 e 31 de Janeiro) e ainda novas turmas para fevereiro
·      O’Morain, Padraig (2008) Mindfulness as therapeutic tool – Dublin Irish



Para atendimento psicoterapêutico ou inscrições em cursos ou workshops escreva para o e-mail: saleela.devi@gmail.com

Local de Atendimento e Cursos: Espaço Viver com Arte – Campo Belo SP/SP
Estes e outros cursos e palestras podem ser oferecidos em empresas, espaços, outras cidades  e estados






segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Nossa sou controladora e arruíno todas as minhas relações! E agora?



Nossa sou controladora e arruíno todas as minhas relações! E agora?

Algumas pessoas têm a necessidade incessante, inconsciente e exagerada de controlar tudo, não só as atividades do dia a dia, mas o próprio ambiente, seus relacionamentos pessoais e profissionais, e às vezes até a vida de outras pessoas com um apego excessivo e desgastante! Temem o imprevisível e ambíguo, necessitam provar-se e têm medo de perder o controle.

Você conhece alguém assim? Eu sim! E fiquei surpreendida ao ver uma jovem muito bem educada, estudada, comunicativa, linda tentando até controlar o Universo! Olhava constantemente no celular esperando por uma mensagem que não vinha! Enquanto conversávamos ela foi falando das dores no corpo sem causa aparente encontrada pelos médicos, e outros problemas sérios de saúde; percebi o quanto ela somatizava a necessidade de controlar o mundo e as pessoas, principalmente aquelas a quem tanto ama.

Fiquei então pensando - quantas pessoas são assim! Ainda mais agora com tanta tecnologia a nosso dispor, se não bastassem os celulares e a internet; temos ainda vários aplicativos onde podemos saber a onde as pessoas estão, estes aplicativos que só faltam dizer o que estão fazendo. Aja amor para aguentar alguém tão controlador na vida da gente.

Se o ato de controlar é uma reação típica do medo de perder o controle, podemos imaginar a quantidade de energia dispendida na luta árdua de manter o controle de tudo, por isto é comum que estas pessoas não aguentem ficar à mercê das outras pessoas, como psicoterapeuta sei que eventos traumáticos podem ter causado sentimentos de impotência e vulnerabilidade, devido a isto elas controlam de forma inconsciente e desproporcional. Algumas podem ter vivido momentos de perda de controle de suas vidas, talvez dominadas por crenças arraigadas, certezas ambíguas, falsos paradigmas e tudo o que mais desejam é recuperar o controle de suas próprias vidas, provar a si-mesmas que são capazes, que sabem o que querem, que podem mudar por si-mesmas e os outros, outras se sentem vitimas e tudo o que desejam é manter pulso firme das leis do Universo para não permitir que nada mais de ruim lhes aconteça seja em que área da vida for.

Existe uma verdadeira necessidade de controlar e, na cabeça delas, uma necessidade bem fundamentada, e assim elas permanecem voltadas para o mundo externo, afinal focarem no mundo interno as leva ao autoconhecimento e isto dói! Elas precisam encontrar coisas ou pessoas para controlar e, controlam até o comportamento das outras pessoas, com quem andam, namoram, o que fazem ou deixam de fazer, quem pode ou não chegar perto, mantêm regras rígidas sobre as suas próprias rotinas, são extremamente organizadas, e decidem quem pode ou não entrar em seu ambiente particular. Quando o controle chega ao nível doentio podem infligir dor aos seus entes queridos, expô-las ao ridículo, isolá-las ou restringi-las, podem se tornar agressivas, afinal elas sentem uma dor ou uma angústia interna profunda enterrada e não reconhecida.

O controle pode estar relacionado a:

·        Experiências de vida abusivas ou traumáticas;
·        Falta de confiança em si – mesma;
·        Sofrer de ansiedade ou depressão;
·        Tem medo de ser abandonado;
·        Pode ter baixa autoestima;
·        Problemas com suas crenças, valores e até mesmo com sua fé;
·        Perfeccionismo e medo do fracasso;
·        Desequilíbrio emocional ou medo de experimentar emoções dolorosas;
·        Teme desagradar os outros.

Existem muitas formas de exercer o controle sobre os outros:

·        Micro gerenciamento;
·        Na forma de comunicação, vestuário, diversão;
·        Desonestidade;
·        Superproteção;
·        Assédio físico, sexual ou emocional;
·        Ciúme e apego anormal;
·        Paranoia;
·        Narcisismo;
·        Ações Obsessivas;

O excesso de controle pode causar:

·        Transtornos Alimentares;
·        Transtornos Obsessivos Compulsivos Impulsivos (desde abuso de drogas até organização excessiva, arrumação e limpeza);
·        Automutilação;
·        Outros problemas de saúde mental como ansiedade, depressão, stress;

Será que a Psicoterapia pode ajudar?


Quando a pessoa controladora toma consciência de que suas atitudes estão prejudicando seus relacionamentos, sua vida profissional, suas amizades a Psicoterapia pode ser de profunda ajuda. Este processo irá ajudar a desvendar a origem da necessidade de controlar a tudo e a todos. Juntos cliente e terapeuta irão enfrentar os medos e suas angústias, o desequilíbrio emocional, a depressão ou a ansiedade e desenvolver as estratégias adequadas para o enfrentamento que pode incluir o coping espiritual/religioso. Durante o processo psicoterapêutico a autoconsciência e o autoconhecimento irão aumentar e isto irá contribuir para o abandono da necessidade de controlar e de jogar com as situações para se obter o que deseja.

Na terapia, o cliente irá identificar o que está por trás da necessidade de controlar, poderá encontrar as razões do desequilíbrio no ambiente familiar, na história da sua infância, na falta de opções ou de autonomia, na Síndrome do filho do meio ou do filho mais velho, na instabilidade emocional ou física entre tantas outras possibilidades. No entanto, reconhecer, olhar de frente e desvendar sua história, traumas e experiências que levaram a angústia leva ao cultivo da autocompaixão, aqui reconhecemos a importância na Terapia Focada na Compaixão que inclui no processo muitas técnicas de meditação como Mindfulness Based Stress Reduction e Metta Bhavana e outros exercícios que contribuem para desenvolver a empatia, a compaixão e o altruísmo, ensinando ao cliente a amar esta parte de si mesmo que precisa de compaixão e proteção.

Além da Terapia existe algo mais a se fazer?

Não espere que simplesmente tomar consciência que é uma pessoa controladora resolva seus problemas de relacionamentos. Este é apenas um passo de um longo caminho a ser percorrido, assim além da terapia, procure:

·           Adotar novas políticas de comportamento, revisão de suas crenças e mudanças de hábitos negativos ou permissivos;
·           Gerenciar sua ansiedade, leia livros sobre o assunto, procure um profissional para aprender exercícios e técnicas de autocontrole. Aqui reforço a importância da Mindfulness como técnica de controle do stress;
·           Buscar fazer pausas, respirações ou meditações sempre que sentir o medo ou a ansiedade chegando, por isso reforço a importância do autoconhecimento, que permite conhecer seu corpo e as suas emoções e as sutilezas das mudanças. Sem ajuda, não perceberá quando for tomada pelos pensamentos ruminantes ou obsessivos;
·           Identificar e fortalecer laços de amizades com quem possa falar sobre suas necessidades, medos ou ansiedades. Aprenda a ouvir o que elas têm a lhe dizer, compartilhe suas lutas internas e necessidades. Peça ajuda!
·           Participar de grupos de estudos que possam levar ao autoconhecimento, um grupo onde possa trocar experiências;
·           Tomar cuidado em ficar dando conselhos para as pessoas que ama. Reconheça que você não é dona de nenhuma verdade absoluta, que existem outras formas de compreensão das verdades, das experiências. Muitas vezes o “achismo” do que é melhor para o outro é forma disfarçada de controle.
·           Permitir que as pessoas vivam as suas próprias vidas. Amar alguém é dar-lhe liberdade para ser quem é isto inclui aceitação dos erros, mágoas e mesmo das perdas. Deixe que cada pessoa escreva a sua própria história assim como você deve escrever a sua.
·           Prestar muita atenção às suas próprias reações emocionais, permitir que as coisas aconteçam naturalmente, mesmo que o resultado não seja da forma que você deseja, aceitar as imperfeições; respeitar o tempo de cada um, e as leis do Universo, suas crenças, comportamentos e valores. Encontre outras coisas para se concentrar – sua respiração por exemplo.

O que fazer quando tenho uma pessoa controladora na minha vida?

Morar com uma pessoa altamente controladora é muito difícil, não é uma relação meramente tolerável. Muitas vezes e na maioria dos casos não dá para fugir! E podemos encontra-las em qualquer lugar, por isso é muito importante conhecer bem quem escolhemos para compartilhar a nossa vida mesmo que seja um simples colega de quarto num ambiente universitário. Afinal, pessoas com tendências controladoras não têm diagnóstico formal na área da saúde mental. Também é importante saber que esta pessoa necessariamente não está tentando prejudicar propositalmente, não há uma intenção maléfica por trás de suas ações. Na verdade, ela tem uma preocupação exagerada com o bem-estar dos outros, atua com base nas melhores intenções e não tem consciência do seu exagero.

Como são muitos os fatores que podem desencadear o controle, fica difícil saber exatamente qual evento desencadeou o desequilíbrio emocional que levou ao comportamento obsessivo. Vivemos tempos de muitas expectativas sociais, necessidade de mudança comportamental, definições tradicionais que podem desempenhar um papel chave na forma como as pessoas que coabitam um mesmo ambiente vêm uns aos outros. Percepções sociais negativas podem contribuir para desenvolver tensões emocionais.

Como muitas vezes não existe a opção de simplesmente mudar de ambiente, de emprego ou de companheiro, precisamos aprender algumas estratégias para poder coexistir de forma mais saudável possível. Seguem alguns exemplos que espero possam ajudar:

·      Nunca intimide, mas estabeleça limites em bases reais;
·      Não compactue com suas obsessões;
·      Não faça as coisas que você usualmente não faria;
·      Concentre-se em valorizar os aspectos da personalidade do controlador que você realmente aprecia;
·      Comunique suas ideias, pensamentos e sentimentos;
·      Permita que o controlador conheça você, suas necessidades e expectativas sempre que uma oportunidade surgir;
·      Considere indicar um profissional da Saúde Mental;
·      Aprenda estratégias de comunicação mais eficazes;

Lembre-se que ele ou ela não está tentando tornar a sua vida miserável, mas que tomam determinadas atitudes ou comportamentos porque eles mesmos não conseguem encontrar a paz e a plenitude, têm medo, ansiedade e insegurança e não sabem agir de outra forma. Muitos já tinham um comportamento obsessivo na infância que era até admirado e incentivado pela própria família como sendo um comportamento a ser seguido sem perceberem que isto seria danoso quando se tornassem adultos, ninguém planeja ter uma obsessão na vida. Com o tempo este padrão de comportamento pode se tornar arraigado e vai exigir tratamento, coragem, disciplina e persistência para promover as mudanças necessárias. A pessoa controladora preocupa-se demais com os outros, acha que sabe o que é certo e o que é errado, o que pode ou não ser feito, como cada um deve se comportar. Mudar é doloroso, mas não impossível!

Sonia A F Santos – Psicoterapeuta no Espaço Viver com Arte – Campo Belo SP/SP – mais informações pelo e-mail: saleela.devi@gmail.com – atende com hora marcada.

Referencias Bibliográficas:
·      Baker, B. – (2010) How to live with a control freak – London Sheldon Press
·      Parrot, L – (2001) -  The Control Freak – Tyndale House Publishers.








quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Samatha Vipassana ou Metta Bhavana - Qual a diferença?






Aprendendo a diferença entre –
Samatha, Vipassyana e Metta Bhavana

O Budismo tem várias técnicas de Meditação, técnicas que evoluem conforme o nível do praticante, sua dedicação e disciplina. A técnica mais indicada para iniciantes é a meditação Samatha (Sânscrito) ou Anapanasati (Pali) – ambas as palavras querem dizer Atenção Plena – alguns dos objetivos da técnica Samatha é o desenvolvimento da atenção plena, foco e concentração da mente, que no Budismo recebe o nome de Jhana ou Appana (absorção). Segundo os ensinamentos de Ajhaan Thanissaro, o Dhammapada menciona:

“Não existe concentração (Jhana), sem sabedoria (panna) e não existe sabedoria sem concentração. Aquele que tem ambos, concentração e sabedoria, está mais próximo de Nibbana” (Dhp 372)

Para o Mestre alguns meditadores indicam que ter concentração (Jhana) é uma condição para a sabedoria, enquanto outros meditadores indicam que a sabedoria é uma condição para a concentração, mas na prática tanto a sabedoria como a concentração se suportam mutuamente.

A Samatha é uma técnica de meditação com objeto – quando a mente do praticante está totalmente centrada no objeto escolhido, a mente está no estado de Appana. A mente não se distrai, não divaga nem se perde nos pensamentos ruminantes, desta forma ela fica livre de todos os tipos de obstáculos ou os chamados venenos na Psicologia Budista: desejo sensual, raiva/apego, ódio/aversão, preguiça/torpor, preocupações/inquietudes, remorso/duvida cética.

E quais são os benefícios da prática da Samatha?

Ou a pergunta poderia ser – quais são os benefícios da concentração ou atenção plena? Uma mente profundamente centrada é livre de todos os tipos de ruminações e obstáculos mentais. Isto não significa que o praticante fica livre de problemas, mas ele consegue manter um estado de paz e plenitude quando está com a mente concentrada no objeto de meditação que escolheu para a sua prática. Ainda podemos citar a redução do Stress e seus sintomas tanto físicos, mentais como emocionais, possibilita fazer melhores escolhas levando em consideração as nossas próprias falhas; melhora a função cognitiva; diminuem as sensações das dores crônicas; provoca mudanças na estrutura cerebral entre outros benefícios.

Em resumo poderíamos dizer que a Samatha produz um estado de tranquilidade ou calma, porque a Samatha treina a mente para ficar concentrada em um único objeto.
O objetivo desta prática inicial é ensinar o aluno a atingir uma profunda concentração, mas isto não significa que o praticante possa perceber com clareza os processos mentais e corporais em sua verdadeira natureza. Isto acontece porque o praticante de Samatha não se torna capaz de perceber o aparecimento e o desaparecimento de todos os fenômenos mentais emocionais e físicos, e desta forma ele não consegue destruir as contaminações por elas provocadas.

Para destruir estas contaminações é preciso aprender as características da existência e assim conhecer os processos do corpo e da mente. São consideradas impurezas mentais ou contaminações, por exemplo: ganância, paixão, desejos, raiva, ódio/aversão entre outras. E sem destruir tais impurezas torna-se difícil o praticante livrar-se de todos os tipos de sofrimentos, ou seja, mesmo sendo um praticante de meditação Samatha ele ainda estará mergulhado no oceano de sofrimentos.

Um praticante de meditação avançado que já aprendeu outras técnicas se tornará capaz de destruir estas impurezas mentais porque aprenderá sobre Anicca, Dukkha e Anatta, ou seja, sobre a impermanência, sofrimento e a natureza do processo do corpo e da mente, mesmo que não consiga destruir todas estas contaminações; aprenderá a manter-se em estado de paz e felicidade.


Diferença entre Samatha e Vipassyana

Quando um praticante de meditação avança no seu treino mental para a concentração, ele pode mudar para uma técnica um pouco mais avançada, que a Vipassyana. Qualquer processo físico mental ou emocional será então o objeto de meditação da meditação Vipassyana utilizando a concentração já desenvolvida pela Samatha. Portanto a Samatha precede a Vipassyana. E a Vipassyana é a técnica primordial utilizada para destruir as contaminações. Quando temos dificuldade em nos mantermos concentrados e focados, temos que primeiro centrar a mente por meio da técnica da Samatha antes de irmos para a Vipassyana, pois para praticá-la é muito importante estarmos em concentração profunda para podermos observar todos os processos que surgem no corpo e/ou na mente e como este processo esta ocorrendo ou provocando.

A Vipassyana também é uma técnica de meditação com objeto, através dela podemos alcançar a Nibbana ou liberação, porque desenvolvemos a capacidade de compreender a nossa verdadeira natureza e os processos mentais e corporais. Porém este desenvolvimento exige comprometimento, disciplina e perseverança na prática, que pode demorar anos para se tornar pura. A Vipassyana deve ser baseada na mente profundamente concentrada. É preciso compreender muito este requisito, pois muitas pessoas alegam ensinar a meditação Vipassyana, mas na verdade estão ensinando a Samatha.

A prática da Vipassyana também exige estudo e acompanhamento de um professor ou instrutor de meditação, porque muitas vezes durante a prática podem surgir na mente imagens indesejáveis, que podem causar medo ou repulsa. Quando o praticante tem um professor acompanhando seu desenvolvimento de Vipassyana ele desenvolve a confiança em si mesmo, desta forma a pratica não pode causar dano algum à sua mente ou corpo. O praticante pode enfrentar qualquer imagem mental, seja ela boa ou ruim, porque sabe que esta imagem é apenas produto da sua mente. Uma mente inquieta pode produzir imagens baseadas nas memorias, conceitos ou concepções, mas seja lá o que for, não é necessário dar forças para nenhum tipo de medo ou inseguranças. O praticante sério não faz julgamentos ou críticas, apenas observa e faz anotações mentais para observar posteriormente se necessário, e deixa a imagem desaparecer.

E o que é Metta Bhavana?

No desenvolvimento da prática meditativa o praticante vai se tornando naturalmente mais bondoso ou compassivo.  A bondade amorosa surge para com todos os seres no mundo, surge também o intenso desejo de ver todos os seres vivendo em paz e felizes. Metta Bhavana é a prática meditativa da bondade amorosa que surge naturalmente nos praticantes sérios de meditação, tornando-os mais calmos, amorosos, centrados e felizes. Isto porque tanto uma prática da Samatha como a da Vipassyana torna a mente mais calma e concentrada, dominando os pensamentos ruminantes ou fantasiosos.

A prática da meditação Metta Bhavana ou Loving Kindness (Bondade Amorosa) nos ajuda a compreender que todos os seres sofrem, passamos então a desejar que todos os seres sem julgamentos ou distinções fiquem livres dos sofrimentos.

Referência:
·      www.acessoinsight.net/arquivo_textos_theravada/jhanas