“Este é o
caminho de convergência para a purificação dos seres, para a superação da
tristeza e lamentação, para acabar com a dor e a depressão, para alcançar o
caminho verdadeiro, isto é, os quatro estabelecimentos da atenção plena” – Budha –
47.18 Brahma Sutta
Uma Breve
História:
A Índia e a religião hinduísta são o berço de
quase todas as tradições contemplativas orientais. O Yoga (palavra sânscrita
que significa – reunir, religar) aplica um vasto leque de práticas
contemplativas desenvolvidas justamente para unir a alma (Atman) com o Supremo
(Brahman). São identificadas quatro
escolas de Yoga:
·
Jnana Yoga (Yoga do Saber);
·
Bhakti Yoga (Yoga da Devoção);
·
Karma Yoga (Yoga da Ação);
·
Raja Yoga (Yoga Real)
O sábio Patanjali sintetizou os ensinamentos
do Yoga nos conhecidos “Sutras de Patanjali” que contêm oito Angas, todo um
conjunto de ensinamentos que que visa levar o praticante de Yoga a uma estágio
evoluído de meditação até chegar ao Samadhi (ultimo Anga).
Além do Yoga, ainda temos os ensinamentos dos
Vedas e do Vedanta que motivam a pratica meditativa com inúmeros Rish’s
motivando a meditação como forma de estabelecer a sua união com o Absoluto
Brahman. Muitos deles tornaram-se conhecidos do Ocidente como por exemplo
Vivekananda, Yogananda, Osho, Ramana Maharishi e Maharishi Mahesh.
Encontramos práticas contemplativas também no
Taoísmo, que tem como base o desenvolvimento harmonioso entre os seres humanos
e o mundo (o chão da existência) que permanece o mesmo depois que todos os
objetos sejam extintos. A terra da existência, o sistema de mundo e o método
para se alcançar esta harmonia podem ser compreendidos quando se estuda o termo
chinês Tao.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQttZFj6zy-LRqAQ44MoF7rKZHqd1Df5xQ_VP0IeJdFbW7B64NlDqRrN163rlaw9pGiMtO396BHYydHsz9fIjR5_cemEfMGPjc4_K6yLQZv9O8wzyFJKCHqidrtFcpIoDSJdFJk9H83_U/s1600/mind+2.jpg)
Os ensinamentos da atenção plena formam a
base para a compreensão intelectual do Dhamma, eram considerados muito
importantes e todo discípulo deveria saber aplicá-los nos momentos mais
significativos. Mindfulness protege os sentidos, dotando o praticante da
meditação com prudência, dignidade e introspecção, desta forma não mais se
permite ser tomado repentinamente pelos sentidos, desejos tentadores e outras
distrações que levem a consciência para longe do momento presente. A atenção
plena mantem a mente nas ações propositais e apropriadas moldadas no tempo e no
lugar. A atenção plena é a base de todos os tipos de meditação budista, e é uma
forma de refinada de consciência que distingue os níveis mais elevados de
Samadhi – ou estados mais elevados de consciência. Mindfulness torna-se o
combustível que nos permite compreender a impermanência e a causalidade, as
permutações e transformações que ocorrem no cotidiano. Por isso, quando o
indivíduo torna-se aperfeiçoado na prática de Mindfulness ele adquire uma
qualidade inalienável de sabedoria realizada, ele passa a viver sempre atento e
centrado.
Os estudiosos dos ensinamentos budistas logo
observam a onipresença da atenção plena no Dhamma, da mesma forma que o sal é
onipresente no oceano. A prática da atenção plena começa com a meditação
Anapanasati (em Pali) ou Shamatha (Sânscrito), e é próxima ou quase idêntica a
prática da Vipassyana ou a meditação do discernimento “insight”. Os
ensinamentos estão presentes no Theravada Satipathana Sutta, escrito a mais de
vinte séculos e considerado como o Sutta mais importante em todo o cânone Pali.
“O discurso
mais importante já dado pelo Budha no desenvolvimento mental é chamado de
Satipatthana sutta” Maurice Walshe – The Long Discourses of the Budha
“O Satipatthana Sutta é considerado por todos
os budistas justamente a parte mais importante de todo o Sutta e a quinta essência
do Pitaka e de toda a pratica da meditação” Bhikku Nyanatiloka – Caminho da
Entrega pg 123
Existem centenas de cópias dos manuscritos
sobre meditação em vários mosteiros, tornando o Satiphattana Sutta o livro mais
influente e amplamente lido sobre meditação, e é o aspecto chave para a
evolução da meditação Vipassyana Theravada contemporânea. Assim desde o
princípio dos ensinamentos do Budha, as técnicas de meditação Shamatha e Vipassyana
não podem ser divididas, uma é evolução da outra. Existem diferenças sutis na
ênfase das diversas escolas budistas.
Enquanto Shamatha atua no desenvolvimento da
atenção plena, foco e concentração, a Vipassyana atua como uma técnica
meditativa que desenvolve o discernimento é uma técnica profundamente
intelectual que visa dar ao praticante um discernimento direto sobre as
verdades do corpo, sentimentos, consciência e os objetos da mente (Heinze,
1990).
Mas além destas duas importantes técnicas
budistas, surgiu ainda a técnica do Zen com Bodhidharma (China) e mais tarde
profundamente estudada e ensinada no Dogen (Japão – Escola Soto Zen), que
também é uma técnica passiva, qie pode ser praticada sentada ou andando
(Kinhin), com regras claras e bem definidas de execução que possibilita o
alcance do Satori - uma repentina experiência consciente sobre a natureza da realidade
(Watts, 1989).
Mas afinal o
que é Mindfulness?
Mindfulness é uma técnica meditativa que
permite que mudemos profundamente o nosso relacionamento com a nossa mente -
pensamentos e sentimentos. Começa com um estado temporário de atenção plena que
é acessível para qualquer pessoa, de qualquer idade e crença religiosa, estado
este que pode se desenvolver com um conjunto de características permanentes
para quem pratica com disciplina e diligência diária.
É uma técnica que exige um esforço para
manter a mente em observação constante a algo que ocorre (Objeto da meditação),
como o foco especial sobre uma experiência interior (como a respiração, por
exemplo), sem avaliar, julgar ou participar. Muitos dos nossos processos
mentais e emocionais têm como base a cognição e as partes inalienáveis de
nossos “eus”. Nós nos vemos como pessoas que são capazes de sentir raiva, de
não querer perder a paciência, ficamos deprimidos ou ansiosos, paranóicos ou
tristes. Uma prática disciplinada da Mindfulness permite que a pessoa descubra
as falsidades ou inverdades por trás destes sentimentos e pensamentos. Ao invés
de ficarmos deprimidos podemos aprender a perceber quando e como a depressão
nos atinge, o que nos leva ao quadro depressivo, aprendemos a lidar
objetivamente com os momentos de dor ou a nos livrarmos definitivamente deles,
não precisamos nos tornar escravos de nossos pensamentos, sentimentos ou
emoções destrutivas.
Uma terapia baseada em Mindfulness permite o
desenvolvimento da percepção imediata da experiência em contrate com as
terapias mais tradicionais racionais ou emotivas e cognitivas que tentam
transmitir a percepção a partir do terapeuta para o cliente. Desta forma, as
terapias baseadas em Mindfulness começam a serem vistas como um valioso
complemento a outras técnicas psicoterapêuticas e psiquiátricas, tornando-se um
instrumento poderoso na caixa de ferramentas do terapeuta e até mesmo do médico
e outros cuidadores.
Foi uma técnica que começou a milênios e que
chegou ao momento presente como uma verdadeira tecnologia de atenção plena como
uso terapêutico, com referencia de pesquisas empíricas sobre seus múltiplos
benefícios, que já saíram do campo da saúde mental, chegaram à saúde física e
alcançou a educação e o mundo corporativo.
Algumas
noções básicas:
A forma mais simples de praticar Mindfulness
é através da observação da respiração. Escolher um local, sentar-se confortável
e corretamente (a postura é importante, para que a pessoa não adormeça) e
manter-se focado na respiração é parte da prática meditativa. Mas qualquer
pessoa que tente fazer este exercício simples vai logo perceber o quanto é
extraordinariamente difícil. Parece simples, fácil, mas não é! Por quê? Porque
a mente foge, vagueia imersa na corrente de pensamentos ruminantes ou
fantasiosos, ela faz tudo menos simplesmente observar a experiência da
respiração. E é justamente esta tensão que fica entre a intenção e distração que
a pratica correta da Mindfulness procura resolver desenvolvendo a habilidade de
estar atento e poder escolher. Faça a experiência – sente-se por alguns minutos
apenas, sem fazer nada, apenas respire, apenas concentre toda a sua atenção na
respiração natural e sem esforço e observe como se sente enquanto simplesmente respira
sem fazer nada. É muito comum que surjam muitos pensamentos e diferentes sensações,
também é comum que o praticante se sinta entediado, acreditando que está
perdendo tempo, que nada está acontecendo de fato, já vi pessoas dormirem! Mas
existe um recurso, quando o tédio surgir, pare de respirar! Aperte o nariz,
feche a boca! E com certeza você vai
querer respirar intensamente (Kabat Zinn, 1990).
Se você fez o exercício, percebeu duas
coisas: 1) a dificuldade de não fazer nada e, 2) a descoberta que você não tem
controle sobre a sua atenção como acreditava ter!
Quer fazer outra experiência? Sente-se por
uns três minutos, sem fazer nada, apenas observando a respiração. Note que do
nada irão surgir pensamentos, emoções ou sensações, algo como: O que vou comer
depois? Que tédio ficar aqui sentado? Onde está o meu celular? Ou outro
pensamento qualquer. Mas o que é importante é que você não deve dar vazão a
estes pensamentos, não pense na comida, ou no celular, não se levante, não
desista, apenas reconheça o que está acontecendo, anote mentalmente e deixe de
lado voltando a sua atenção para a experiência da respiração. Esta tríade –
observar/reconhecer/observar – que é o coração de uma prática de Mindfulness.
Referência:
· A History of
Mindfulness – Bhikku Sujato
· Full
Catastrophe Living – Jon Kabat Zinn
· Mindfulness:
History, Technologies, Research and Aplications – Luis F M Knight
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidiXzWugQpwP4e5_Db8h3LUPUUnyvzdrIKE84MVs5NzBkr6kz9XJ3zrBbk91Vv0nQkgI0dD9CKLtMhA85Be2SuTU9cG6QYdXX-RQK9CGGr7uCGVif53kpFkUD-hDR1WTatWZLS4cYhTFs/s1600/marque_consulta.gif)
Leve
Mindfulness para seu espaço, empresa, cidades/estados – Informe-se a respeito!
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