quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Real mas não verdadeiro!



Real mas não verdadeiro!

"Simplesmente deixe a experiência acontecer muito livremente, para que o seu coração aberto seja impregnado com a ternura da verdadeira compaixão."
~ TSOKNYI RINPOCHE

Real mas não verdadeiro é uma frase de impacto para momentos em que vivenciamos uma emoção forte. Ela foi ensinada por Tsoknyi Rinpoche, Professor do Dharmma e de meditação e autor de vários livros como: Open your Heart, Open your MInd,  Carefree Dignity.

Na vida cotidiana, todas as nossas experiências sejam elas boas ou ruins são moldadas por nossas crenças, e Gandhi já falava como as nossas crenças se tornam nossos pensamentos e emoções, estes por sua vez estão diretamente conectados aos nossos hábitos e comportamentos, que por sua vez determinam o caminho que estamos trilhando. E na maioria das vezes este caminho vem cheio de obstáculos que nos causam algum tipo de sofrimento.

E quando estamos sofrendo nos perdemos em meios aos pensamentos e emoções, fortalecidos pelas nossas crenças, assim tendemos a acreditar em algo que não é verdade, como por exemplo acreditar que nós ou os outros não temos merecimento, ou que somos maus, que nada dá certo!

Ao invés de fazermos uma pausa intencional, e observarmos nosso coração as nossas emoções e os nossos pensamentos e responder ao que acontece no momento presente, ficamos observando a vida com uma visão interpretativa que nos separa.

O Mestre Rumi (Mestre Sufi 1207 – 1273) ensina:

Eu devo ter sido incrivelmente simples, bêbado ou insano, 
entrar em minha própria casa e roubar dinheiro, 
escalar minha própria cerca e pegar meus próprios vegetais. 
Mas não mais. Eu me livrei daquele punho ignorante 
que estava beliscando e torcendo meu eu secreto. 
O universo e a luz das estrelas vêm através de mim. 
Eu sou a lua crescente colocada 
sobre o portão do festival.

 Este verso revela o quanto entramos com facilidade no transe das crenças limitantes, e prejudicamos a nós mesmos com nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Mas quando olhamos para dentro, para o nosso coração, notamos que estas crenças dualistas não existem, não há espaço para elas.

Tsoknyi Rinpoche, escreveu a frase: Real, mas não verdadeiro! Que significa que enquanto os pensamentos estão realmente acontecendo (sejam eles bons ou maus) e há uma bioquímica que os acompanha, eles são na verdade apenas representações mentais das nossas crenças, que aumentam de intensidade virando verdadeiras ruminações ou fantasias quando estão acompanhadas das emoções. Mas estes pensamentos não são as experiências do momento presente, da mesma forma que um “mapa não é o território” que ele representa, os nossos pensamentos não são a realidade.

O que Tsoknyi está nos ensinando é que as nossas crenças alimentam o nosso senso de separação, e é este senso que nos mantém distante da felicidade genuína. Não gostamos ou muitas vezes preferimos não buscar alguma forma de transformar as nossas crenças, investigar é difícil, no começo pode nos causar até um sofrimento, mas é muito importante conhecer este véu que na filosofia indiana é conhecido como o véu de Maya (Ilusão) que nos impede de enxergar a realidade. Uma das técnicas usadas na Psicologia Budista é a Shamatha (Atenção Simples), porque ela permite que possamos ver além das crenças, emoções e pensamentos, a ver o momento presente, sem julgamentos ou críticas e com aceitação da realidade que se apresenta.

Podemos então investigar de duas formas:

·               Desenvolvendo interesse e qualidade da mente atenta para o que está acontecendo e penetrando camada por camada da crença limitante ou;
·               Desenvolvendo a atenção plena (Mindfulness) indo diretamente ao encontro do que surge com qualidade de presença plena, escuta atenta e incorporada.

No processo de investigar as crenças limitantes perguntamos: Eu acredito em que? Como esta crença ou esta emoção está afetando a minha vida? Ao invés de temer o sofrimento, vamos ao encontro dele, isto permite a abertura para a autocompaixão que por sua vez nos leva a outras perguntas: Do que eu realmente mais preciso? O que me proporcionaria a cura deste sofrimento? Como seria a minha vida se eu não tivesse esta crença? Como seria a minha vida se eu tivesse maior controle sobre as minhas emoções?

Na medida em que com esforço e disciplina praticamos Mindfulness (Atenção Plena) e Loving Kindness (Bondade Amorosa), desenvolvemos as qualidade de atenção simples e compaixão, qualidades que enfraquecem o poder da ilusão, dos pensamentos e emoções quando eles começam a surgir, e desta maneira passamos a enfraquecer o poder da crença limitante.

As pausas intencionais nos ajudam a gradualmente abrirmos mais espaço em nossa mente, adquirimos a clareza mental e um estado de bem-estar no qual os chamados do coração conseguem se fazer ouvir, desenvolvemos então a compaixão que promove a cura em nós e no mundo ao nosso redor.

Adaptado da palestra da Professora de Psicologia Budista e Meditação Tara Brach de 1 de junho de 2016 – Real mas não verdadeiro: libertando-nos das crenças prejudiciais.

Sonia A F Santos – Professora de Psicologia Budista e Meditação, Instrutora e Terapeuta em Mindfulness e Compaixão. Coordena cursos na área, e facilitadora do Círculo de Meditação no Instituto Casa do Encontro onde atende com Psicologia Transpessoal e Análise Junguiana com hora marcada. Palestras, retiros, cursos e workshops, podem ser oferecidos em outros espaços e cidades. Mindfulness Work para empresas e escolas.

Contato:
Tel. (11) 99463 5825
Instagram: saleela_devi



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